Por que novelas são um lixo? Um diretor da Globo dá as dicas

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Lixo
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A série “Homeland” terminou no domingo. O último episódio da terceira temporada obteve as chamadas mixed reviews: foi malhada e elogiada em igual medida. “Homeland” conta a história de um soldado americano, Nicholas Brody (Damian Lewis), capturado no Iraque. Lá, testemunha os ataques dos EUA a inocentes e sofre lavagem cerebral. Volta como terrorista. Acaba se apaixonando por uma agente da CIA, Carrie Mathison (Claire Danes), que sofre de PMD.

“Homeland” não é impecável como “Breaking Bad”, mas, como dramaturgia, tem complexidade, excelentes personagens, pathos, texto envolvente, trama intrincada — enfim, entretenimento de primeira. Um dos autores, Howard Gordon, falou sobre suas influências. “Todos os livros de John Le Carré”, diz. No que se baseou para criar Carrie? “Em Chicken Little e Fox Mulder [o agente de 'Arquivo X']”.
Simples assim.
Eu pensava nisso quando li uma entrevista ao “Estadão” de um diretor da Globo, Luiz Fernando Carvalho, sobre as novelas. Por que as séries melhoraram tanto e as nossas novelas continuam tão ruins? Por têm de ser emburrecedoras, histéricas, pobres?
A resposta, de certo modo, está no que Carvalho deixa de falar e, principalmente, no blablablá pretensioso.
Ele diz que está adaptando Graciliano Ramos e Clarice Lispector. O que isso significa?  “Significa dizer que um país muito mais rico e que precisa ser constantemente revelado está sendo desperdiçado. Significa dizer que a tal indústria cultural segue reivindicando o antigo modelo, excludente, excessivamente centralizado no eixo Rio-São Paulo”.
A TV precisa mudar, ele admite. “Precisamos pensar em uma televisão do futuro. É fundamental abrirmos uma reflexão dos conteúdos paralelamente à linha de produção diária”, afirma. “A televisão pode se tornar mais leve e fluida, transparente em tudo”.
Ainda: “Por mais que haja boas intenções, falta o salto do pensamento, do desejo, uma ação corajosa em direção às pesquisas estéticas, às novas linguagens artísticas e aos novos formatos e modelos de produção”, diz ele.
O que diabos quer dizer reflexão dos conteúdos paralelamente à linha de produção diária? E uma televisão leve e fluida? E o salto do desejo? E as boas intenções?
A julgar pelo que ele diz, teremos pela frente uma atração revolucionária. Carvalho vai cuidar da nova das 6, “Meu Pedacinho de Chão”, de Benedito Ruy Barbosa. A não ser que aconteça um cataclisma, dificilmente vai sair alguma coisa decente daí. Sim, as telenovelas perdem público por causa da a Internet, dos canais a cabo etc. Mas também correm para a extinção porque são uma porcaria.
Veja bem, o problema não é ser popular. Antes de ser redimido pelos franceses da Nouvelle Vague, Hitchcock era massacrado por ser “comercial”. Você não encontrará nenhuma menção dele a saltos do pensamento ou fluidezes. “Um bom filme é quando o preço do jantar, do ingresso e da babá valem a pena”, dizia. “A duração deve estar diretamente relacionada à resistência da bexiga humana”.
A papagaiada nefelibata de Carvalho é a prova de que quem faz novela não tem a menor ideia de para onde ir, mas sabe que produz um artigo em extinção. A única salvação é o Chicken Little.
Sobre o Autor
Diretor-adjunto do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.

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