Quase todos os jornais iranianos saudaram o acordo preliminar sobre o nuclear iraniano, elogiando o sucesso da diplomacia iraniana, embora alguns não deixassem de apresentar os Estados Unidos como não sendo “dignos de confiança”.
A maioria sublinhava o esforço do ministro dos Negócios Estrangeiros, Mohammad Javad Zarif – que, para o jornal reformista Arman, merece “uma medalha de outro”. Zarif também venceu “a batalha do Facebook”, diz pelo seu lado o jornal Haft-e Sobh – tem 700 mil seguidores na sua página, um record, e quando publicou que havia um acordo na rede social, 164 mil pessoas disseram logo “gosto”.
O diário reformista Etemad publicava uma reportagem contando como muitos iranianos tinham seguido noite fora as negociações. Não só a imprensa reformista mostrava optimismo: o diário governamental Irancongratula-se com a vitória da “diplomacia da moderação”, o slogan do Presidente, Hassan Rohani, dizendo que em menos de cem dias, o Governo conseguiu que o país saísse de uma “crise de dez anos”.
Contra o tom celebratório e elogioso da esmagadora maioria da imprensa, dois diários conservadores escolheram sublinhar as dificuldades, diz a agência francesa AFP. O diário Kayhan repete que “os Estados Unidos não são dignos de confiança”, notando que o secretário de Estado John Kerry passada nem uma hora sobre a assinatura do acordo, tinha afirmado que “não reconhecia ao Irão o direito do enriquecimento de urânio” – este reconhecimento não ficou explícito no acordo, mas na prática o Irão poderá continuar a enriquecer urânio mas com limites, até 5% (e diluirá o enriquecido a 20% - que permitiria chegar mais rapidamente a um grau de enriquecimento de 90%, necessário para armas nucleares).
Também o jornal Vatan Emrooz foca esta diferença de apresentação do que foi acordado: “Zarif insiste, Kerry nega”, titula, também a propósito do direito ao enriquecimento de urânio pelo Irão. Zarif apresentou o direito ao enriquecimento como “uma das partes chave do acordo.”
Em Teerão, centenas de apoiantes – a maioria jovens estudantes – foram receber os negociadores ao aeroporto. “Não à guerra, não às sanções, não à rendição e insulto”, gritaram. A liderança iraniana apresentou este acordo como uma vitória de um modo de negociar respeitoso para com a República Islâmica.
O Presidente Rohani apresentou o acordo numa cerimónia em que estiveram presentes familiares de cientistas nucleares iranianos assassinados: o subtexto era que acordo teria sido uma vitória para quem contribuiu para o avanço do programa atómico.
O medo de israelitas e sauditas
Na região, vários países deram conta da sua preocupação, em especial Israel e a Arábia Saudita. Mais de três quartos dos israelitas (76,4%) não acreditam que o Irão vá parar o seu programa nuclear, segundo uma sondagem do diário Israel Hayom. Mais, uma maioria dos inquiridos (a amostra excluiu os 20% da população árabe) dizem que os EUA “puseram em risco os interesses israelitas ao assinar o acordo sobre o Irão”.
O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, tinha classificado o acordo como “um erro histórico” e tinha repetido que Israel não permitirá que o Irão chegue a uma capacidade nuclear militar.
Outros países temem a ascensão do Irão, que acontecerá caso o acordo preliminar se transforme num acordo final dentro dos seis meses de negociações que se seguem agora. A Arábia Saudita não reagiu de modo oficial – em termos diplomáticos, dizem analistas, não poderia criticar publicamente o acordo – mas a imprensa mostrou-se muito crítica.
“Quem é o vencedor?” questionava o diário Al-Riyadh. “São as seis potências mundiais ou o país em causa?”
“Os Estados do Golfo têm o mesmo medo que Israel”, tanto em relação “ao reforço do poder nuclear do Irão como das suas ambições regionais”. “Deixou Washington cair os seus aliados do Golfo?”, questionava-se o diário económico Iqtissadia.
A notícia de que meses de conversações secretas entre os EUA e o Irão precederam as negociações do grupo 5+1 e a República Islâmica mostrou que Washington está disposto a agir de modo mais independente dos seus tradicionais aliados na região, diz Ian Black, jornalista especialista em Médio Oriente do Guardian. O que os deixa naturalmente inseguros.
Por outro lado, os Emirados Árabes Unidos, Bahrein e Qatar saudaram o acordo, sublinhando que preferem uma solução diplomática e defendem um Médio Oriente livre de armas.
De Damasco veio uma das mais rápidas e entusiastas reacções ao acordo "histórico que garante os interesses do povo irmão iraniano", segundo uma declaração do Ministério dos Negócios Estrangeiros. O ministro sírio da Informação elogiou pelo seu lado a vitória das negociações "sobre ameaças, ultimatos, desafios e guerras".
Ao fortalecer o papel do Irão “o acordo nuclear pode criar algum movimento no impasse sírio se – e ainda é um grande se – Teerão e Moscovo usarem a sua influência em Damasco”, escreve Ian Black noGuardian. Na Al-Jazira, o analista Marwan Bishara diz que o Irão (apoiante da milícia xiita libanesa Hezbollah, que luta ao lado das forças do Presidente Bashar al-Assad) “deverá assegurar a sobrevivência de Assad”, e questiona as consequências de um maior papel da República Islâmica na Síria.
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