Possebon: Dantas, Gilmar e FHC. Tudo a mesma sopa !
Quando Cantidiano, a CVM e o “Conselhinho” sobem ao banco dos réus, com o Dantas ?
O Conversa Afiada reproduz importante artigo de Samuel Possebon, da Teletime, um dos maiores especialistas mundiais de “Daniel Dantas et caterva”.
Por Samuel Possebon
Comentário ao post “Na entrevista de Rubens Valente ao Roda Viva, relembrando a de Gilmar“
Desde 1999, até hoje, acompanho com muita atenção os movimentos empresariais do grupo Opportunity. Até 2008, quando o grupo participava do mercado de telecom (minha área de cobertura jornalística), olhei com lupa tudo o que dizia respeito ao grupo pela Revista TELETIME.
O livro de Rubens Valente é o melhor trabalho de fôlego já escrito sobre o tema. Faz um apanhado geral honesto, detalhado e preciso dos principais fatos, contextualiza alguns assuntos e traz algumas revelações inéditas importantes. Sobretudo em relação ao esforço do grupo de Daniel Dantas para proteger a identidade dos brasileiros residentes no Brasil que teriam contas no Opportunity Fund, algo que já seria ilegal por si só, mas que se tornaria ainda mais grave diante da procedência duvidosa que parte desses recursos teriam. É a parte mais interessante do livro, quando as articulações de lobby de Roberto Amaral em favor de Dantas junto ao gabinete do presidente FHC são reveladas.
Curiosamente, Rubens Valente deixou de fora do livro o episódio que, na minha modesta opinião, é o mais relevante e seria o ápice dessa manobra, e que seria perfeitamente explicado por tudo o que o livro revela: a nomeação para presidente da CVM de um ex-sócio e advogado de Daniel Dantas chamado Luiz Leonardo Cantidiano. Cantidiano foi o responsável não só por parte significativa da engenharia que permitiu as privatizações (como conselheiro do BNDES) como, principalmente, pela montagem da estrutura societária que deu base ao modelo Opportunity/Citibank de controle das empresas e constituição dos fundos geridos por Dantas.
Após o jantar ocorrido no Palácio da Alvorada entre Dantas e o então presidente FHC, episódio narrado pelo livro, Cantidiano se torna presidente da CVM quando já corria na autarquia uma investigação sobre o Opportunity Fund (o Inquérito 08/2001), fundo do qual ele havia sido advogado perante a CVM. A sabatina de Cantidiano no Senado foi superficial, sem questionamento algum sobre seus laços profissionais com Dantas. O conflito da nomeação de Cantidiano foi amplamente noticiado na época, mas curiosamente não está no livro. Posteriormente, TELETIME noticiou que Cantidiano em nenhum momento se declarou impedido de deliberar sobre o inquérito que envolvia diretamente seu ex-cliente e, pior, deu despachos sobre o caso. Cantidiano ficou exposto numa situação flagrante de conflito de interesse. Recebeu manifestações de apoio da comunidade jurídica que atuava proximamente à CVM em um exemplo de corporativismo interesseiro das mais descaradas que eu já presenciei. Recebeu apoio até mesmo de advogados que atuavam junto aos fundos de pensão. Mas, no final, sucumbiu e deixou o cargo prematuramente no início do governo Lula.
O Inquérito 08/2001 foi julgado em 2004 de maneira estranha, com direito a manifestações de juizo de valor inexplicáveis por parte do então presidente da CVM sobre a alegada “desproporcionalidade” entre a atenção que a imprensa dava ao caso e a sua importância real. Mas mais grave do que isso foi a CVM ter ignorado completamente as evidências que já começavam a aparecer na CPI do Banestado e que apontavam para suspeitas muito mais graves em relação ao Opportunity Fund do que apenas a presença de brasileiros. Havia indícios muito concretos de que o Opportunity Fund poderia figurar como destino de centenas de milhões de dólares em transações de lavagem de dinheiro. Apressadamente, a CVM encerrou o inquérito 08/2001 com uma pena bastante branda, e prometendo verbalmente à imprensa investigar as outras denúncias que já pipocavam. Nunca mais se falou no assunto nem há notícia de qualquer investigação nesse sentido. Alguns anos depois, o Conselhinho inocentou o Opportunity Fund. Foi preciso que a Satiagraha acontecesse para mostrar quão irresponsáveis foram nossas autoridades de Valores Mobiliários. Essa parte está no livro “Operação Banqueiro”.
Enfim, seria ótimo se alguém esclarecesse durante o Roda Viva por que a nomeação de um presidente de CVM ligado ao Opportunity ficou de fora da narrativa de Rubens Valente. Não tira o mérito do bom trabalho realizado, mas fica um buraco importante.
(*) Clique aqui para ver como notável colonista da Globo Overseas Investment BV se referiu a Ele. E aqui para ver como outra notável colonista da GloboNews e da CBN se referia a Ele. O Ataulfo Merval de Paiva preferiu inovar. Cansado do antigo apelido, o imortal colonista decidiu chamá-lo de Gilmar Mentes. Esse Ataulfo é um jenio. O Luiz Fucks que o diga.
O Conversa Afiada reproduz importante artigo de Samuel Possebon, da Teletime, um dos maiores especialistas mundiais de “Daniel Dantas et caterva”.
Foi extraído do Blog do Nassif, que descreveu aqui e aqui as peripécias de Gilmar Dantas (*) no tê-jo-ta-da-Ba-hi-a, senhores !
(Não deixe assistir aos vídeos sobre as epistolas do senador tucano Eduardo Suplicy (PT-SP) e “Ah, se o Barbosa fosse o Barbosa!“.
Por Samuel Possebon
Comentário ao post “Na entrevista de Rubens Valente ao Roda Viva, relembrando a de Gilmar“
Desde 1999, até hoje, acompanho com muita atenção os movimentos empresariais do grupo Opportunity. Até 2008, quando o grupo participava do mercado de telecom (minha área de cobertura jornalística), olhei com lupa tudo o que dizia respeito ao grupo pela Revista TELETIME.
O livro de Rubens Valente é o melhor trabalho de fôlego já escrito sobre o tema. Faz um apanhado geral honesto, detalhado e preciso dos principais fatos, contextualiza alguns assuntos e traz algumas revelações inéditas importantes. Sobretudo em relação ao esforço do grupo de Daniel Dantas para proteger a identidade dos brasileiros residentes no Brasil que teriam contas no Opportunity Fund, algo que já seria ilegal por si só, mas que se tornaria ainda mais grave diante da procedência duvidosa que parte desses recursos teriam. É a parte mais interessante do livro, quando as articulações de lobby de Roberto Amaral em favor de Dantas junto ao gabinete do presidente FHC são reveladas.
Curiosamente, Rubens Valente deixou de fora do livro o episódio que, na minha modesta opinião, é o mais relevante e seria o ápice dessa manobra, e que seria perfeitamente explicado por tudo o que o livro revela: a nomeação para presidente da CVM de um ex-sócio e advogado de Daniel Dantas chamado Luiz Leonardo Cantidiano. Cantidiano foi o responsável não só por parte significativa da engenharia que permitiu as privatizações (como conselheiro do BNDES) como, principalmente, pela montagem da estrutura societária que deu base ao modelo Opportunity/Citibank de controle das empresas e constituição dos fundos geridos por Dantas.
Após o jantar ocorrido no Palácio da Alvorada entre Dantas e o então presidente FHC, episódio narrado pelo livro, Cantidiano se torna presidente da CVM quando já corria na autarquia uma investigação sobre o Opportunity Fund (o Inquérito 08/2001), fundo do qual ele havia sido advogado perante a CVM. A sabatina de Cantidiano no Senado foi superficial, sem questionamento algum sobre seus laços profissionais com Dantas. O conflito da nomeação de Cantidiano foi amplamente noticiado na época, mas curiosamente não está no livro. Posteriormente, TELETIME noticiou que Cantidiano em nenhum momento se declarou impedido de deliberar sobre o inquérito que envolvia diretamente seu ex-cliente e, pior, deu despachos sobre o caso. Cantidiano ficou exposto numa situação flagrante de conflito de interesse. Recebeu manifestações de apoio da comunidade jurídica que atuava proximamente à CVM em um exemplo de corporativismo interesseiro das mais descaradas que eu já presenciei. Recebeu apoio até mesmo de advogados que atuavam junto aos fundos de pensão. Mas, no final, sucumbiu e deixou o cargo prematuramente no início do governo Lula.
O Inquérito 08/2001 foi julgado em 2004 de maneira estranha, com direito a manifestações de juizo de valor inexplicáveis por parte do então presidente da CVM sobre a alegada “desproporcionalidade” entre a atenção que a imprensa dava ao caso e a sua importância real. Mas mais grave do que isso foi a CVM ter ignorado completamente as evidências que já começavam a aparecer na CPI do Banestado e que apontavam para suspeitas muito mais graves em relação ao Opportunity Fund do que apenas a presença de brasileiros. Havia indícios muito concretos de que o Opportunity Fund poderia figurar como destino de centenas de milhões de dólares em transações de lavagem de dinheiro. Apressadamente, a CVM encerrou o inquérito 08/2001 com uma pena bastante branda, e prometendo verbalmente à imprensa investigar as outras denúncias que já pipocavam. Nunca mais se falou no assunto nem há notícia de qualquer investigação nesse sentido. Alguns anos depois, o Conselhinho inocentou o Opportunity Fund. Foi preciso que a Satiagraha acontecesse para mostrar quão irresponsáveis foram nossas autoridades de Valores Mobiliários. Essa parte está no livro “Operação Banqueiro”.
Enfim, seria ótimo se alguém esclarecesse durante o Roda Viva por que a nomeação de um presidente de CVM ligado ao Opportunity ficou de fora da narrativa de Rubens Valente. Não tira o mérito do bom trabalho realizado, mas fica um buraco importante.
(*) Clique aqui para ver como notável colonista da Globo Overseas Investment BV se referiu a Ele. E aqui para ver como outra notável colonista da GloboNews e da CBN se referia a Ele. O Ataulfo Merval de Paiva preferiu inovar. Cansado do antigo apelido, o imortal colonista decidiu chamá-lo de Gilmar Mentes. Esse Ataulfo é um jenio. O Luiz Fucks que o diga.
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