ARRAES, PAIVA E OS OUTROS EM 64

Discursos como o de Miguel Arraes, no dia do golpe de 1964, nos dĆ£o orgulho em uma data marcada pela vergonha

Cinquenta anos depois do golpe de 1964, sĆ³ temos uma atitude a fazer. Prestar homenagem aos homens e mulheres que tentaram resistir aos tanques, Ć s baionetas – e a tanta covardia, que muitas vezes estĆ” ao nosso lado e atĆ© dentro de nĆ³s.

OuƧa, por exemplo, o pronunciamento inĆ©dito de Miguel Arraes, governador de Pernambuco. Com o palĆ”cio ocupado por tropas, ele se recusa a entregar o cargo para generais golpistas. NĆ£o aceita sequer negociar com eles.

OuƧa o discurso de Rubens Paiva, o combativo deputado que em 1962 relatou Ć  CPI que apurou as remessas de dĆ³lares da CIA para financiar os polĆ­ticos de oposiĆ§Ć£o a Jango. NĆ³s sabemos que, em 1971, Rubens Paiva foi torturado e morto no DOI CODI.
Mas no dia 31 de marƧo ele apanhou um microfone e deixou uma mensagem que podemos ouvir, meio sƩculo depois.
Na hora do espanto, Arraes nĆ£o sugere atos grandiosos nem pretende ser herĆ³i. Apenas diz que nĆ£o vai se entregar.
Paiva orienta. Diz que trabalhadores e estudantes devem procurar suas entidades, se organizar, se unir.
SĆ£o atitudes que dĆ£o orgulho numa data que foi uma vergonha. Estes gestos tem essa funĆ§Ć£o. Mostram a histĆ³ria viva, feita por homens e mulheres que se recusam a fazer o papel de insetos.
O discurso de Rubens Paiva vocĆŖ pode achar em vĆ”rios locais da internet. O de Arraes estĆ” abaixo pode ser baixado e ouvido AQUI.
Paulo Moreira Leite
Diretor da Sucursal da ISTOƉ em BrasĆ­lia, Ć© autor de "A Outra HistĆ³ria do MensalĆ£o". Foi correspondente em Paris e Washington e ocupou postos de direĆ§Ć£o na VEJA e na Ɖpoca. TambĆ©m escreveu "A Mulher que Era o General da Casa".

ComentƔrios