Com os poços vazios, a Oposição se desespera por um discurso-boia


Por Daniel Quoist
Na Carta Maior


O estardalhaço para que seja instalada uma CPI para investigar a Petrobras fornece bem o tamanho de vazio em que se encontra a Oposição ao governo Dilma Rousseff.
Vazio de discurso: para conseguir uma saída pouca desonrosa nas urnas de outubro próximo, resta à Oposição torcer com afinco pelo insucesso do Brasil.
Vazio de liderança: embora parte da população deseje, segundo pesquisas Ibope/Datafolha recentes, mudanças nos rumos do país, ganha disparado o número dos que desejam que as mudanças venham sob a condução da atual presidente da República.
Vazio de senso ético: a tão aguerrida Oposição vociferando dia e noite pela instalação da CPI da Petrobras é não mais que mofina quando tem diante de si a oportunidade áurea de propor uma limpeza ética nos escabrosos negócios desenvolvidos nos subterrâneos dos trens de São Paulo, maracutaias das grossas, na casa dos bilhões de dólares norte-americanos e perpassando como fio condutor que é os governos tucanos de Mario Covas, Geraldo Alckmin, José Serra e suas respectivas voltas ao comando do Bandeirantes.
Vazio de ideias: o que sobra em termos de seletiva indignação ao PSDB/DEM/PPS lhes falta em articular uma meia dúzia de ideias sobre como pretende fazer o país avançar em áreas sociais, segurança pública, recursos hídricos, educação de qualidade, saúde universalizada e sem colocar a perder os ganhos do Brasil desde que em 2003 o metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva subiu pela primeira vez a rampa do Palácio do Planalto.
Vazio de história: a Oposição atual é verdadeiro ninho de gatos e de cobras, cada líder tem sua própria agenda e o partido político funciona apenas como guarda-chuvas das mais disparatadas pretensões eletivas. Nas três vezes em que José Serra (2002/2010) e Geraldo Alckmin (2006) disputaram a presidência, amargaram ruidosas derrotas e, intramuros, cada um a seu jeito, colocaram boa parte do insucesso eleitoral ao corpo mole do mineiro Aécio Neves. Agora em 2014, tanto Serra quanto Alckmin, cada um novamente a seu modo, desdenham da candidatura de Neves. Não há fio condutor que faça liga com o trio. Isso porque as lealdades menores são inversamente proporcionais ao desejo sincero de servir ao Brasil. E a população parece ter se apercebido disso ainda em meados do ora distante ano de 2002.
Vazio de bom senso: Desde 2003 quando o governo federal ousou disparar a monumental campanha que foi a “O melhor do Brasil é o brasileiro”, legado do estrategista-mor do PT, o ex-ministro Luiz Gushiken (1950-2013), a oposição parece se recusar a ver o óbvio – o povo brasileiro tem orgulho de ser brasileiro e lança as pragas do solene descrédito a políticos que desejam presidir a Nação sempre com velhos discursos de terra arrasada, de martelar que esse é o país que não dá certo, que a realidade exige o surgimento de um novo “salvador da Pátria” e que, preferencialmente, tenha sobrenome Neves e Campos.
É rematado non sense político jogar contra o Brasil.
O Brasil mudou, é outro país, tem respeito na cena internacional, pagou sua dívida crônica e por muitos referida como “impagável” ao Fundo Monetário Internacional, tem reservas que avançam céleres ao patamar nunca antes registrado de meio trilhão de dólares norte-americanos, desfruta de uma das menores taxas de desemprego do mundo Ocidental, faz da inclusão social um credo todo particular, criar nova classe média (também chamada C), torna possível a milhares de jovens pobres e egressos de escola pública o sonhado acesso a diploma universitário, dispões das mais cobiçadas e amplas reservas de petróleo do planeta na camada do Pré-Sal, sedia em 2014 o evento que será conhecido como “Copa das Copas”, justamente celebrando o esporte que é paixão nacional desde inícios do século XX e, ainda de quebra, terá sua cidade maravilhosa o Rio de Janeiro como sede dos Jogos Olímpicos de 2016.
Nesse contexto, qualquer pessoa em sã consciência, minimamente informado da realidade brasileira dos últimos anos, há de concordar que não existe o mínimo espaço para deslustrar o reencontrado orgulho de 200 milhões de pessoas que aqui vivem de festejarem o fato de serem brasileiros.
A oposição enfrenta um novo vazio.
Vazio de identidade: na absoluta carência de boas ideias, boas propostas, boa plataforma a ser defendida no período eleitoral, parece ter dado ouvido a seus gurus, marqueteiros, eminências pardas e aos porta-vozes da grande imprensa (Organizações Globo, Editora Abril, Folha de S.Paulo, O Estado de São Paulo). Em comum todos parecem torcer contra o êxito do Brasil:
- que volte a inflação de imediato e que a hiperinflação dos anos Sarney (1985-1989) se avizinhem já no próximo mês de agosto
- que a Petrobras quebre, mas antes que os telejornais da Globo e as capas da semanal Veja façam a festa com infográficos trágicos e horrendas imagens de plataformas afundando na bacia de Campos, replicando assim o triste fim da P-36 em março de 2001, quando o país era governado pelo tucano-mor Fernando Henrique Cardoso, e nunca será demais recordar que a P-36 custou ao país 430 milhões de dólares, operava desde o ano 2000 no campo de Roncador, uma das áreas mais promissoras de produção da Bacia de Campos, de onde saíam nada menos que 90% do petróleo brasileiro 
- que a Copa 2014 seja marcado por repetitivas cenas de batalhas campais, black blocks ensandecidos, confrontos policiais às dúzias, cinegrafistas e muitos transeuntes mortos
- que o desemprego chegue a 29% e que o Globo Repórter anuncie edição especial tentando explicar porque tantos milhares de Brasileiros estão deixando o país em direção ao Uzbequistão, País Basco e ao pouco conhecido Principado de Liechtenstein
- que o volume de exportações brasileiras desça a tal nível que não ombreie nem 27% do volume de exportações argentinas
- que Universidades do Porto Príncipe (Haiti) e de Kiev (Ucrânia) tenham melhor qualidade de ensino superior que suas congeneres brasileiras como USP, Unicamp, UFRJ, UnB
Se forem esses os cenários mais aguardados pela Oposição, dificilmente conseguirão desalojar do Palácio do Planalto qualquer liderança desse partido de trabalhadores que nasceu das bases, dos chãos de fábricas e do enfrentamento quase corporal contra a ditadura militar que sequestrou nosso país em 31 de março de 1964.
O momento é para refletir se o cenário hipotético acima referido tem de passar necessariamente pela instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar a compra pela Petrobras da refinaria de Pasadena e, quem sabe, de quebra, aproveitar para investigar os seguintes acontecimentos que envolveram a Petrobras nos dias 18 a 21 de dezembro de 2001, são eles:

1) Em 18/12/2001:
== Argentina vivia crise profunda e tanto governo quanto povo argentino sabiam ser inevitável a desvalorização do peso
== Fernando de La Rúa decidiu que a espanhola REPSOL  se desfizesse de alguns ativos
== A REPSOL propôs à Petrobras: trocavam a refinaria de BAHIA BLANCA e recebiam em contrapartida 30% da Refinaria Alberto Pasqualini, no Rio Grande do Sul,  10% do campo de Albacora Leste e 750 postos de combustíveis da BR Distribuidora
== A avaliação da época era que cada parte (Repsol e Petrobrás) estavam negociando USD 500 milhões e o contrato foi assinado por Henri Philippe Reichstul, o presidente da Petrobras de triste memória que ficou marcado por tentar mudar o nome da empresa para Petrobrax
== Naquele momento, a estratégia era fatiar ativos da empresa e privatizá-la em partes, uma vez que a desestatização completa não seria aceita pela sociedade brasileira
== Nesse embate, a reação dos petroleiros à operação produziu uma ação judicial que já está no Superior Tribunal de Justiça. “Estimamos que a Petrobras entregou cerca de US$ 3 bilhões, em valores atualizados, e recebeu US$ 750 milhões”, diz o advogado Claudio Pimentel, que lidera a iniciativa
== Para determinar se houve ou não prejuízo na ação judicial é que foi proposta a ação. No STJ, a então relatora Eliana Calmon determinou a realização de uma perícia

2) Em 21/12/2001, apenas 3 dias depois:
== O principal indicador concreto de que a Petrobras recebeu ativos argentinos superavaliados foi o que aconteceu na Argentina três dias depois da operação: Em 21 de dezembro de 2001, após uma maxidesvalorização cambial, o governo de Fernando de la Rúa caiu. “O que a Petrobras recebeu da Repsol passou a valer a metade”, diz Pimentel. “Isso talvez explique o fato de a operação ter sido feita a toque de caixa”
== No STJ, Eliana Calmon disse que um caso dessa gravidade não poderia “passar em branco” e determinou a realização da perícia. O ministro Herman Benjamin foi também incisivo e votou conforme o voto da ministra Eliana Calmon, afirmando que o Judiciário não pode assistir inerte ao que se afigura no mínimo como uma “operação temerária”. Aguardam-se os votos dos ministros Humberto Martins e Mauro Campbell
== Outro indicador da estranheza da operação foi o fato de a Petrobras ter recomprado os 30% da Repsol na Refap por US$ 850 milhões. “Ou seja: pagou bem mais para recomprar do que recebeu quando vendeu”, diz Claudio Pimentel.

Se é para instalar uma CPI para investigar a Petrobras que ao menos tenham mo tirocínio de incluir no requerimento pugnando por sua instalação que seu objeto inclui como cláusula pétrea a investigação – sem panos quentes – desses tenebrosos eventos iniciados em 18/12 e concluídos em 21/12/2001.

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