Eduardo Campos joga a toalha em 2014 para enfraquecer Alckmin como adversário em 2018
Aécio e Eduardo Campos no restaurante Fasano, Ipanema, Rio.
Um quer o apoio do outro, mas a nenhum interessa apoiar o outro.
São adversários em 2014 e serão adversários em 2018, incluindo Alckmin.
Por que um colocaria azeitona na empada do outro, fortalecendo o adversário de 2018?
Por: Zé Augusto
Do Blog Os Amigos do Presidente Lula
Não é difícil entender porque Eduardo Campos (PSB-PE) decidiu que o PSB lançará candidato próprio em São Paulo contra o governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP).
Não foi mera concessão à Marina Silva (PSB-AC), apesar disso aplacar uma "revolta dos marineiros". Quem "traiu" politicamente Lula não teria cerimônia em trair Marina também, se achasse interessante para suas ambições políticas. A decisão foi cálculo político do próprio Eduardo Campos.
Vendo que há 8 meses das eleições os apoios que recebe não dará para encher seu copo de votos até outubro, Eduardo Campos praticamente joga a tolha e passa a operar com vistas a 2018, procurando se projetar nacionalmente neste ano e se posicionar como liderança com protagonismo de peso nas eleições deste ano.
É fácil entender esse jogo de xadrez político, analisando 5 cenários:
1) Alckmin vai ao segundo turno em SP e Dilma ganha no primeiro turno no Brasil.
Não interessará à Campos fortalecer Alckmin. Dilma não poderá ser candidata em 2018, enquanto Alckmin virará pré-candidato natural tucano se for reeleito, ainda mais com Aécio dando vexame nas urnas. Portanto o adversário de Campos em 2018 seria Alckmin e não Dilma.
2) Alckmin vai ao segundo turno em SP e Aécio vai ao segundo turno no Brasil.
Também não interessará a Campos fortalecer dois possíveis adversários em 2018: Alckmin e Aécio. Pela lógica, interessará mais a Campos negociar apoio a Dilma para ter protagonismo político no governo e não ficar "no sereno" durante quatro anos, esperando 2018 chegar.
3) Alckmin vence no primeiro turno em SP e Campos vai ao segundo turno no Brasil.
Com eleição liquidada e Aécio fora do segundo turno, Alckmin se tornaria imediatamente o presidenciável tucano em 2018, quando Dilma não poderá ser candidata. Portanto Campos seria seu futuro principal adversário e não Dilma. Não haveria interesse dos tucanos em fortalecer Campos. A maioria do "alto clero" tucano faria corpo mole no segundo turno, para o PSB não tomar do PSDB o lugar de segunda força política na expectativa de poder para 2018.
4) Alckmin vai ao segundo turno em SP e Campos vai ao segundo turno no Brasil.
Pelo exposto no cenário 3 acima, esta seria a única forma de Alckmin suar a camisa por Campos em um segundo turno. Só assim os dois precisariam do apoio do outro. Mais um motivo para interessar à Campos a candidatura própria no primeiro turno, para forçar haver segundo turno em São Paulo.
5) Alckmin vence no primeiro turno em SP e Aécio vai ao segundo turno no Brasil.
Para Campos é semelhante ao cenário 2 acima. Não interessará fortalecer dois possíveis adversários em 2018: Alckmin e Aécio.
Como se vê, por mais que Aécio e Campos jantem juntos no restaurante Fasano em Ipanema, e Merval Pereira escreva sobre uma suposta "união da oposição", são adversários não só para tentar ir ao segundo turno em 2014, mas também para saírem desta eleição pelo menos como principal nome para 2018.
E nesta disputa, a conta não fecha se um suar camisa pelo outro no segundo turno, a não ser que haja palanques estaduais do PSB e PSDB em jogo também no segundo turno, para negociar trocas de apoio que tragam vantagens para os dois lados.
Daí a candidatura própria em São Paulo se tornar interessante para o PSB, mas não por questões programáticas como gosta de dizer Marina, e sim pelo pragmatismo da raposa política que Eduardo Campos é.
Campos praticamente joga a toalha em 2014 e mira 2018
O apoio à Alckmin já no primeiro turno poderia trazer mais votos para Campos em São Paulo, dividindo votos demotucanos com Aécio. Campos poderia se apresentar mais palatável do que Aécio para o eleitorado de Alckmin, em um palanque duplo. Facilitaria as chances de Campos chegar ao segundo turno, mas dificilmente o ajudaria a vencer no segundo turno, por todos os motivos expostos e por outros. Seria uma ousadia aventureira de apostar no tudo ou nada em 2014, com baixa probabilidade de vitória. Se não desse certo (e só a vitória total seria dar certo), Campos viraria carta fora do baralho em 2018, assim como ocorreu com José Serra em 2010. Mesmo indo para o segundo turno e tendo votação expressiva, Serra passou a ser visto como certeza de derrota em 2014, após fazer uma campanha na base do tudo ou nada.
A candidatura própria do PSB paulista é o contrário. É baixar a expectativa de Campos ser "zebra", vencendo em 2014, para se posicionar melhor para 2018.
Assim, Campos opta por ter cartas na manga para negociar apoios estaduais do PSB no segundo turno, lhe dando protagonismo, espaços no poder, e deixa uma porta aberta para reposicionamento político (conforme o lado que o vento das urnas soprar), mesmo que ele fique fora do segundo turno nas eleições presidenciais.
Bom para Padilha, ruim para Alckmin
Se a decisão de Campos visa seu cálculo de raposa política, o resultado disso é ruim para Alckmin e bom para o ministro da saúde Alexandre Padilha (PT-SP). Um candidato do PSB deve tirar mais votos de Alckmin, do eleitorado anti-petista, enfraquecendo o tucano. Com isso, aumentam as chances de Padilha vencer em São Paulo.
Comentários