Tolerância zero = Intolerância com os pobres

Emir Sader
por Emir Sader 

Vários governantes iam a Nova York buscar a solução mágica para o problema da violência: a política do ex-prefeito republicano Ralph Giuliani, de tolerância zero. A lógica é a de que detrás da pequena infração, estaria a grande infração, bastaria puxar o fio e se daria com as grandes conexões do crime.
   
O lado bom é que a valorização da investigação fortalece a necessidade de prender vivas as pessoas, atirando para reduzir as pessoas e não para matá-las, como acontece aqui, em que os disparos vão sempre para zonas letais do corpo dos detidos.
   

Tolerância zero vem da moral, da ética na política, em que se trata de não transigir com qualquer irregularidade no manejo das finanças públicas ou outros desvios afins. Tudo bem por aí. Mas transferi-la para a segurança pública, significa intolerância ou, mais concretamente, deter diante da simples suspeita, sempre marcada pelo preconceito e pela discriminação.

A pesquisa do Caco Barcellos já mostrava, aqui mesmo, como a grande maioria dos detidos são jovens, pobres, negros ou mulatos, em grupos nas ruas, mas a grande maioria não tinha sequer antecedente policial.

No caso de Nova York, suspeitos são os negros, os latinos, os estrangeiros de outras etnias. Foram sistematicamente vítimas da polícia nas duas décadas em que a direita governou Nova York, uma cidade progressista, pela sua própria composição étnica. Primeiro Giuliani se elegeu com a campanha da tolerância zero.

Depois, quando um democrata ia ganhar, logo depois dos atentados de 2001, o milhardário Bloomberg explorou os atentados e se elegeu e reelegeu por duas vezes.

A campanha de Bill de Blasio fez a crítica dessa politica, assim como da exclusão social em Nova York, uma cidade extremamente desigual em que os 20% das famílias mais pobres ganham em media 8.993 dólares por ano, enquanto os 5% mais ricos ganham 436.931 dólares ao ano.

Para diminuir esse abismo, De Blasio pretende aumentar os impostos dos mais ricos – os que ganham mais de 500 mil dólares por ano -, para obter recursos para a construção de creches, atividades educacionais extracurriculares e a construção de 200 mil casas para os mais pobres.

Com a eleição do novo prefeito, Nova York vira a página dos atentados do 11 de setembro – não pela nova e horripilante construção no lugar das Torres Gêmeas – e pode voltar a ser a cidade acolhedora, multirracial, pluralista que por isso mesmo, é odiada pelo resto dos EUA.

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