Westvleteren: Melhor Cerveja Do Mundo Que Só Se Bebe Ali Perto Onde Os Monges Produzem
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fotos de Cilmara Bedaque
Nós, Lupulinas, adoramos fazer turismo cervejeiro. Visitar pequenas cervejarias pelo país e pelo mundo é garantia de nos depararmos com regiões, cidades e situações que não constam nos roteiros e guias regulares. Para isso, o automóvel tem sido um grande aliado, já que as fábricas, mosteiros e micro-cervejarias se localizam em pequenas cidades do interior deixando a hospedagem mais barata e a viagem mais divertida :)
Um dia, decidimos que era o momento de conhecer a tão falada Melhor Cerveja Do Mundo Que Só Se Bebe Ali Perto Onde Os Monges Produzem. Fomos então para Westvleteren, oeste da Bélgica, quase na fronteira com a França, na Abadia de Saint Sixtus, em frente ao In de Vrede, bar-restaurante onde se bebe a tal Melhor Do Mundo.
É bom que se saiba que os monges produtores de cerveja trapista são da Ordem dos Cistercienses Reformados de Estrita Observância (amamos este nome) e que, mesmo existindo 170 mosteiros desta ordem no mundo, apenas sete têm licença para produzir a renomada iguaria líquida. Seis deles ficam na Bélgica (Rochefort, Westmalle, Westvleteren, Orval, Achel e Chimay) e um na Holanda (La Trappe).
Vínhamos fazendo pequenas escalas pelos Países Baixos, desde Amsterdam, e resolvemos nos hospedar em Poperinge, pequena cidade de 12 mil habitantes a 11 km da abadia. Pouso calculadamente estratégico, bem perto da Melhor do Mundo. Por recomendação do amigo Edu Passarelli, ficamos no Café de La Paix que, além de pequeno hotel, é também um restaurante com ótimas cervejas locais. Se você preferir fazer um bate-e-volta, vindo de cidades mais conhecidas e turísticas, há boas opções: Westvleteren fica a 70 km de Bruges (um encanto de cidade e com três ótimos bares/cervejarias, sobre os quais falaremos em outro post), a 135 km de Bruxelas e 280 km de Paris.
Vale pernoitar em Poperinge, cercada pelas plantações dos melhores lúpulos da Bélgica e uma cidade muito agradável, cheia de história. Logo na praça principal nos surpreendeu a estátua de um ser, digamos, peculiar: uma espécie de Don Quixote gnomo, montado de costas num burro e carregando uma rocha no colo. Descobrimos depois que a figura era um tal de Squire Ghybe, ser asqueroso que representa as três cidades vizinhas rivais (Gent, Bruges e Yeper), potências da indústria tecelã que governavam a província de Flandres (o burro) de maneira equivocada (de costas) carregando a cidade de Poperinge (a rocha).
In de Vrede e Saint Sixtus
Como não existem ônibus, carroças ou trens para Saint Sixtus, foi indispensável o uso do carro e um GPS porque os monges trapistas desta abadia não gostam de placas indicativas e outras facilidades que observamos em outros monastérios que visitamos. Chegar a Westvleteren é uma espécie de Corrida Maluca praticada com prazer pelos amantes da cerveja em todo o mundo (mesmo os 11 km desde Poperinge foram cheios de voltinhas).
Depois de nos perdermos e nos acharmos, encontramos a abadia, que passava por algumas reformas e muitas dificuldades financeiras. Das sete abadias com certificados para a fabricação de cervejas trapistas no mundo, o mosteiro de Westvleteren é o único que não exporta nem comercializa suas bebidas fora da região. Eliminando custos, as garrafas não têm rótulo. Isso lhe confere certa mística, mas também limita a entrada de grana. Apesar disso, eles não pretendem aumentar a produção que é trabalho de apenas dez dos trinta beneditinos que vivem no monastério.
É para o sustento dos monges e para a manutenção da produção que, em frente à abadia, funciona um grande bar que serve exclusivamente os três tipos de cervejas Westvleteren e vende copos, queijos e outros itens. Atenção, porque não é restaurante. Para acompanhar as cervejas, você pode escolher o maravilhoso queijo trapista feito com a própria cerveja, alguns embutidos, conservas e só.
Se você quiser levar bebida para o hotel ou para o Brasil, prepare-se: é dificílimo sair dali com garrafas. Quem sai com um pacote de seis, por exemplo, tem que ter agendado a compra e deve trazer de volta os cascos no dia seguinte, sob pena de ser banido para sempre (Tá, esse papo de ser banido é um exagero, mas é verdade que é quase impossível sair com garrafas de Westvleteren). Enfim, beba o que você quiser beber ali mesmo. Serão momentos inesquecíveis. Só para sofrermos, informamos que cada Wesvleteren custa um euro e sessenta centavos, menos que uma Skol na balada /o\
Qual o segredo da Melhor Cerveja do Mundo? Apostamos que há algo naquela levedura, guardada a sete chaves pelos monges desde 1838. Por sorte, ela também pode ser apreciada nas cervejas St Bernardus, da vizinha cidade de Watou que, até 1992, fabricava as Westvleteren (que depois voltaram a ser produzidas na abadia de Saint Sixtus, exigência para ostentar o selo “trapista”). Assim se você quiser saber, de longe, qual o sabor da Melhor do Mundo, beba uma St Bernardus, facilmente encontrada aqui no Brasil nas melhores casas do ramo.
Trapistas e Abadessas
Fugindo de nosso estilo resolvemos descrever as sensações que tivemos em Westvleteren experimentando a sacrossanta cerveja e suas aparentadas.
WESTVLETEREN BLONDE – garrafa de 33 cl 5,8%alc – Altamente lupulada, álcool esparramado e redondo, espuma persistente e generosa agarrando-se ao copo. Cítrica, levemente picante, mas de maneira harmoniosa com outros ingredientes, esta blonde deixa um sabor levemente amargo e delicioso em sua boca.
WESTVLETEREN BRUIN 8 – garrafa de 33cl 8% alc – dark ale – Cor marrom, chocolate bem escuro, como é característica das darks, com espuma consistente e generosa. No olfato, caramelo e marzipã, levemente perfumado. Muito lúpulo ou a qualidade do lúpulo usado nos lembra o tempo todo que estamos bebendo um líquido feito à base desta planta. Na boca, um chocolate e álcool muito bem balanceados como se um licor sem açúcar estivesse em nossa boca. Mais que chocolate sentimos a presença do cacau.
WESTVLETEREN BRUIN 12 – garrafa de 33 cl 10,2% alc – ainda uma dark ale de cor marrom parecidíssima com a 8. O aroma frutado lembrando frutas pretas nos remete às amêndoas que estão presentes também em seu sabor. Alta complexidade em seu paladar revelando um lúpulo de excelente qualidade e uma receita de raro equilíbrio. Talvez a melhor cerveja que tenhamos bebido em nossas vidas até agora. Maltada sem ser enjoativa graças às arestas proporcionadas pelas especiarias e pelo lúpulo. Aquece.
ST BERNARDUS PATER 6 – garrafa 33 cl 6,7% alc – abadessa – uma cerveja de alta fermentação, refermentada na garrafa, da região de Watou. Boa espuma, leve, de coloração marrom turva. Na boca, é redonda, sem arestas e com boa acidez. Não é doce, nem caramelizada e seu amargor é leve.
WATOU’S BIERRE BLANCHE – garrafa 33 cl 5% alc – cerveja típica da região. Alta refrescância, aroma e gosto de limão dominantes. Uma verdadeira limonada com lúpulo.
ST BERNARDUS Abt 12 – garrafa 33cl 10% alc – abadessa refermentada na garrafa com espuma densa e cremosa, aroma lupulado e cacau. Cor marrom escura e opaca. No paladar, amêndoas, secura e álcool bem amarrado ao lúpulo.
ST BERNARDUS TRIPEL 8 – garrafa 33 cl 8% alc - servida com levedo num copinho à parte, no In De Wildeman, bar de Amsterdã, que merece um post no futuro. Os toques de marzipã e amêndoas, presentes na levedura do copinho, são bem mais sutis no copão. A dica é beber um pouco da levedura do copinho intercalando com goles da cerveja e ir adicionando aos poucos a levedura ao copão.
Na saída de Poperinge atravessamos campos e campos preparados para a nova safra de lúpulos recém semeados. As estruturas de madeira que servem de apoio ao lúpulo, uma planta trepadeira, erguiam-se lado a lado da estrada. Uma boa imagem para despedida que só nos deu a brilhante idéia de voltar na época da colheita.
Donkerstraat 13
8640 Westvleteren
Telefone In de Vrede: 057/40.03.77
Telefone Westvleteren: +32 (0)70/21.00.45
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