Greve da EBC: por uma comunicação pública de qualidade


Foto: José Cruz/ABr

Os trabalhadores da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) que iniciaram paralisação na quarta-feira (7) reivindicam, além de reajuste salarial, uma comunicação pública de qualidade.

Uma greve não só por melhores salários, mas por direitos. Assim definem os grevistas da EBC o movimento em curso na empresa, que completa duas semanas. Além das reivindicações de praxe no funcionalismo, como reajuste salarial e de benefícios acima da inflação, a paralisação segue em favor da comunicação pública de qualidade, afirmam os dirigentes do movimento.

“Para termos uma comunicação pública de qualidade no país, e que se mostre como uma alternativa ao monopólio da mídia comercial, é preciso que os funcionários da EBC se unam e lutem pela qualidade do seu trabalho”, afirma Raquel Junia, que trabalha na EBC e é diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio.


Mas tão rara quanto uma greve de jornalistas, falta disposição da diretoria da empresa em negociar um acordo mais vantajoso para os trabalhadores. Nem mesmo dez rodadas de negociações, uma semana de estado de greve e mais de dez dias com setores da emissora completamente parados foram capazes de resolver o impasse, que agora deverá ser intermediado pelo Tribunal Superior do Trabalho (TST).

A Justiça foi acionada pela diretoria da EBC, que entrou com uma ação de dissídio na semana passada após os trabalhadores rejeitarem a última proposta feita pela empresa para encerrar a greve. Trabalhadores e patrões começaram a se reunir no tribunal em Brasília no dia 19 de novembro.

“A empresa tem prometido conceder os direitos por meio de normas internas, mas somos totalmente contra. A defesa dos direitos de trabalhadoras e trabalhadores é feita com cláusulas em acordos coletivos. Não abrimos mão desta garantia”, afi rma Camila Marins, também diretora do Sindicato dos Jornalistas do Rio que participa ativamente da mobilização na cidade.

Além da intransigência nas negociações, a empresa tem lançado mão de artifícios como o assédio moral e a coação de funcionários para tentar esvaziar o movimento.

O presidente da EBC, Nelson Breve, chegou a afirmar que o impasse era “porque os empregados queriam entrar de bermuda e chinelo na empresa”, omitindo os reais motivos da greve. Sob seu comando, a empresa também emitiu comunicados de ameaça a seus empregados, tarde da noite, e chegou a conseguir uma liminar do Tribunal Superior do Trabalho para assegurar a volta de 60% dos trabalhadores.

Os sindicatos, que ainda não foram notificados da decisão, denunciam inúmeras ilegalidades na greve. Flagraram estagiários dobrando o turno, escalas extensas de empregados terceirizados, com menos de 11 horas de descanso e muitas ameaças dos chefes imediatos, que chegaram a obrigar trabalhadores que não aderiram à paralisação a assinar a folha de ponto na sala deles, além de vigiar constantemente a manifestação.

“No Rio, a gerência da TV Brasil mandou um câmera terceirizado filmar os grevistas, com o pretexto de fazer uma reportagem, que não entrou no ar. Nós lideramos o movimento pela retirada de advertência dadas injustamente a dois empregados concursados”, afirma Miguell Walter da Costa, presidente do Sindicato dos Radialistas, em referência ao iluminador Ricardo Alexandria, que se recusou a acumular funções, a Guilherme de Souza, funcionário que foi envolvido no caso da não exibição da entrevista de Marina Silva ao programa Roda Viva.

Apesar das tentativas de esvaziamento, a mobilização tem crescido para além dos estúdios e corredores da EBC. Desde o início da greve, deputados, senadores, vereadores e entidades da sociedade civil têm se manifestado em favor da paralisação e das reivindicações dos trabalhadores. Até mesmo membros do Conselho Curador da própria EBC reconheceram, e louvaram, a legitimidade do que é reclamado pelos funcionários.

“Nos dez anos que estou na empresa, nunca tinha visto uma união tão grande dos empregados, impulsionada pelo compromisso com a comunicação pública de qualidade, que valorize e respeite os trabalhadores. Temos vividos anos de sucateamento, desmando e a institucionalização do assédio moral na empresa.

Isso sem falar que a maioria dos chefes e gestores são indicações políticas pouco comprometidas com o projeto de comunicação pública gestado pela sociedade civil”, dispara Isabela Vieira, jornalista que participa da Comissão de Empregados da EBC. (Com colaboração de Bernardo Moura)

Fonte: Brasil de Fato

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