Mar leva sete surfistas na praia do Meco

 

 

No Meco, só a rebentação das ondas quebra o silêncio da espera

As buscas continuaram esta segunda-feira na Praia de Moinho



No Meco, só a rebentação das ondas quebra o silêncio da espera

As buscas continuaram esta segunda-feira na Praia de Moinho de Baixo, no Meco, mas nenhum dos cinco jovens desaparecidos foi encontrado. Com o passar das horas, a situação torna-se cada vez “mais complicada e difícil”, admite o comandante do Porto de Setúbal


Quando, no domingo, as famílias começaram a ser chamadas para irem à Praia de Moinho de Baixo, no Meco, saber que nessa madrugada o mar tinha levado seis jovens, ouviram-se gritos, choros, e revolta, houve familiares a desmaiar. Nesta segunda-feira, o desespero não era menor e continuava a haver muitas lágrimas e abraços no areal, mas o que mais se ouvia era um silêncio pesado que só a rebentação furiosa das ondas quebrava.
Os familiares, com rostos cansados, fechados, de olhar vago, não arredaram pé e continuaram à espera durante todo o dia. Porém,  além do rapaz que sobreviveu e do corpo que foi encontrado na manhã de domingo, continuam desaparecidos cinco estudantes da Universidade Lusófona de Lisboa. As buscas marítimas foram suspensas ao cair do sol, mantendo-se apenas as equipas em terra.
Entre o grupo de sete jovens, com idades entre os 21 e os 25 anos, que foi até esta praia na madrugada de domingo, continuam desaparecidos quatro raparigas e um rapaz.
Na Praia de Moinho de Baixo, no Meco, muitas perguntas continuam sem resposta. O que terá levado sete jovens trajados a ir à uma da manhã até à praia, numa noite de Inverno e de maré cheia, depois de um jantar numa casa que teriam arrendado para passar o fim-de-semana em Aiana de Cima, junto a Alfarim? Não se aperceberam do perigo? Não terão visto o tamanho das ondas na escuridão da noite nem ouviram o barulho da rebentação?
O proprietário de um restaurante na zona, Fernando Costa, terá sido a última pessoa a ver o grupo na madrugada de domingo. "Estava na esplanada a fumar um cigarro e vi-os passar. Achei estranho estarem todos vestidos de igual, trajados. Vi-os a descer a estrada em direcção à praia. Iam sossegados. Só estranhei irem para a praia com este frio. Nesta altura não é costume".
Argentino Veríssimo, 85 anos, conhece bem aquele mar. Foi pescador e saiu muitas vezes no barco Galinho da Manhã para enfrentar as ondas. Diz que o mar merece sempre respeito, mesmo quando parece calmo. “Tem de se respeitar as barbas brancas, a espuma do mar. A mocidade gosta de ver o mar, de estar ali a brincar e a conversar, mas se vier uma onda cavaleira não têm tempo de fugir nem nada. Nem dão por ela”, assegura Argentino, garantindo que no fim-de-semana o mar estava “três vezes mais bravo”. Tanto este antigo pescador como o comandante do Porto de Setúbal não têm memória de tragédia semelhante na Praia de Moinho de Baixo, no Meco.
Apesar de já ter conversado com o jovem que conseguiu sobreviver e pedir ajuda, o comandante do Porto de Setúbal, Lopes da Costa, defende que não é a altura apropriada para se fazer a reconstituição exacta daquela madrugada, porque essa descrição dos acontecimentos não é fundamental para a estratégia das buscas. Também não confirmou se os jovens estariam ou não em praxes naquela altura. “Quando falei com o jovem, concentrei-me em saber os contactos das famílias, o que não foi fácil. Não é altura para estar apurar essas causas, agora estamos concentrados nas buscas”, defende o comandante, deixando esse apuramento para mais tarde.
Na segunda-feira, no terreno, além de psicólogos que continuavam a apoiar as famílias, havia cerca de 50 operacionais a trabalhar no processo de buscas. Ao todo, os meios que já colaboraram incluem Autoridade Marítima, Protecção Civil, bombeiros, INEM, GNR, e Força Aérea. Os meios aéreos chegaram a ser suspensos, mas na tarde de segunda-feira um helicóptero voltou a sobrevoar a zona.
Decidiu-se também alargar a zona de buscas marítimas, em extensão, até bem perto do Cabo Espichel, entre a Lagoa de Albufeira e a Praia dos Lagosteiros, e em profundidade – distância em relação à costa -, passando de três para cinco milhas náuticas. A estratégia tem passado por suspender as buscas marítimas durante a noite, consideradas pouco eficazes sem luz, e manter durante esse período apenas as terrestres. Na terça-feira, quando o sol nascer, os meios marítimos voltarão ao terreno e a estratégia será ponderada, em função das condições meteorológicas.
No areal, os bombeiros e os pescadores garantiam que no fim-de-semana as ondas estariam ainda maiores. Mas mesmo na tarde de segunda-feira o barulho da rebentação era forte e as ondas gigantes. Alguns curiosos que se aproximavam espantavam-se com o som furioso do mar e exclamavam como poderiam os jovens não ter sentido medo nem medido o perigo. O comandante Lopes da Costa garante que naquela praia as ondas podem atingir, na zona de rebentação, quatro a cinco metros.
“Estamos a empenhar tudo o que podemos, temos de aguardar. Mas à medida que o tempo passa, a situação fica mais complicada, não fica mais fácil”, admitia o comandante do Porto de Setúbal. A equipa de psicólogos não prestava declarações aos jornalistas, estando apenas concentrada em apoiar os familiares que se mantinham entre o areal e as tendas montadas na zona. À espera, de olhos postos no mar. Entre o silêncio, as lágrimas e os abraços prolongados de conhecidos que iam chegando à praia.
A Universidade Lusófona também decidiu decretar três dias de luto e disponibilizar alguns docentes que leccionam na área da psicologia para darem apoio aos familiares dos alunos que foram vítimas das ondas na Praia de Moinho de Baixo, no Meco.

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