Os “libertários” que não queimam a bandeira americana, mas ateiam fogo à imagem do Pelé

 Autor: Fernando Brito
pele
Pelé, fora de campo, nunca foi santo de minha devoção.
Já disse muita besteira e muita coisa correta, como tanta gente já fez.
Mas, 40 anos depois de deixar os gramados, é impressionante como ainda é uma figura reconhecida e querida pelo mundo afora.
Na prática, virou há meio século um símbolo do Brasil.
Não foi à imagem do cidadão Edson Arantes do Nascimento que este panaca da foto ateou fogo ontem, numa manifestação que reuniu 300 pessoas (“O País em Protesto”, como diz a Folha) em Porto Alegre.

Foi ao Pelé que todo mundo gosta, o Pelé do futebol.
Nos protestos, há décadas, volta e meia alguém, mais radical, punha fogo numa bandeira americana.
A gente evitava, ninguém queria ofender o povo americano, mas aquilo era um grito contra o império, contra a dominação.
Mas os nossos coxinhas são diferentes.
Protestam contra a Copa, mas não protestam contra a sangria dos juros que o mercado nos impõe e que leva, todo ano, oito ou nove vezes o gasto com a Copa, no cálculo mais modesto.
Carregam cartazes “Dilma=Maduro”, um presidente eleito que se está tentando derrubar.
E ateiam fogo a uma imagem do Pelé.
Depois, vão dizer que são “libertários” e “pacíficos”.
Quando são intolerantes e belicosos.
Eles acordaram a direita fascista brasileira.
Que não queima bonecos, mata pessoas.
Não adianta que um ou outro dos que fazem parte disso digam que não concordam.
É isso o que se pôs em marcha, querendo ou não.
Quem quiser se confundir, que se confunda.
Talvez só descubra tarde demais.
PS. Reparem que a foto, tirada por Carlos Macedo, da Zero Hora, não foi parar nos jornais em geral. A mídia sabe que é uma imagem que repugnaria os brasileiros, não vai ela “queimar” assim os seus prestimosos filhotes.

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