Globo abre o jogo: é contra o pobre

12 de janeiro de 2014 | 09:59 Autor: Miguel do Rosário
salario
editorial do jornal O Globo deste domingo é uma síntese magnífica de como pensa o núcleo conservador brasileiro, que pode ser definido em três adjetivos: mesquinho, mesquinho, mesquinho.
O atual mecanismo encontrado pelo governo, centrais e sindicatos para elevar o salário mínimo em linha com a média do crescimento do PIB dos últimos dois anos foi uma das medidas mais progressistas e eficazes em décadas.
Muitas vezes um governo adota uma medida progressista, mas sem eficácia. Ou seja, a intenção é boa, mas não dá certo, e o fracasso às vezes gera um retrocesso, ficando o trabalhador em pior situação do que antes.
O grande desafio da política é encontrar soluções que beneficiem o trabalhador e que sejam, ao mesmo tempo, sustentáveis ao longo do tempo.
A oposição do Globo ao mecanismo que possibilitou o aumento real do salário mínimo demonstra a sua indiferença para com a questão social e humana. Para uma família que tem uma fortuna de quase R$ 60 bilhões, como tem os Marinho, realmente é difícil se comover com 50 reais a mais ou a menos  no salário de um chefe de família.
Entretanto, é muito bom que o Globo abra o jogo e revele seus dentes afiados. É bom para não esquecermos que enquanto a gente reclama que o governo faz pouco, que é tímido, que poderia ousar políticas sociais mais avançadas, há setores poderosos, e o Globo é ao mesmo tempo porta-voz e líder desses setores, que lutam pelo retrocesso.
O mecanismo atual de ajuste do salário mínimo tem a vantagem de ter acabado com o desgastante jogo de pressão entre governo, empresas  e centrais sindicais. Agora ambos podem se dedicar a outras pautas, mais complexas, envolvendo questões tributárias, incentivos, crédito e investimentos em tecnologia.
A regra acertada é que o salário mínimo aumentará se  o PIB tiver crescido. Ficará parado se o PIB estaganar. É simples, objetivo, racional.  É uma das poucas coisas que tem dado 100% certo nos últimos anos, e para o bem do trabalhador, que viu sua renda aumentar em paralelo com o declínio no desemprego.
O golpe de 64 foi aplicado, entre outras razões, porque havia uma grande pressão política para o aumento do salário mínimo. E João Goulart estava do lado daqueles que desejavam ampliar o poder aquisitivo do trabalhador. Aliás, o que os conservadores chamavam de “comunismo” na década de 60, era, entre outras coisas, defender o aumento do salário mínimo. O Globo da época, assim como o de hoje, também era contra isso. O Globo era tão contra aumentar o salário mínimo, mas tão contra, que usou isso como uma das justificativas para derrubar um presidente legitimamente eleito pelo sufrágio universal.
Só que o cartucho do golpe militar já foi gasto, e o Brasil hoje é bastante alerta, diria até mesmo paranóico (saudavelmente paranoico), quando à possibilidade de outro tipo de golpe, de maneira que os conservadores atuais terão de continuar engolindo por um bom tempo (espera-se que eternamente) a ascenção gradual e constante do valor dos salários pagos aos trabalhadores brasileiros.

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