Argentina publica documentos secretos da ditadura
Monica Yanakiew - Agência Brasil
Quase três centenas de reuniões secretas, realizadas pelas juntas militares que governaram a Argentina entre 1976 e 1983, estão ao alcance de todos a partir desta sexta-feira (21). Os encontros – para decidir desde os rumos da economia até a sorte dos 30 mil opositores que desapareceram na ditadura – foram devidamente registrados em 280 atas, encontradas por acaso, em outubro do ano passado. Elas foram digitalizadas e publicadas pelo Ministério da Defesa argentino, na pagina web:www.archivosabiertos.com.
O anúncio de que os arquivos estariam à disposição do público foi feito pelo ministro da Defesa, Agustín Rossi, três dias antes do 38o aniversario do golpe de 24 de marco de 1976. “Queríamos torná-los acessíveis a todos os argentinos, da forma mais fácil”, disse ele, na inauguração da página Arquivos Abertos.
“São mais de 1.500 documentos que têm valor histórico e também podem ser usados pela Justiça, que ainda está processando os responsáveis pelos crimes da ditadura”, disse em entrevista à Agência Brasil, Mariel Alonso, do Centro de Estudos Legais e Sociais, uma organização de defesa dos direitos humanos.
Os documentos foram encontrados no subsolo do Edifício Condor, sede da Forca Aérea, durante uma limpeza. A ditadura argentina durou sete anos (pouco, em relação a países vizinhos, como Brasil, Chile e Paraguai). Mas nesse período, os militares argentinos acumularam enorme lista de crimes, que estão sendo julgados até hoje. Entre eles, o sequestro de 500 filhos de desaparecidos, cujas identidades foram mudadas e entregues ilegalmente para adoção. A organização Avós da Praça de Maio já encontrou mais de 100, e ainda busca os outros, que hoje são adultos de mais de 30 anos.
Os documentos mostram como os militares registraram pedidos de parentes e amigos de pessoas que haviam sumido nos porões da ditadura, mas davam instruções para evitar o uso da palavra “desaparecido”. Preferiam falar em pessoas de paradeiro desconhecido. Havia também uma lista negra com nomes de artistas e escritores famosos (como Mercedes Sosa e Júlio Cortazar) e discussões sobre o conflito com o Chile pelo Canal de Beagle, que quase acabou em guerra.
Editor: Stênio Ribeiro
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