Ministro, que tal discutir o caso Alstom/PSDB?

 Gil Ferreira/STF

Os governos do ex-governador José Serra e do atual, Geraldo Alckmin, estão envolvidos, segundo o Ministério Público.

 Por Antônio David.

Gilmar Mendes é uma pérola.


Hoje a imprensa noticiou: "Ministro do STF defende investigação sobre doações a petistas".



Segundo o portal Terra, o único dos atuais ministros do STF indicado por FHC teria declarado:



"Essa dinheirama, será que esse dinheiro que está voltando é de fato de militantes? Ou estão distribuindo dinheiro para fazer esse tipo de doação? Será que não há um processo de lavagem de dinheiro aqui? São coisas que nós precisamos examinar. E se for um fenômeno de lavagem? De dinheiro mesmo de corrupção? As pessoas são condenadas por corrupção e estão agora festejando coleta de dinheiro. É algo estranho".



Não surpreenderá se Gilmar Mendes propuser ao Ministério Público que denuncie por formação de quadrilha e lavagem de dinheiro todos os envolvidos nas campanhas de solidariedade aos condenados da AP 470.



Basta para isso evocar o argumento do "domínio do fato".



Algo assim: “Se arrecadaram tanto dinheiro, então devem ser corruptos. Só pode ser corrupção. Afinal, eles são do PT”.



Dou o braço a torcer: esse aí pelo menos é coerente. Age agora exatamente da mesma forma como agiu no julgamento da AP 470.



É compreensível que o ministro Mendes esteja surpreendido. Afinal, ele não tem ideia do que seja militância.



Mas ele já deveria saber.



E por que deveria saber? Quando estourou o escândalo do "mensalão", Gilmar Mendes e seus correligionários tinham total certeza de que Lula sangraria e que, de tanto sangrar, perderia no pleito de 2006. Como sabemos, Lula venceu.



O que tem isso a ver com as campanhas de solidariedade a Genoíno e Delúbio? Segundo o historiador Lincoln Secco, “a militância do PT salvou o partido” no episódio do “mensalão” (Lincoln Secco, História do PT, p.233).



O que estamos vendo ocorrer novamente e que deixou o ministro Gilmar Mendes estupefato é a militância do PT entrando em cena.



No fundo, a estupefação de Gilmar Mendes esconde na verdade a incompetência de um setor da política brasileira, à qual Mendes é filiado e da qual faz o papel de porta-voz (vejam vocês, como faltam quadros na direita!). Eles não mobilizam ninguém. Eles não sabem o que é mobilização. Eles não têm militância.



Agora, cá entre nós: estranho mesmo é um ministro do STF pronunciar-se sobre campanhas que foram noticiadas à exaustão – inclusive pela mesma imprensa que fez campanha aberta e descarada pela condenação dos acusados -, e não tenha feito sequer uma declaração sobre o caso Alstom.



Todo mundo sabe que o ministro que concedeu habeas corpus para o Dr. Daniel Dantas sente um gosto especial por aparecer na mídia. Alguns de seus colegas também. Mas, reconheçamos: esse aí é seletivo. Quando se trata dos amigos tucanos, ele se transforma num ministro discreto, recatado… mudo.



O silêncio do ministro Gilmar Mendes torna-se mais estranho quando se depara com o fato de que o caso de corrupção no metrô de SP envolve figuras cujo foro é o STF.



E o caso Alstom, ministro? E o envolvimento de figuras públicas do seu partido do coração nesse caso? E o envolvimento do atual governador e ex-governadores do PSDB nesse caso? Para onde foi o dinheiro, ministro? "E se for um fenômeno de" financiamento de campanhas do PSDB paulista? "A sociedade precisa discutir isso", ministro Gilmar Mendes.



Pano rápido: e falando do caso Alstom, a pergunta que não quer calar é: será que haverá “domínio do fato” no julgamento desse caso? Com a palavra, Gilmar Mendes.



Antônio David é pós-graduando em Filosofia pela FFLCH/USP.

Créditos da foto: Gil Ferreira/STF

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