Num discurso perante uns 50 mil milicianos islamistas o líder supremo do Irão, ayatollah Ali Khamenei, lançou-se num forte ataque anti-Israel esta quarta-feira, dia em que se realiza mais uma ronda de negociações que envolvem os P5+1 – EUA, Rússia, França, Reino Unido, China e Alemanha – em Genebra. Ontem, Barack Obama pediu aos membros do Senado para não votarem já novas sanções ao Irão. O Presidente dos Estados Unidos considera que tais medidas agora seriam prejudiciais para o processo de diálogo em curso.
“Novas sanções não devem ser aplicadas durantes as actuais negociações”, transmitiu o porta-voz da Casa Branca Jay Carney que acrescentou que tais medidas “teriam maior efeito como resposta robusta, no caso de o Irão rejeitar a proposta dos P5+1 ou de não cumprir os seus compromissos”.
O Presidente norte-americano quis assim enviar um sinal forte de que privilegia a oportunidade do diálogo na resolução da disputa com o Irão, depois da abertura diplomática proporcionada este ano pela eleição do Presidente Hassan Rouhani em Teerão. Num outro sinal de desanuviamento da tensão entre o Irão e o Ocidente, o primeiro-ministro britânico David Cameron telefonou ao Presidente Rouhani, pela primeira vez.
“Ambos os líderes concordam que progressos significativos foram alcançados nas negociações de Genebra e que era importante aproveitar a oportunidade proporcionada por mais uma ronda de negociações amanhã [hoje]”, lê-se numa nota do gabinete de Cameron citada pelas Reuters que vai ao encontro da opção privilegiada por Washington e transmitida aos senadores democratas e republicanos das Comissões dos Serviços Secretos, Serviços Militares e Relações Externas, no encontro com Obama.
Os senadores mostraram no entanto algum cepticismo, por considerarem que as sanções só deviam ser aliviadas quando justificadas pelo cumprimento efectivo de alguns compromissos por parte de Teerão. Nem todos responderam manifestando confiança na táctica privilegiada por Obama, relatou depois dos encontros em Washington o senador republicano Bob Corker, citado pelas agências. Um grupo de senadores escreveu ao secretário de Estado John Kerry por considerar que não estava a ser exigido ao Irão nada que justificasse um aliviar da pressão económica, através de sanções.
Palavras do Irão contra Israel
Em Teerão, Khamenei endureceu o tom numa nova mensagem contra Israel. “As fundações do regime sionista foram muito enfraquecidas e ele está condenado a desaparecer”, disse o ayatollah, citado pela agência francesa AFP, num discurso transmitido pela estação de televisão do Estado esta quarta-feira.
O Irão, que não reconhece Israel, tinha na véspera responsabilizado o inimigo por um atentado contra a embaixada iraniana no Líbano. Ainda no início de Novembro, Khamenei tinha também atacado os EUA pela sua proximidade com Israel classificando este como "ilegítimo e bastardo".
A cerimónia desta manhã juntou comandantes da milícia Basij de todo o país para “renovar a lealdade” para com Khamenei. Este elogiou por seu lado esta força voluntária “como símbolo do poder e eficácia”. Considerando que recuar perante os inimigos é proibido no islão, Khamenei disse que eram necessárias “manobras inteligentes” perante o adversário para “chegar aos objectivos”, cita a agência oficial IRNA, sem mencionar o comentário relativo a Israel.
Num contexto em que hoje recomeçam as negociações em Genebra para um acordo sobre a actividade nuclear de Teerão, Khamenei disse ainda que não está a “interferir nos detalhes” e adiantou que “há linhas vermelhas e limites que têm de ser respeitados”. Uma delas é o direito do Irão ao poder nuclear, e o país não recuará um milímetro nesse direito, afirmou.
O ayatollah, que é a mais alta autoridade do Irão, voltou ainda a acusar os Estados Unidos de quererem deixar o Irão "de joelhos" com as sanções. "Não vão conseguir", garantiu, dizendo mais uma vez que as sanções não são eficazes. Khamenei tem-se esforçado por não dar a ideia de que um potencial recomeço das negociações implica um recuo iraniano.
Terceira ronda na Suíça
As negociações retomam esta quarta-feira em Genebra, a partir do ponto em que ficaram há duas semanas quando as partes estiveram perto de alcançar um acordo para um abrandamento da actividade nuclear em troca de um aliviar das sanções, lembra a Reuters.
Num vídeo divulgado na terça-feira, com legendas em várias línguas, o ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano Mohammad Javad Zarif considerou que havia “todas as possibilidades” para se alcançar um acordo em Genebra, notando a importância de o Ocidente negociar com o Irão “em pé de igualdade” e não tentar impôr a sua vontade.
“Estou disposto a aceitar avanços consideráveis em vez de um acordo mas estou certo de que, com a necessária vontade política, podemos progredir e chegar mesmo a acordo”, afirmou Zarif para quem a eleição este Verão de um novo Presidente no Irão tinha dado uma “oportunidade histórica” a “uma mudança de rumo”.
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