A “defesa” de Tuma por Nassif segundo Augusto Nunes

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Quem conhece o jornalista Luis Nassif conhece o histórico combate dele ao que chama de “jornalismo de manada”, ou seja, joga-se uma denúncia no ar e os pistoleiros de plantão já saem atirando; linchando o acusado antes de qualquer investigação jornalística e não dando a mínima chance para o contraditório. Para ficar em dois exemplos, cito o “Escândalo Collor” e o “Escândalo da Escola de Base” – quando, enquanto jorrava na imprensa uma correnteza insana, Nassif remava contra insistindo no apuro jornalístico. De alguns anos para cá, a coisa só piorou. Pois além do jornalismo de mandada, agora reinam as denúncias seletivas, ou seja, de um lado a velha mídia omite as denúncias dos aliados (dos donos da mídia) e, do outro, reserva só tiros contra os adversários.

O caso Tuma Júnior é um bom exemplo. Quando este servia ao governo petista (antipático aos donos da velha mídia), jornais e revistas não titubearam em usar grampos vazados pela PF para chamá-lo de “chefe de contrabando” para baixo. Agora, quando este lança um livro atacando petistas, a velha mídia não pensa duas vezes em alçá-lo como herói, levando a sério todas as denúncias de quem outrora reputava como titica de cavalo de bandido. Aliás, esta prática da velha mídia de dar voz a qualquer acusador (não importando a idoneidade deste) rendeu a queda do ministro dos esportes Orlando Silva, acusado de “levar propina”. O acusador? Um coronel da PM que anteriormente a imprensa noticiara como “preso por receptação”. A timidez com que a imprensa, depois, noticiou a inocência de Orlando Silva no caso foi inversamente proporcional às notícias que levaram a sério as acusações do tal coronel da PM.
Para tentar desacreditar a blogosfera (que chama de “esgotosfera”), isentar Tuma Júnior e redimir a flagrante parcialidade da Veja – que hoje santifica o mesmo Tuma Jr q antes satanizou – , Augusto Nunes usou um post de Nassif de 2010. O trecho em que Nunes cita Nassif é este (clique AQUI para o post de Nunes completo):
“Luis Nassif, por exemplo, enxergou outra conspiração na reportagem do Estadão sobre o aparente envolvimento do secretário nacional de Justiça com a máfia chinesa que age em São Paulo. Encabeçada pelo próprio blogueiro, uma lista de vítimas que Nassif qualificou de “assassinato de reputações” incluiu o nome do secretário nacional de Justiça.
Confiram o que Nassif escreveu em 7 de maio de 2010:
‘O delegado Romeu Tuma Junior consegue o bloqueio das contas do Opportunity nos Estados Unidos e sugere a utilização dos recursos no Pronasci (Programa Nacional de Segurança Pública). É alvo de um ataque, agora do Estadão, em cima de vazamento seletivo de grampos, apesar de nem o Ministério Público ter encontrado elementos para indiciá-lo. Ou seja, um grampo, que não se sabe de onde surgiu, atribuído à Polícia Federal, sem que esta confirme, é transformado em peça de acusação’.”
Interessante notar o zelo de Nunes ao usar a expressão “aparente envolvimento” de Tuma Jr. com a máfia chinesa, ou seja, tem extremo zelo com a reputação de quem o veículo em que trabalha já chamou de “muambeiro” e “meliante”. E ainda usou um post descontextualizado de Nassif para tentar dizer que este estava defendendo Tuma Júnior. Clique AQUI para conferir o post de Nassif. Aqui cabem duas observações importantes. Em primeiro lugar, o post de Nassif não era sobre Tuma Jr, mas sobre algo que o próprio título explica: “Os assassinatos de reputações nas guerras comerciais”. Conforme se nota, a expressão “assassinato de reputação” (título do livro do Tuma Jr.) foi popularizada por Nassif. Evidente que Nunes omite o contexto de vários posts de Nassif sobre a polêmica Oparação Satiagraha e que aquele (deve ter sido a melhor "defesa" a Tuma Jr que encontrou) enumerava seis incríveis coincidências após a operação da PF que prendeu o banqueiro que era acusado de ter tentáculos não só em todas as esferas do poder (Judiciário, PF etc), mas também na grande imprensa. Em segundo lugar, o post do Nassif é coerente não apenas com a histórica posição dele em relação as denúncias seletivas, mas também com a própria “neo-moralidade” da revista Veja ao expor a “denúncia” de Tuma Jr, que afirma que “o PT tentou vazar denúncias sobre o cartel do metrô em 2008 para prejudicar os tucanos” – o que, aliás, é uma enorme barriga (clique AQUI). O que Nassif, na época, tinha conhecimento para publicar seu post eram notícias dando conta de que, segundo a própria PF, as "escutas da PF" publicadas pelo Estadão poderiam ser clandestinas (clique AQUI para a notícia).
Eis a incrível "coerência" da velha mídia: se para esta é pecado os petistas quererem "vazar denúncias" para "prejudicar os tucanos" (fato que, segundo a própria Veja, não se consumou), por outro lado ela considera normal dar vazão às denúncias contra petistas de alguém que ela, a mídia, já chamou de "meliante".

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