BRASIL, DE NOVO
Lula faz contraponto à mesmice desinformada
De Paulo Moreira Leite na Istoé
por Marcelo Zero (*)
O ex-presidente Lula publicou um belo artigo no jornal Valor Econômico.
Nesse artigo, intitulado Por que o Brasil é o País das Oportunidades,
Lula apresenta dados concretos sobre a extraordinária evolução do Brasil
nos últimos 11 anos para demonstrar que o nosso país oferece grandes
oportunidades para investidores que quiserem apostar no desempenho
da economia brasileira, no cenário mundial pós-crise que começa a se
desenhar.
Num país de memória tão curta e com uma mídia tão partidarizada,
que faz do pessimismo profissional uma bandeira eleitoral, o artigo de
Lula representa um bálsamo frente à irritante mesmice desinformada e
manipuladora.
De fato, como demonstra Lula, o Brasil é, hoje em dia, um país
completamente diferente daquele Brasil frágil e quebrado que tínhamos
em 2002. Aquele país com dívida pública líquida de mais de 60% do PIB,
inflação e desemprego de dois dígitos, salários decrescentes, desigualdade
crescente e que vivia pendurado no FMI foi de fato substituído por
um novo Brasil, muito mais justo, inclusivo, forte e economicamente
equilibrado. O gigante acordou com Lula.
A amnésia sobre a extraordinária evolução recente do Brasil só é
comparável ao conveniente esquecimento da implosão do Plano Real em
1998, cujas consequências configuraram a “herança maldita”, com a qual
os governos do PT souberam lidar com a competência que faltou aos que a
geraram.
O recente progresso econômico e social do Brasil, reconhecido e elogiado
internacionalmente, cria, como afirma Lula, um horizonte de oportunidades
que poucos países do mundo oferecem.
Mas não são somente as realizações recentes, por mais extraordinárias que
sejam, que nos permitem afirmar que o Brasil é o país das oportunidades.
Na realidade, o Brasil é o país das oportunidades não apenas porque
conseguiu fazer muito, mas, sobretudo, pelo muito mais que pode fazer.
Com efeito, uma análise objetiva das potencialidades do Brasil na nova
conjuntura mundial demonstra cabalmente que temos substanciais
vantagens comparativas, em relação a outras nações emergentes.
Em primeiro lugar, o Brasil é o país que mais tem capacidade para
aumentar seu excedente agrícola, num mundo que demanda cada vez mais
alimentos. Ao contrário da maioria dos países produtores de alimentos,
que já usam toda ou quase toda a sua terra agricultável, o Brasil é o país
que mais dispõe de terras agricultáveis para serem exploradas. Segundo
o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), são mais de 200
milhões de hectares, situados fora das áreas de preservação. O segundo
país do mundo neste quesito, a Rússia, dispõe de apenas a metade. Além
disso, o Brasil é o país que mais dispõe de água doce líquida, 13% do
total mundial, um recurso estratégico escasso na maioria das nações. Essa
combinação de enormes áreas de terras disponíveis e grande capacidade de
oferta de água permitirá ao Brasil, que já dobrou a sua safra em pouco mais
de uma década, continuar a ser o país que mais aumenta seu excedente
agrícola exportável ainda por muitos anos.
Em segundo lugar, o Brasil, ao contrário de muitos países em
desenvolvimento, não perdeu a sua indústria, ao longo da hegemonia do
modelo paleoliberal. Apesar de tudo, e da crise recente, ainda temos uma
indústria significativa e bem-integrada. Com essa base industrial, podemos
incorporar mais valor à produção de commodities, com os investimentos
necessários. Isso nos dá uma vantagem substancial, em relação a países
que, embora sejam competitivos na produção de commodities, não têm
base industrial para agregar valor à sua produção.
Em terceiro lugar, o Brasil é o país que tem o maior potencial, no campo
ambiental. Como se sabe, o mundo terá de fazer uma transição da atual
economia “carbonizada” para uma economia verde e de baixa emissão de
gases de efeito-estufa. Para a maioria dos países do mundo, essa transição
será complexa e demandará custos altos e implicará risco de monta. Para
o Brasil, no entanto, tal transição enseja mais oportunidades e lucros que
riscos e custos. O nosso país é o mais megadiverso do mundo, o que nos
confere potencial inigualável no desenvolvimento de uma indústria de
biotecnologia de ponta. Ademais, a redução dos níveis do desmatamento
e a preservação da nossa imensa floresta em pé nos dá a oportunidade de
nos tornarmos grandes provedores de serviços ambientais para o mundo.
No campo específico das energias renováveis, um sério gargalo para muitas
economias do mundo, o Brasil, já tem liderança internacional. Nossa
matriz elétrica é limpa, pois está baseada em 80% em hidroelétricas, e
somos extremamente competitivos na produção de energia com base na
biomassa, principalmente no que tange ao etanol de cana-de-açúcar, de
custo muito mais barato que o etanol de beterraba e de milho. Não bastasse,
nosso potencial de produção de energia solar é o maior do planeta, dada à
nossa extensão territorial e ao nosso clima tropical. Assim sendo, o Brasil,
que já é uma grande potência agrícola, será também uma grande potência
ambiental.
Em quarto lugar, o Brasil tem um enorme potencial ainda a ser explorado
com o crescimento do seu mercado interno. Como bem assinalou o ex-
presidente Lula, o Brasil colocou os “mais pobres no centro das políticas
econômicas, dinamizando o mercado e reduzindo a desigualdade”. Foram
criados “21 milhões de empregos; 36 milhões de pessoas saíram da extrema
pobreza e 42 milhões alcançaram a classe média”. Mas isso é somente
o começo de um processo que pode e deve perdurar por muitos anos.
Nosso índice de Gini caiu de cerca de 0,600, em 2002, para quase 0,500,
em 2012. Trata-se de um progresso inédito na história do Brasil, sempre
acostumado ao crescimento com o aumento das desigualdades Contudo,
ainda falta muito para chegarmos ao nível de países como a França, por
exemplo, que tem um índice de Gini de aproximadamente 0,300. Na
realidade, esse processo de eliminação da pobreza e de redução intensa das
desigualdades, que se constitui numa importante linha de defesa na crise,
tem de persistir e se intensificar, nas próximas décadas. Ao contrário do
que alguns dizem, a continuidade e o aprofundamento desse processo nos
darão uma grande vantagem comparativa, relativamente aos países que não
tem bom potencial de expansão de seu mercado interno de consumo de
massa. Podemos crescer “para dentro” tanto quanto “para fora”.
Em quinto lugar, temos um perfil demográfico bem mais favorável
que o de muitos países. Nossas taxas de natalidade já se reduziram
bastante, o que alivia a pressão sobre o mercado de trabalho, mas, por
outro lado, nossa população ainda é bastante jovem, o que nos livra dos
estrangulamentos ao Estado do Bem-Estar que se observam em nações com
maior nível de desenvolvimento.
Em sexto, é preciso considerar que o Brasil, ao contrário de alguns
importantes países emergentes, tem uma democracia jovem e dinâmica,
que se destaca cada vez mais pela transparência de sua administração e pela
solidez de suas instituições republicanas. Outro ponto que nos distingue
nitidamente tange ao fato de que somos um país pacífico e estável,
sem divisões internas e conflitos com vizinhos. Num mundo marcado
pela crescente eclosão de conflitos assimétricos, essa é uma vantagem
geopolítica de peso.
Por último, as fantásticas descobertas das megajazidas Pré-Sal
potencializam a nossa capacidade de investimento, inclusive no que se
relaciona à área social. A histórica decisão de canalizar 75% dos royalties
do petróleo para a Educação, nos permitirá dar o tão necessário salto de
qualidade nessa área estratégica.
É claro que temos também algumas fragilidades, como a infraestrutura
ainda deficiente e, sobretudo, as carências no campo educacional e
na geração de inovação tecnológica. Mas, como bem assinalou o ex-
presidente Lula, elas já vêm sendo enfrentadas com investimentos robustos
e programas de peso. A bem da verdade, tais fragilidades, na medida em
que estão sendo de fato resolvidas, se constituem também num campo fértil
de oportunidades para investidores nacionais e estrangeiros.
Assim, oportunidades é que não faltam no Brasil. Oportunidades presentes
e futuras. Oportunidades em todas as áreas para todos os investidores.
Porém, o Brasil é o país das oportunidades num sentido muito maior que o
do mero “bom negócio”. É que Brasil, pela primeira vez em sua história, se
transformou no país das oportunidades para o seu próprio povo, antes tão
abandonado e excluído.
Essa é a grande vantagem comparativa do Brasil. O País se tornou forte e
competitivo porque liberou a imensa força da sua população.
O Brasil é o país das oportunidades porque agora dá oportunidades a todo o
seu povo.
(*) Marcelo Zero é formado em Ciencias Sociais pela UNB e assessor legislativo do Partido dos Trabalhadores
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