O legado de Mandela



Em duas décadas sem apartheid, África do Sul exibe vigor econômico e social
Em 1994, a África do Sul pôs fim ao regime que segregava brancos e negros e iniciou sua trajetória rumo à igualdade de direitos civis. Nesses quase 20 anos sem apartheid, o país registrou progressos importantes em diferentes áreas, como economia, política e justiça social. Mas muito ainda precisa ser feito.
É o que aponta o relatório Two Decades of Freedom , divulgado pela Goldman Sachs, um dos principais bancos de investimento do mundo. O documento reúne dados estatísticos da África do Sul em diversas áreas, no período entre 1994 a 2013. A radiografia das mudanças no país após o fim do apartheid é acompanhada por indicações das áreas mais carentes de investimentos para que a África do Sul continue a crescer.

Avanços sociais
A comunidade de origem africana está no centro das ações políticas e econômicas dos últimos 20 anos. Não só pela necessidade de enfrentar o legado social do racismo, também porque aumentou expressivamente e hoje representa 79% dos quase 52 milhões de sul-africanos.
Crianças são as principais beneficiadas pelos programas de transferência de renda sul-africanos Foto: nevillefrankel.com
Crianças são as principais beneficiadas pelos programas de transferência de renda sul-africanos
Foto: nevillefrankel.com
A exemplo do Brasil, o governo de sul-africano investe em programas sociais para diminuir as desigualdades. Atualmente, mais de 15 milhões recebem ajuda financeira mensal do governo – desses, 70% são crianças. A transferência de renda soma US$ 10 bilhões ao ano.
As medidas de universalização do acesso a serviços, como educação, saúde, energia elétrica, água e saneamento básico surtem resultados. De acordo com a Pesquisa Geral da Família, realizada pelo governo, hoje 93% dos sul-africanos sabem ler e escrever; em 85% das casas há eletricidade e 70% das famílias usam o serviço público de saúde. Há dez anos, esse índice era de 57%.
Ainda assim, melhorar a qualidade das escolas representa um grande desafio para o Estado sul-africano. Atualmente, 77% dos 11,4 milhões de estudantes recebem educação de média ou baixa qualidade, o que pode impactar o desenvolvimento do país, principalmente em áreas que necessitam de mão de obra qualificada, como a tecnologia.
O acesso da população a ferramentas tecnológicas é um entrave ao desenvolvimento. O analfabetismo digital não é um problema só do país, mas de todo o continente, alerta o relatório. Ampliar o acesso a computadores e à internet, bem como o incentivo à realização de pesquisas científicas e ao registro de patentes é essencial, aponta o documento.
Outro entrave para os avanços sociais é a carência de infraestrutura. Estratégico para a expansão da atividade econômica por facilitar a produção e exportação de produtos, o setor exige investimentos de grande porte.
Retrato da economia
Johanesburgo, cidade mais populosa do país, reflete o desenvolvimento das últimas décadas Foto: bigskyline.com
Johanesburgo, cidade mais populosa do país, reflete o desenvolvimento das últimas décadas
Foto: bigskyline.com
De acordo com o censo nacional da África do Sul, o Produto Interno Bruto (PIB) do país mais do que duplicou nas últimas décadas, saltando de U$ 143 bilhões em 1994 para
U$ 400 bilhões atualmente, o que representa 0,5% do PIB mundial.
Já o PIB per capita teve um aumento de 40% no mesmo período, pulando de U$4,3 mil para U$6 mil em 2012. Esse fator é fruto da ascensão de 5,4 milhões de sul-africanos para a classe média. Contudo, o contraste social entre a população negra e branca ainda é significativo. Hoje, 85% dos habitantes de origem africana continuam pobres e 87% dos brancos sul-africanos estão nas classes média e alta.
Entre os desafios da economia local está o controle da inflação. O Índice de Preços ao Consumidor registrou, em setembro de 2013, uma inflação em torno de 6%. Desafio também é a taxa de desemprego, atualmente em 25%. O reflexo é evidente no consumo das famílias que vivem abaixo da linha da pobreza.
Crucial para a estabilidade econômica do país, os setores de produtos manufaturados e mineração vêm reduzindo suas participações no PIB. Segundo dados do Fundo Monetário Internacional (FMI) e da Empresa de Estatísticas da África do Sul, em 1986 a participação desses setores no PIB era de 38%, em 2012 representavam 23% do PIB. Já os bancos e mercado imobiliário aumentaram na contribuição do PIB de 17,2% em 1994 para 24% em 2012.
Pontos fortes
O relatório aponta diversos pontos fortes na economia sul-africana: área fiscal e balança monetária; tendência de redução da dívida pública e aumento das reservas estrangeiras; fortalecimento da moeda local (Rand); melhora nas avaliações das empresas locais em relação às globais; crescimento da classe média negra (o que acarretou no aumento do consumo); expansão do comércio com outros países em desenvolvimento e aumento da produtividade por pessoa inserida no mercado de trabalho.
Desafios
O crescimento sustentável depende da diminuição nos índices de desemprego e desigualdade social; ampliação do acesso a conta corrente; superação da volatilidade da moeda; aumento da taxa de poupança e diminuição das dívidas dos consumidores; aumento da produtividade no setor público e melhorias nas reservas financeiras nacionais.
Redação do brazilafrica

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