Presença de Arminio

Arminio Fraga e Pedro Malan

Enviado por Miguel do Rosário

Leio no blog do Kennedy Alencar, que Arminio Fraga é o ministro da Fazenda dos sonhos de Aécio Neves. Eles já conversaram a respeito e acertaram tudo. Segundo Aécio, “uma indicação antecipada de um ministro da Fazenda com esse perfil ajudaria a campanha tucana a atrair simpatia de investidores internacionais e de boa parte do empresariado brasileiro, sobretudo do grande capital financeiro.”
Pois bem, então eu lembrei dos “bons tempos” e fui pesquisar os jornais de 1999, mais especificamente, de março daquele ano, quando Fraga assumiu a presidência do Banco Central.
Sua primeira medida foi aumentar os juros de 25% para 45%. Foi talvez a maior paulada nos juros que já se deu, em qualquer civilização, nos últimos cinco mil anos.

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A grande imprensa comemorou. Em editorial, o Globo afirmou que “as medidas anunciadas pelo novo presidente do Banco Central, Arminio Fraga, vão na direção certa”.
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Fraga falou à imprensa que, para o futuro, a tendência dos juros era cair. Ah, bom.
O que ninguém falou é que a medida de Fraga significava dezenas, quiçá centenas de bilhões de dólares, na conta dos grandes credores nacionais e internacionais, ao longo dos meses seguintes. Dinheiro fácil, líquido e certo.
No mesmo dia, o Globo anunciava que os combustíveis iriam subir e que uma comissão da Câmara havia aprovado a nova CPMF (imposto criado para aplicação em saúde, mas que no governo FHC era usado para superávit primário). O acordo político entre governo e legislativo era quase cínico. O imposto não iria para a Saúde. Tanto que os jornais afirmava, sem pejo, que o FMI aguardava, com ansiedade, a aprovação do novo imposto. Ou seja, o FMI queria a CPMF, porque esse dinheiro ia para os credores internacionais.
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Não pára por aí. Aquela sexta-feira, 5 de março de 1999, prometia muitas emoções. O colunista político do Globo, Marcio Moreira Alves, um digno jornalista que havia crescido dentro do Globo durante os esforços do jornal para se redimir com a opinião pública no pós-ditadura, comentava sobre uma certa “indiscrição” do ministro da fazenda, Pedro Malan. Malan havia encomendado estudos para a venda do Banco do Brasil e da Caixa Econômica, o que provocou fortes contestações no Congresso. É aí que grande parte do PMDB, inclusive caciques conservadores, como Sarney e seus companheiros, rompem com os tucanos.
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A tentativa de privatização da Petrobrás, Banco do Brasil e Caixa produz a grande fenda na elite política que iria sorver o PSDB e abrir espaço para uma nova coalização governamental, uma aliança entre PT e a centro-direita, representada pelo PMDB, cujo nacionalismo repetindo surpreendeu a mídia.
Mesmo com inflação estourada, juros a 45%, governo articulando não apenas para prorrogar a CPMF, mas para aumentar a alíquota, estudos para venda das últimas grandes estatais brasileiras, ministérios anunciando grandes cortes de servidores, nenhuma obra de infra-estrutura em curso, a grande mídia tentava afastar o “baixo astral”.
Teresa Cruvinel, outra colunista estrategicamente posicionada para amansar os ânimos esquerdistas do pós-ditadura, abria sua coluna daquela fatídica sexta-feira com um título solar e feliz: Apesar do baixo astral.
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Os jornais simplesmente omitivam acintosamente informações sobre as consequências terríveis para as finanças públicas daquele “choque” nos juros. A dívida brasileira, já complicada, se tornaria quase impagável.
Em resumo, o governo FHC aumentava pesadamente a carga tributária e criava novos impostos, asfixiando a classe média, não para aprimorar os serviços públicos ou fazer obras de infra-estrutura, mas para transferir mais dinheiro aos credores internacionais. A grande imprensa, sócia nessa empreitada, tinha missão de enganar a sociedade, afirmando que o remédio era necessário, e que tudo ia bem, “apesar do baixo astral”.
Enquanto isso, a Polícia Federal continuava sendo sucateada, e não havia nenhuma investigação séria, por parte do governo, contra os grandes problemas de corrupção no país. Nem na imprensa. O escândalo da compra de votos para a reeleição já havia sido devidamente abafado, a mídia preparava o terreno para as últimas grandes privatizações, entre elas a da Vale do Rio Doce.
Quem falasse em “concessão”, à época, seria considerado socialista. O governo não queria conceder nada. O objetivo era alientar completamente o patrimônio público, o mais rápido possível, entregando-lhe nas mãos de empresários politicamente afinados com o Planalto.
Bons tempos! A Globo não era incomodada por nenhum blogueiro sujo e podia continuar ganhando seu dinheiro, tranquilamente, no mercado financeiro, enganando os trouxas da classe média a quem vendia o discurso do “Estado mínimo”. Ou  seja, o governo aumentava a transferência de recursos do indivíduo para as grandes instituições controladoras do capital, Estado e bancos, através do aumento da carga tributária e juros, com auxílio luxuoso de uma imprensa sócia no butim. Não havia nenhum programas de “desoneração”, como faz Dilma.
Não havia nenhuma obra de infra-estrutura. Era só pau, pau, pau. E, no entanto, a classe média leitora do Globo, com ajuda de Marina Silva e Eduardo Campos, ainda acredita no “tripé econômico” e na maravilhosa gestão de Fernando Henrique.
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