Reeleição de Alckmin sofre duro revés com decisão de Campos de lançar candidato próprio em SP

Autor: Miguel do Rosário
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Marina Silva, a rainha do tripé, ganhou a queda-de-braço com o PSB paulista e conseguiu impor o que desejava: o PSB não apoiará a reeleição de Geraldo Alckmin. Ao invés disso, terá um candidato próprio, ainda a ser definido.
A batalha agora é indicar quem seria o tal candidato. Toda a articulação da Marina para derrubar a aliança entre PSB e PSDB tinha como objetivo impor um candidato que tivesse a cara da “nova política”. Caso o PSB imponha um candidato convencional, da velha política, como Márcio França, presidente regional do PSB, o desgaste terá sido em vão.

A derrota não é apenas do PSB-SP, nem apenas de Alckmin. Aécio Neves também perde com a essa decisão, pois entrou em campo com algumas declarações agressivas, tentando demover os socialistas de romperem a antiga aliança estabelecida com os tucanos de São Paulo, ameaçando veladamente retaliar em Minas Gerais, onde o PSDB é aliado do PSB e cogitava apoiar a candidatura de Marcio Lacerda, prefeito socialista de Belo Horizonte, para o governo do estado.
Roberto Freire perdeu mais essa. Aliás, ninguém ouve Roberto Freire, que lástima. O presidente do PPS, e também outros dirigentes da mesma legenda, andaram afirmando à imprensa, nos últimos dias, que poderiam rever o apoio a Eduardo Campos se o PSB rompesse com o PSDB em São Paulo.
Do ponto-de-vista ideológico (ou programático, para usar o termo que ela gosta), acho que Marina agiu certo ao bater pé contra a aliança entre PSB e PSDB em São Paulo, mas não deixa de ser curioso que as ações da ex-ministra no partido de Campos, até agora, tem sido apenas no sentido de promover rupturas do PSB com possíveis aliados.
Marina já entrou no PSB “causando” e sentando à janela, mandando e desmandando, desfazendo alianças que Campos vinha costurando há meses, ou mesmo há anos.
Com isso, Campos está amarrando cada vez mais seu destino à Marina Silva, que por sua vez depende menos de alianças do que de uma imagem positiva na mídia. Uma imagem que não desagrade nem conservadores nem progressistas, e por isso mesmo uma imagem que, forçosamente, terá de se manter esfíngica, misteriosa, para que possa ser moldada livremente pelos meios de comunicação.
Como candidato ao governo de São Paulo, Marina queria impor Walter Feldman, fiel marineiro, que saiu do PSDB para fundar a Rede e também ingressou no PSB. Mas será difícil aprovar o nome de Feldman para um PSB paulista frustrado com a decisão de Campos de aceitar as exigências de Marina.
A solução, portanto, talvez seja lançar um nome neutro, para não desagradar nenhum campo, o que será também uma coisa irônica: o PSB lançará um candidato desconhecido, fraco eleitoralmente, apenas para não desagradar Marina?
Os nomes do vereador Ricardo Young (PPS) e Pedro Dallari (PSB) são cotados para a vaga.
Ah, agora vamos ver se Aécio Neves e Roberto Freire terão coragem de cumprir suas ameaças e retaliar o PSB. Se não o fizerem, serão considerados fracos, pusilânimes. Se o fizerem, arriscam se isolar ainda mais, perdendo aliados e palanques Brasil afora.
Na tentativa de acalmar os tucanos, os emissários de Campos afirmaram que, num eventual segundo turno, apoiarão o PSDB. Só que aí haverá um desgaste ainda maior para o PSB e Rede. De um lado, teremos um partido que governa o estado há vinte anos, liderado por um governador notoriamente conservador, inclusive ligado à Opus Dei. De outro, Alexandre Padilha, representando a mudança.
Se o PSB se aliar a Alckmin no segundo turno, toda a mensagem que tentou passar no primeiro turno, lançando candidato próprio, de independência e desejo de inovar, irá por água baixo, prejudicando por tabela a imagem de Eduardo Campos, sobretudo se for ele o candidato presidencial a disputar um segundo turno com Dilma Rousseff.
As peças de xadrez ainda estão um bocado emboladas nesse início de ano. De qualquer forma, uma coisa é certa. A decisão de Campos de aceitar a imposição de Marina e não apoiar a reeleição de Geraldo Alckmin, representa um duro revés para o PSDB-SP, prejudicando inclusive a situação de Aécio Neves, visto que Alckmin terá, cada vez mais, de concentrar energias no estado, deixando a eleição nacional para o segundo plano.

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