FHC ENTERROU TUMINHA
Paulo Moreira Leite
Diretor da Sucursal da ISTOÉ em Brasília, é autor de "A Outra História do Mensalão". Foi correspondente em Paris e Washington e ocupou postos de direção na VEJA e na Época. Também escreveu "A Mulher que Era o General da Casa".
Ex-presidente merece elogio por recusar-se a fazer parte de uma farsa
Por duas vezes, no programa Manhattan Conection, Diogo Mainardi sugeriu a Fernando Henrique Cardoso que fizesse comentários sobre a denúncia do delegado Romeu Tuma Jr de que Luiz Inácio Lula da Silva foi “alcaguete” do ditadura.
Nas duas vezes, FHC desmentiu Diogo e Tuminha. Deixou claro que a história é falsa.
É um testemunho importante, considerando quem é e quem foi. Lula fez campanha para Fernando Henrique em 1978. Os dois percorreram portas de fábrica e falaram em comícios. Mais tarde, estiveram juntos numa articulação pela criação de um partido político de esquerda, mas o projeto não deu certo.
Os dois tomaram caminhos separados a partir de então e hoje são os adversários que polarizam a política brasileira.
Já fiz criticas duras ao comportamento de Fernando Henrique diante de fatos políticos recentes, como a ação penal 470. Considerando o que ele sabe, viu e fez durante sua carreira política, eu acho que ele não poderia unir-se ao coro dos ingênuos e dos espertalhões que esperam derrotar o governo Lula na Justiça – já que não conseguem fazer isso pelo voto. Não vamos criminalizar ninguém.
Mas diante até de confissões gravadas de parlamentares que venderam seus votos na emenda que permitiu sua reeleição FHC não precisava bater palmas para o STF e dizer que o país precisa seguir em frente, não é mesmo?
O debate aqui é outro, porém.
A divulgação orquestrada do livro de Tuma Jr não obedece a nenhum interesse legítimo. É apenas mais uma operação destinada a atacar o ex-presidente, sem fatos concretos nem um fiapo de prova. Quem dá curso a esse tipo de ação deveria sentir vergonha, até porque não entendeu o país em que vive.
Pressionado a fazer parte de uma mentira, Fernando Henrique recusou-se a agir abaixo de sua dignidade.
Respeitou a memória do país e sua própria história.
Os brasileiros só tem a ganhar quando um ex-presidente lembra que a única forma decente de participar da luta política, tão natural numa democracia, consiste em respeitar a verdade dos fatos.
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