Lula entra em cena e disputa PT x PMDB vira xadrez político no RJ


Foto: Heinrich Aikawa/Instituto Lula

A entrada em cena de Lula significou, ainda que os ânimos não estejam totalmente apaziguados, uma trégua que pode durar até março do ano que vem.

Rio de Janeiro – Decidido a não deixar que a intensa disputa pela sucessão do governador Sérgio Cabral extrapole os limites do Rio de Janeiro, contamine a aliança nacional entre o PT e o PMDB e termine por atrapalhar a campanha à reeleição da presidenta Dilma Rousseff, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva lançou mão de sua conhecida capacidade de persuasão para transformar uma violenta batalha campal em um sutil jogo de xadrez.



Após meses de públicos e mútuos ataques entre petistas que querem lançar a candidatura do senador Lindbergh Farias ao governo estadual e peemedebistas que preferem a candidatura do vice-governador Luiz Fernando Pezão, a entrada em cena de Lula significou, ainda que os ânimos não estejam totalmente apaziguados, uma trégua que pode durar até março do ano que vem. Até lá, cada um dos lados dessa batalha política tem razões para apostar que o tempo será suficiente para sepultar de vez as pretensões eleitorais do adversário (ou aliado?).

A primeira conseqüência direta da intervenção de Lula na disputa fluminense foi o adiamento do desembarque petista do governo Cabral, inicialmente anunciado para o início de dezembro. Após conversas que envolveram Lindbergh, a direção regional petista, o presidente nacional do partido, Rui Falcão, e a presidenta Dilma, o PT decidiu entregar seus cargos somente em março, quando Cabral provavelmente também deixará o governo.

No primeiro escalão estadual, os petistas comandam as secretarias do Ambiente, com o ex-ministro Carlos Minc, e de Assistência Social e Direitos Humanos, com o deputado Zaqueu Teixeira. Logo após a confirmação do adiamento da saída do PT, Cabral anunciou sua intenção de deixar o cargo em 31 de março para concorrer ao Senado pelo PMDB. Assim sendo, Pezão seria governador do Rio por nove meses, até o fim de 2014.

Posto esse cenário, tem início um processo político onde os dois partidos esperam ter o tempo como principal aliado. Do lado petista, a expectativa é que se aprofunde até março o atual cenário revelado pelas pesquisas de intenção de voto, com Lindbergh competitivo e Pezão estacionado. Isso acontecendo, o PT – e Lula, em particular – teria o argumento necessário para, em nome da manutenção da aliança no Rio, pedir ao PMDB que apoiasse Lindbergh em uma chapa única que contaria ainda com Cabral como candidato a senador.

Embora todos os discursos em defesa da candidatura de Pezão permaneçam firmes, até mesmo a direção nacional do PMDB já emitiu sinais de que a opção da dobradinha com o PT na cabeça da chapa não está descartada: “É importante o PT ter calma e esperar um pouco”, disse o presidente nacional do PMDB, senador Valdir Raupp (RO).

Por outro lado, a expectativa do PMDB é que até março Pezão cresça nas pesquisas e se torne um candidato viável. Se, nos próximos meses, as posições entre os dois pré-candidatos nas pesquisas se aproximarem, o PMDB poderá retomar sua pregação em favor da reciprocidade, discurso que foi abandonado devido ao mau desempenho de Pezão e, segundo o qual, o apoio peemedebista à reeleição de Dilma justificaria o apoio do PT ao atual vice-governador, já que ambos representariam “a continuidade dos projetos”.

A direção regional do PMDB acredita no crescimento de Pezão, pois mesmo com todo o desgaste na popularidade de Cabral registrado nas pesquisas, as mesmas mostram também uma faixa de apoio em torno de 20%, bem acima dos 5% que o pré-candidato do partido vem registrando nas pesquisas. Além disso, uma vez exercendo o papel de governador, Pezão terá uma enorme visibilidade até o dia das eleições.

Abraço de afogado

A ofensiva de Lula começou a ganhar corpo no último dia de novembro, data que a direção do PT no Rio havia chegado a colocar como limite para o desembarque do governo estadual. O que aconteceu neste dia, no entanto, foi uma longa conversa entre Lula e Dilma em Brasília, seguida, dois dias depois, por outra longa conversa, desta vez com as presenças de Lindbergh e Falcão, promovida pelo ex-presidente em São Paulo. Um efeito imediato dessas conversas foi a submersão de Lindbergh que, para não cair na tentação de atacar Cabral, tem evitado discursos públicos e até mesmo os jornalistas. Outro efeito foi a significativa mudança no tom das declarações do governador: “PMDB e PT governam o Rio juntos há sete anos. Fizemos muitas coisas juntos. Somos aliados e tenho o maior respeito pelos companheiros do PT”, disse.

Apesar da trégua imposta a petistas e peemedebistas, alguns ataques esporádicos continuam. O deputado federal Leonardo Picciani - filho do presidente regional do PMDB e principal vetor de atrito com o PT, o ex-deputado Jorge Picciani - afirmou que os petistas só não deixaram o governo estadual em dezembro “porque gostam de cargo” e “para não perderem o 13º salário”. Em outra declaração considerada ofensiva pelos petistas, o próprio Pezão afirmou que “daria o que o PT pedisse” para que o partido aliado o apoiasse nas eleições do ano que vem.

Entre os petistas, um setor defende a ruptura total com Cabral que, assim sendo, não comporia chapa com Lindbergh. Essa posição tende a ganhar corpo internamente após a posse do novo presidente do PT-RJ, Washington Quaquá, que também é prefeito de Maricá: “A rejeição ao governador é grande e certamente irá se materializar durante a campanha eleitoral. Cabral senador na chapa de Lindbergh pode ser um abraço de afogado”, diz um dirigente regional petista, que pede para não ter o nome revelado. A mesma expressão é utilizada pelo deputado estadual Róbson Leite que, ao lado de Quaquá e dos deputados federais Alessandro Molon e Jorge Bittar, dão sustentação às pretensões petistas de candidatura própria: “Uma aliança com o PMDB no Rio seria um abraço de afogados”, diz.

Pesquisas

No mesmo dia em que Sérgio Cabral anunciou sua intenção de deixar o governo do Rio em março para concorrer ao Senado, a divulgação de uma pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha revelou o pior resultado para o governador desde que assumiu o cargo em janeiro de 2007. O índice de pessoas que consideram o governo Cabral “ruim ou péssimo” atingiu 38%, um ponto percentual a menos do que aqueles que consideram o governo apenas “regular”. Já os que consideram a gestão de Cabral “boa ou ótima” são 20% dos entrevistados, margem que enche o PMDB de esperança quando ao possível crescimento de Pezão.

Já nas duas mais recentes pesquisas de intenção de voto para o governo do Rio de Janeiro, realizadas no fim de novembro pelos institutos Ibope e Datafolha, a disputa aparece como indefinida. No cenário com o maior número de candidatos proposto pelo Ibope, a liderança cabe ao ministro da Pesca, Marcelo Crivella (PRB), que aparece com 15,5% das intenções de voto. Em seguida, em situação de empate técnico, aparecem o deputado federal e ex-governador Anthony Garotinho (PR), com 12,5%, e o senador Lindbergh Farias (PT), com 11,4%. No segundo pelotão, aparece a deputada federal Jandira Feghali (PCdoB), com 5,8% das intenções de voto, seguida pelo vereador e ex-prefeito Cesar Maia (DEM), com 5,4%, por Bernardinho do Vôlei (PSDB), com 4,4%, e só então Luiz Fernando Pezão (PMDB), com 4%. Completam a lista de candidatos citados na pesquisa do Ibope os deputados Miro Teixeira (PROS), com 2,1/%, e Sandro Matos (PDT), com 0,8%.

Na pesquisa do Instituto Datafolha, por sua vez, Garotinho lidera com 21% das intenções de voto, seguido por Lindbergh e Crivella, empatados em 15%. No quarto lugar surge Cesar Maia (11%), seguido por Pezão (5%), Miro Teixeira (3%), Bernardinho (2%) e o candidato do PSOL, o ex-deputado Milton Temer (2%). A candidatura de Jandira Feghali não foi considerada pelo Datafolha, assim como o Ibope não considerou a candidatura de Temer. Diante desse quadro, a maior expectativa de Lula, segundo interlocutores, é que as candidaturas do campo da base aliada se mantenham e que Crivella e Pezão venham a apoiar Lindbergh em um eventual segundo turno, provavelmente contra Garotinho. Enquanto isso, PT e PMDB ainda nutrem esperanças de dar um xeque-mate no adversário (ou aliado?) até o fim de março.



Créditos da foto: Arquivo

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