Dilma, Lula e as intrigas da mídia

 

Nem a ombudswoman da Folha, Suzana Singer, aguentou tantas futricas e intrigas dos colunistas de aluguel do tucanato para jogar Dilma Rousseff contra Lula. 

Nem a ombudswoman da Folha, Suzana Singer, aguentou tantas futricas e intrigas para jogar Dilma Rousseff contra Lula. Nos últimos dias, vários “calunistas” de aluguel do tucanato destilaram veneno para inventar uma grave crise entre a presidenta e o ex-presidente. Talvez movidos pelas recentes pesquisas, que apontam a possibilidade de reeleição de Dilma Rousseff já no primeiro turno em outubro próximo, eles resolveram jogar na divisão do campo governista. A Folha tucana liderou a campanha de fofocas, o que levou sua ombudswoman a criticar a cobertura. Para ela, o jornal abusou de declarações “off the record”, com base no anonimato e no sigilo da fonte, para instigar a cizânia. Vale conferir o seu artigo:


Na segunda-feira (24), a Folha informava na capa que o ex-presidente Lula anda criticando o governo Dilma em conversas com políticos e empresários. Lula teria dito que confia na reeleição de sua ex-ministra, mas que ela precisa mudar em 2015. A atual equipe econômica estaria com o "prazo de validade vencido".

A reportagem foi toda construída com declarações "off the record" ("fora dos registros"), feitas em condição de anonimato a pedido dos entrevistados. São citados "interlocutores do mundo político e empresarial", pessoas da "equipe de Lula" e um "amigo próximo do ex-presidente" (http://folha.com/no1416735).

O segundo destaque de política, nesse mesmo dia, eram as preocupações de empresários com o intervencionismo na economia e com a formação do ministério de um eventual novo mandato de Dilma. Mais uma vez, tudo "off the record". Os anônimos eram "líderes do agronegócio", "o dirigente de uma grande indústria", "banqueiros de peso" e "empreiteiros" (http://folha.com/no1416741).

Declarações anônimas são um instrumento importante do jornalismo, porque, muitas vezes, não há outra forma de obter uma informação valiosa. Só que seu uso não pode ser banalizado, deve ser um último recurso da reportagem.

Quando dá espaço a vozes sem dono ou crava uma informação baseada em "a Folha apurou...", o jornal está exigindo um voto de confiança do leitor. É como se dissesse: "Não posso contar quem afirmou isso nem como consegui o dado, mas está correto, acredite".

A informação "off the record" costuma ser negada no dia seguinte e aí o jornal garante que as fontes são "seguras". No caso das críticas de Lula a Dilma, na própria segunda-feira, a presidente gentilmente mandou a Folha parar de fazer fofoca: "Eu acho que vocês podem tentar de todas as formas criar qualquer conflito, barulho ou ruído entre mim e o presidente Lula, que vocês não vão conseguir".

O ideal é que a declaração anônima seja o ponto de partida de uma apuração maior, que o repórter busque documentos e entrevistas que comprovem o que foi dito. Nas reportagens sobre as ressalvas à gestão Dilma, dá para entender a dificuldade de convencer o entrevistado a mostrar a cara, mas é inegável que textos assim, sem nenhum nome citado, parecem intriga.

Para diminuir essa má sensação, o jornal deveria explicar por que aceita reproduzir declarações de gente invisível. Algo na linha "a Folha aceitou o anonimato porque os empresários temem represálias do governo" ou "a Folha ouviu quatro petistas e dois banqueiros, que não revelaram seus nomes porque Lula pediu sigilo nas conversas".

Aposto que, se exigir que o "off" seja justificado, o jornal constatará que ele é, muitas vezes, dispensável. A presença de anônimos deveria reduzir-se ao mínimo necessário.

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Apesar das ponderadas críticas da ombudswoman, a Folha não fez qualquer autocrítica e manteve sua linha de “intrigas”. O mesmo ocorreu em outros veículos.

A coluna de futricas de Felipe Patury, na revista Época, chegou a afirmar que “quase metade dos deputados do PT defende ‘Volta Lula”, sem apresentar provas.

Até Nelson Motta, que deixou de lado suas críticas musicais para virar um franco-atirador da oposição, escreveu no jornal O Globo, na sexta-feira (28), que “alguns oposicionistas já preferem até a volta de Lula aos riscos da continuação de Dilma. Aceitam abrir mão de um candidato de oposição em favor de Lula só para se livrar de Dilma e de sua equipe, seu estilo e sua gestão econômica”.


O tucaninho disfarçado de colunista global afirma, no maior cinismo, que “os mais cínicos dizem que teria saído mais barato ao país ter dado um terceiro mandato a Lula”. Na sua visão tacanha – que beira o machismo –, Dilma “tem ideias próprias [sobre a economia], é ‘desenvolvimentista’ com DNA marxista/brizolista”. Para ele, a proposta do “volta Lula” decorre dos erros da atual presidenta. “A tragédia anunciada da Venezuela e o avanço da Argentina para o abismo confirmam a falência do modelo bolivariano e o desastre do kirchnerismo, que têm em comum, além do esquerdismo e da incompetência na gestão econômica, a perseguição à imprensa e aos adversários políticos”.


Diante da onda de intrigas da mídia, a própria presidente Dilma Rousseff fez questão de rechaçar os boatos. Direto de Bruxelas, onde participou da Cúpula Brasil-União Europeia, ela afirmou em entrevista aos jornalistas brasileiros: “Eu acho que vocês podem tentar de todas as formas criar qualquer conflito, barulho ou ruído entre mim e o presidente Lula. Mas vocês não vão conseguir... A imprensa é livre e tem direito de expressão e eu e o presidente Lula não temos divergências a não ser as normais”. Apesar do desmentido categórico, a Folha tucana estampou o título canalha na matéria: “Dilma minimiza divergências com Lula”. Ela não minimizou, mas negou. Os conselhos de Suzana Singer não servem mesmo para nada!

 

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