Corinthians: é pau, é pedra, é o fim do caminho


Há um ano, existia uma nova percepção no futebol brasileiro. O Corinthians, historicamente marcado por uma relação passional e extremista com sua torcida, parecia imune a crises. Um e outro tropeço passavam despercebidos. Nada mais vazava para fora do vestiário e o time entrava em cada campeonato já com o status de favorito. O casamento com o técnico Tite acabou da forma mais amigável possível. Torcida aplaudindo, se emocionando, agradecendo e registrando a gratidão em faixas espalhadas por todo o Pacaembu.

O Corinthians havia amadurecido. O clube mais rico do Brasil, prestes a inaugurar seu estádio e a cada ano apresentando em campo elencos fortes e que pareciam jogar sob a mesma fórmula do sucesso. Por tudo isso, a invasão de 100 torcedores no CT Joaquim Grava causou uma espécie de espanto e repulsa. O Corinthians não enfrenta tabu de títulos e começa agora a estruturar uma nova equipe, com a presença do já conhecido Mano Menezes. O terrorismo exibido no sábado mostrou-se completamente desproporcional à atual conjuntura. O time não joga bem desde o Campeonato Brasileiro, é verdade, mas ainda assim parece que os torcedores sofreram uma amnésia coletiva, transformando a situação em um verdadeiro drama.
Uma faxineira agredida, celulares furtados. Torcedores portando paus, pedras e até facas. Autor do gol da maior conquista da história do Corinthians e jogador que se dedica absurdamente nos jogos, Guerrero foi agredido. Os demais jogadores foragidos em uma sala protegida por uma barricada. Sem água, sem alimentos, com as luzes apagadas para não dar qualquer sinal de presença. Escondidos como se fossem eles os criminosos. A polícia chegou ao local, reconheceu alguns rostos. Um deles esteve detido em Oruro, em um dos capítulos mais tristes da história do futebol brasileiro. Ninguém foi preso. Um dia depois, o time entrou em campo completamente abalado. Perdeu para a Ponte Preta, mas já havia sido derrotado na véspera.
A invasão de torcedores a uma propriedade privada é quase um ato legitimado no Brasil. Assim como tantos atos de violência. “Joga por amor ou joga por terror”, gritam uns. “Bando de vagabundo”, bradam outros. E a diretoria do Corinthians, que já abriu os portões em outras situações, perdeu o controle absoluto do diálogo. Um diálogo que nem deveria existir naquele local. Não se pode dar espaço a torcedores organizados que se sentem donos do clube e que estão lá como inquisidores. Quebram carros, portas, muros e atacam profissionais sob o mesmo pretexto: vocês precisam vencer sempre. A derrota é a maior vergonha de nossas vidas.
Um Corinthians campeão de tudo. A uma enorme distância daquele “Faz-me rir” da década de 60, ou do rebaixamento de 2007, que fizeram tantos torcedores sofrerem e, ao mesmo tempo, se apaixonarem ainda mais pelo time. Vaiem, boicotem, protestem na frente do ônibus. Mas o ataque ao local de trabalho e as ameaças à integridade física são uma ofensa profunda. A tocaia provou que a cabeça do torcedor não muda nem mesmo com uma longa jornada de vitórias. A supremacia corintiana dos últimos anos trouxe à luz um indivíduo que realmente acredita na obrigação de vencer tudo. E que muitas vezes um estadual tem o mesmo peso de uma Libertadores da América.
Eles estão lá, rondando, preparando a próxima invasão. Não são paladinos, apesar das práticas medievais. Intimidam como se fosse um recurso válido de incentivo. Esforça-se ou eu te agrido. A ameaça é para o nosso bem. Curiosamente, proclamam-se como os vigilantes da honra do Corinthians e não percebem que, a cada pau e a pedra atirados, mancham justamente aquilo que acreditam defender.
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