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Visita de Aécio a Azeredo escancara inclinação partidária da grande mídia
A visita de Aécio Neves a Eduardo Azeredo não causou nenhum tipo de alvoroço na grande mídia comercial. Por que será?
Daniel Quoist
No dia 20 de fevereiro de 2014 aconteceu um evento em Belo Horizonte que
ilustra a conduta da grande mídia. Esta mídia sempre incansável em
afirmar sua independência e perseverante em refutar acusações de um
claro e cristalino partidarismo político continua a ser a mesma mídia
incapaz de transpor à realidade esse seu credo que com o passar dos anos
se torna retumbante eco de um discurso vão e vazio.
Mas o que
aconteceu em Belo Horizonte na data mencionada? Uma visita de cortesia
do ex-governador de Minas Gerais, presidente do PSDB, senador da
República e presidenciável tucano Aécio Neves ao ex-presidente do PSDB,
ex-governador de Minas Gerais, ex-senador da República e agora,
ex-deputado federal Eduardo Azeredo. Acompanhando Aécio Neves estiveram
também, dentre outros, Antônio Anastasia e o pré-candidato tucano ao
governo de Minas, Pimenta da Veiga.
A repercussão na grande mídia foi pífia.
Algo bem próximo do “inexistente zero” quanto ao valor-notícia do evento.
Onde
o estardalhaço no Jornal Nacional da TV Globo? Onde os editoriais
inflamados da Folha de S.Paulo, Estado de São Paulo e O Globo? Onde as
virulentas abordagens - ditas políticas - nas colunas dos oráculos da
grande imprensa representados por Merval Pereira, Eliane Cantanhêde e
Josias de Sousa?
A visita do presidente do PSDB ao ex-presidente
do PSDB recebeu destaque mínimo no jornal Estado de São Paulo e apenas
não “passou batido” nas engrenagens que dizem o que é (e o que não é)
notícia no Brasil graças ao empenho de dezenas de cidadãos-jornalistas
que proliferam na blogosfera e por menos que meia dúzia de sites de
jornalismo na internet.
E ponto.
A reunião entre
os próceres tucanos aconteceu menos de 24 horas após Eduardo Azeredo
apresentar carta de renúncia ao mandato parlamentar exercido na Câmara
dos Deputados. Carta reunindo 596 palavras onde Azeredo destaca de
importante o seguinte:
1. considera a pena de 22 anos de prisão
proposta para ele pelo Procurador-Geral da República Rodrigo Janot
como“hedionda denúncia da Inquisição (mais) do que uma peça acusatória
do Ministério Público”;
2. adianta logo de início a fragilidade
de sua saúde com a sentença “minhas forças já se exaurem, com sério
risco para a minha saúde e para a integridade de minha família”;
3.
antecipa que com o ato de renúncia recebido na Câmara Federal, deixa de
ter foro privilegiado que lhe garantia o direito de ser julgado pelo
STF e entrevê que a Ação Penal em que figura como réu retornará a
julgamento em primeira instância em “meu amado estado de Minas Gerais”;
4.
deixa subentendido que sendo interrompido o julgamento na Suprema Corte
do país, uma vez que não exercerá mais mandato público, aguardará o seu
julgamento “certo de que, na serenidade que deve presidir os
veredictos, fique definitivamente comprovado que não tenho culpa pelas
acusações que sofri”;
5. entende que renunciando ao mandato
evita que “o meu nome continue sendo enxovalhado, que meus eleitores
sejam vítimas, como eu, de mais decepções, e que sejam atingidos o meu
amado estado de Minas Gerais e o meu partido, o PSDB.”
Convido
os caros leitores a refletirem se fosse outra a situação, outra a
personalidade visitada, outro o partido político em evidência, outros os
visitantes ilustres. E também se a data retrocedesse exatos 9 anos,
retroagindo ao último mês de dezembro de 2005. Mas, praticamente
similares tanto as circunstâncias quanto o objeto do evento - visita de
cortesia em correligionários na vida política.
Nesse caso hipotético os leitores, telespectadores e ouvintes de emissoras de rádio saberiam que:
“No
dia 2 de dezembro de 2005, ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
acompanhado do governador do Acre, Jorge Viana, e do presidente nacional
do PT, Ricardo Berzoini, realizou visita de cortesia ao ex-presidente
do PT e ex-chefe da Casa Civil, José Dirceu, um dia após ter seu mandato
parlamentar cassado pela Câmara dos Deputados.”
Mas, 10 em 10
pessoas saberiam que evento dessa natureza receberia tratamento
“jornalístico” profundamente diferenciado, muitas seriam as ilações,
inúmeras as tintas do escândalo, irreprimíveis os ânimos
político-partidários dos profissionais da notícia que se vêem como
paladinos da isenção e do respeito à pluralidade de pensamento.
Provavelmente fariam uso de adjetivos desabonadores a todos personagens envolvidos:
“O
chefe oculto do mensalão petista visita o capo das falcatruas” teria
sido o nome da coluna do Reinaldo Azevedo (revista Veja) ;
“Mais uma reunião de quadrilheiros?” poderia ser o título de alguma coluna do Merval Pereira (jornal O Globo);
“Comparsas” seria o lacônico título de editorial do jornal Folha de S.Paulo.
Além disso a foto da visita seria capa:
“DESAVERGONHADOS
– Como um presidente da República desce tão baixo ao visitar meliante
petista denunciado pelo PGR e logo após a cassação do mandato?”, seria
provavelmente a manchete da capa da revista Veja, editada pelo Grupo
Abril. E ao fundo da manchete avermelhada a estrela do PT.
Mas
como o fato dessa semana envolveu o grão-tucanato, o falante
presidenciável tucano e o elegante deputado que renunciou ao mandato
para impedir o STF de ser célere em um julgamento que sempre teve tudo –
menos celeridade! – a grande imprensa se faz, literalmente, de morta.
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