D. Renan I precisa de um SenadoLeaks!

 Valter Campanato / ABr

 As alardeadas economias feitas na gestão de Renan Calheiros não resistem a um simples exame por parte de qualquer observador atento.

Daniel Quoist

O presidente do Senado Federal Renan Calheiros tem feito das tripas coração para passar a imagem de administrador austero e eficiente, mas tem conseguido não mais que camuflar com pesadas camadas de verniz o gestor medíocre e atrapalhado que na realidade é. Calheiros é sério candidato a ser o pior presidente que o Senado brasileiro teve em sua história que tem início em 1826.



O Senado Federal, conforme divulgado em seu sítio na internet, vai deixar de executar R$ 193,7 milhões do Orçamento previsto para o ano de 2013. "Boa parte da economia foi alcançada com as medidas aplicadas desde a posse do senador Renan Calheiros (PMDB-AL) na presidência da Casa. O valor equivale a cerca de 2/3 da economia estimada para o biênio, de R$ 300 milhões", afirma-se no sítio.



A verdade é que, vendo assim em números redondos, pode se contrabandear muito gato por lebre. Parte considerável da economia é com a extinção de funções comissionadas que desde há muito estavam vagas. Outra parte tem a ver com a novela das Gratificações de Desempenho (GD), aprovadas com estardalhaço há pouco mais de um ano pela Mesa Diretora e até o momento não implementado o pagamento aos servidores. Cortes onde seria urgente e inadiável deixaram de ser feitos: aqueles que tratam do custeio da estrutura dispendiosa e desnecessária dos gabinetes dos senadores e os generosos gastos com despesas telefônicas e combustível para a frota de automóveis oficiais são apenas dois casos clamorosos que a demagogia de Calheiros tenta encobrir. Gastos com saúde? Veremos adiante.



As alardeadas economias feitas em sua gestão não resistem a um simples exame por parte de qualquer observador atento. Promoveu cortes? Sim. Muitos cortes, mas em áreas indevidas, e justamente aquelas em que o Senado se sobressaía como ilha de eficiência - segurança, limpeza, manutenção dos edifícios, funcionamento de elevadores. Trocando em miúdos, o Senado parece à beira de um colapso administrativo e é comum a falta de ascensoristas e de limpeza de dezenas de banheiros, principalmente os de uso público. No campo administrativo, os servidores têm de conviver com constante falta de material de expediente tais com toner para copiadoras e cartuchos para impressoras.



Conversando com consultores, advogados e analistas legislativos, a reclamação sob a forma como o Senado vem sendo (mal) administrado é geral. Há um clima de desmotivação acentuado, em parte explicado por decisões equivocadas, como a instituição do ponto biométrico, que mesmo tendo tudo para ser eficiente, resvala no enorme número de servidores isentos da obrigatoriedade. E estes privilegiados são exatamente os que mais necessitariam controle de frequência - funcionários dos gabinetes senatoriais.



Outra medida impopular foi o fim do Serviço Médico, há décadas existente no Senado e sumariamente extinto por Renan Calheiros. O resultado é que os servidores perderam esse atendimento, mas os gastos - que deveriam ser monitorados e até mesmo proibidos - com hospitais da elite brasileira, como os paulistanos Sírio Libanês e Albert Einstein, não deixam de subir sempre na casa dos milhões. E é assim que o presidente faz a política do corporativismo seletivo: tudo para seus pares senadores e nada para quem mantém a Casa funcionando, seus servidores.



Nos corredores do Senado a insatisfação é geral e sempre que dois ou três servidores estão conversando o assunto é um só - nunca antes a Casa foi presidida por alguém tão mal assessorado. É o clima de clara conspiração tomando corpo.



E o senador Renan Calheiros deveria saber, pela própria experiência de quando esteve a um passo de ser guilhotinado por seus pares por desmandos em 2007, que o bom gestor deve manter sempre elevada a autoestima dos subordinados, valorizando seus esforços, emitindo sinais de satisfação, e se não pode melhorar a vida funcional, que ao menos não a prejudique.



Se até bem pouco tempo o Senado se destacava como ilha de excelência administrativa, principalmente se comparado à Câmara dos Deputados, hoje a situação é exatamente inversa. É comum que funcionários louvem a gestão do presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves e demonizem a de Renan Calheiros. E fazem, inclusive, usando ilustrativas planilhas e powerpoints comparando uma e outra.



Servidores reclamam que a mídia negativa parece ter compromisso com a gestão Calheiros. Desde sua posse em 2013, muitos foram os escândalos envolvendo diretamente o presidente e salpicando qual chuva de granizo todo o corpo funcional. Alguns destes, como o da milionária compra de sua nova mansão no Lago Sul, o metro quadrado mais valorizado de Brasília, entre outros mais prosaicos, dão conta do orçamento de marajá para abastecer as despensas da casa da Presidência.



Tudo indica que já a partir de janeiro próximo alguns assuntos espinhosos envolvendo Calheiros abasteçam a safra de péssimas notícias para o presidente. E os servidores têm experiência em vazamentos seletivos de anomalias decisórias, principalmente em ano eleitoral. Sabem o que vazar, quando vazar e, mais delicado, para quem vazar.



O recado será duro para d. Renan I, autoproclamado Imperador do Brasil, que usa e abusa de aeronaves federais ao seu bel querer e, uma vez chegando ao conhecimento do distinto público tais rei,cindentes malfeitorias, logo se safa ressarcindo singelamente os custos dos voos da escancarada falta ética no serviço público.



É como se um indivíduo alojasse toda a família no famoso Palazzo Pamphili em Roma, xede da Embaixada com vista para a Piazza Navona: pela lógica do presidente do Senado, se esse hipotético caso ocorresse e vazasse para a imprensa, o sujeito não hesitaria em ressarcir os custos de seu uso e logo recolheria aos cofres públicos as diárias da suntuosa hospedaria, mandada construir por ninguém menos que o Papa Inocêncio X e tendo como arquiteto o consagrado Girolamo Rainaldi.



Que venha a lume o 'SenadoLeaks'.





Créditos da foto: Valter Campanato / ABr

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