Temos que disputar sonhos da juventude com o shopping center

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Em entrevista ao jornal Página/12, o secretário geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, analisa as razões que levam os jovens para as ruas. 

Darío Pignotti/Página 12

“A polícia foi formada ideologicamente para ver os manifestantes que protestam contra a Copa como se fossem inimigos contra quem se deve disparar balas de borracha. Sabemos que, de fato, a polícia jogou gasolina no fogo das manifestações, aumentando a indignação da população. Isso aconteceu em junho do ano passado durante a Copa das Confederações, e neste ano nos rolezinhos dos adolescentes que foram em grandes grupos aos shoppings. É uma concepção de segurança herdada da ditadura e que precisa ser superada”.




A afirmação pertence a um dos ministros centrais do governo brasileiro, o secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, considerado nos meios políticos como o principal elo entre o ciclo Lula (sob cuja presidência trabalhou por oito anos) e o atual, da Presidenta Dilma Rousseff. “O Estado brasileiro foi montado pelas elites para proteger sua acumulação e reprodução da riqueza, e o aparato de segurança foi montado para conter aqueles que se opuserem a esse processo de acumulação econômica”, observa. A seguir, sua entrevista:

Ministro, para onde esse fenômeno vai evoluir?

É muito difícil prever, acredito que esses jovem estejam no centro de uma disputa ideológica e política que suscita um desafio para o nosso projeto, que foi exitoso ao proporcionar um futuro para esses jovens ao derrubar os muros e permitir que vão em multidões aos shoppings, em ter gerado novos consumidores, mas aí começa a batalha cultural.

Esses jovens estão cativados por valores do consumo, do exibicionismo, alguns entram em lojas de marcas caras não para comprar, apenas para provar, tirar fotos e mostrar no Facebook. Seus valores são parecidos com aqueles mostrados na televisão e nosso desafio é disputar essa hegemonia, propondo a solidariedade, a paz, o respeito à mulher.

Temos que ser capazes de oferecer a eles um projeto que desperte novos sonhos. Nós ganhamos as eleições de 2002, 2006 e de 2010, agora temos que repensar o esgotamento de nossas propostas para torná-las novamente atrativas para a população.

Haverá outro “incêndio” durante a Copa?

Sabemos que haverá manifestações, é natural que aconteçam em um país democrático, mas têm que ser sem violência. Entre os manifestantes, há grupos minoritários que atacam símbolos do capitalismo, incendeiam bancos, apedrejam concessionárias de automóveis importados. Estamos preocupados, mas acreditamos que não haverá um incêndio.

No mês passado, fui ao Fórum Social Mundial em Porto Alegre, estávamos jantando quando o governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, pediu licença para resolver um problema entre manifestantes e policiais. Como governador, ele ordenou não reprimir, mas não é fácil que a polícia fique imóvel quando alguns insultam, cospem neles.

A reeleição da Dilma depende da Copa?

Considero quase impossível que existam problemas graves e se, conforme esperamos, tudo correr bem na Copa, tudo será festa. Inclusive se a Argentina for campeã (risos), isto permitirá que a vida das pessoas continue normalmente e isso não vai beneficiar a candidatura da Dilma. Mas se a Copa for afetada por episódios violentos, se algum jogo for suspenso ou alguma coisa do tipo, o que me parece improvável, isto sim poderia afetar a presidenta. Por isso estamos trabalhando fortemente para que tudo corra bem, queremos que a população participe de atividades culturais, que tenha lugares onde festejar, não apenas nos estádios.

Em que ponto isso se relaciona com o debate de democratização da mídia?

Acredito que o debate sobre a democratização é irreversível, e que o monopólio absoluto da informação já começou a ser relativizado. Está sendo quebrado através da contrainformação nas redes sociais, nos blogs.

No Brasil, os veículos tradicionais criminalizam o debate sobre a democratização afirmando, astutamente, que o governo quer ter uma mídia oficialista para restringir a liberdade, quando o que queremos é ampliar a liberdade.

Queremos que mais pessoas tenham acesso à mídia, que outros pontos de vista possam ser divulgados, nós queremos que a realidade não seja filtrada pelos donos dos veículos.

A presidenta Dilma enviará uma lei ao Congresso?

A presidenta Dilma não enviará uma lei ao Congresso para ser derrotada. É preciso, antes de propor uma lei, fazer um trabalho de esclarecimento da população, que já começou a relativizar o que a grande imprensa, cuja credibilidade está diminuindo, diz.

Acredito que antes de enviar uma lei precisamos que existam veículos que deem um tratamento democrático à informação, não falo de canais do governo, mas de meios que permitam ao leitor ou ao espectador ter acesso a vários pontos de vista. Temos que enfrentar uma forte batalha pela democratização da mídia.... É preciso reconhecer que a esquerda brasileiro cometeu um equívoco ao não dar importância suficiente para o tema. Não é apenas com uma lei que se faz a democratização.

Acredito que não demos apoio suficiente a veículos que fizessem contraposição à imprensa tradicional. Eu me pergunto por que não temos, no Brasil, um jornal como o Página 12, da Argentina, ou como La Jornada, do México. Quem dera nós tivéssemos um Página 12.

Lula voltará em 2018?

Espero que Lula volte à presidência em 2018, acredito que seja possível que ele volte, e é preciso trabalhar para isso.  Se Lula voltar em 2018, não será somente alguém que volta ao poder depois de dois governos (2003-2010), Lula é uma expressão do povo brasileiro. É alguém que fortalece a autoestima do povo. Eu acredito que com Lula no governo de 2018 a 2022 fecharíamos um ciclo.



Créditos da foto: Arquivo

 

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