Greenspan nada aprendeu

O ex-presidente do Fed, o banco central dos EUA, se supera e bate o recorde de erros. Por Paul Krugman
por Paul Krugman, do The New York Times

Alan Greenspan
Steven Pearlstein, colunista do Washington Post, leu o novo livro de Alan Greenspan e descobriu que o ex-presidente do Federal Reserve acredita não ter responsabilidade por todas as coisas ruins ocorridas durante seu turno, e que a solução para uma crise financeira é, você adivinhou, menos governo.
O que Pearlstein não mencionou em uma coluna recente, mas acho importante, é o incrível histórico de Greenspan desde que deixou o cargo, um recorde de estar errado sobre tudo e não aprender nada com isso. Em particular, faz mais de três anos que Greenspan advertiu que os Estados Unidos iriam se tornar a Grécia qualquer dia desses e declarou “lamentável” que o fracasso da inflação e o aumento dos juros já tenham chegado.

A coisa é que Greenspan não está sendo apenas um mau economista, ele está sendo uma má pessoa, ao recusar-se a aceitar a responsabilidade por seus erros no cargo e fora dele. E continua aí, fazendo o possível para tornar o mundo um lugar pior.
Uma das coisas estranhas sobre os debates que estamos tendo acerca da política econômica americana desde a crise financeira é quantas pessoas em um lado desses debates (o lado em que eu não estou, aliás) acreditam ser possível ganhar discussões por meio de “carteirada”.
Os críticos são rejeitados como meros blogueiros, o que supostamente os desqualifica de apontar erros e declarações falsas; as ideias são rejeitadas (erroneamente, aliás) como não fazendo parte do que se tem ensinado aos estudantes, como se isso removesse qualquer possibilidade de que as ideias pudessem de algum modo estar certas.
Eu também dou carteirada? Tenho certeza de que se você percorrer meus textos com pente-fino encontrará exemplos. Mas tento não fazer isso e discutir os méritos. O que muitas pessoas, em particular os acadêmicos, sinto dizer, não parecem compreender são os limites do que as credenciais lhes dão, em princípio e na prática.
Basicamente, ter uma cátedra de nome bonito e talvez alguns prêmios lhe dão direito a uma plateia, não mais. Há uma grande colmeia fervilhando com comentários lá fora, por isso ninguém pode ler tudo o que se diz. Mas, se um intelectual famoso faz um pronunciamento, ele deveria ter uma plateia, e de fato tem, com muito mais facilidade do que alguém sem uma reputação prévia.
Mas as credenciais dos acadêmicos não são condição necessária nem suficiente para suas ideias serem levadas a sério. Se um professor famoso disser repetidamente coisas idiotas, depois tentar alegar que nunca as disse, não existe regra contra chamá-lo de um idiota desonesto. No sentido inverso, se alguém sem credenciais formais fizer constantemente observações precisas e perspicazes, ele ou ela conquista o direito de ser levado a sério.
Uma das grandes coisas sobre a internet é que ela tornou possível para várias pessoas cumprirem essa segunda condição para conquistar um público. Eu não me importo se são Ph.Ds., professores ou apenas sujeitos com blogs, é o trabalho que importa.
Sabíamos há muito tempo que diversos intelectuais grandes e famosos são na verdade tolos. Alguns podem ter sido tolos desde sempre, alguns são tatus conhecedores de áreas estreitas, mas ignorantes em outros assuntos. Alguns deles, por algum motivo, perderam o rumo, posso pensar em vários economistas sobre os quais é comum dizer: “Não acredito queaquele sujeito escreveu esses trabalhos”.


Comentarista da Slate, Matthew Yglesias notou recentemente um aumento nas advertências de Pessoas Muito Sérias de que a China poderia perder a confiança nos EUA e começar a vender nossos títulos. Em artigo, ele se concentra nos motivos da China, o que é útil. Mas o ponto crucial, que Yglesias menciona apenas rapidamente, é que, sejam quais forem seus motivos, os chineses não nos prejudicariam se vendessem nossos títulos: na verdade, provavelmente seria bom para os EUA.
Mas, você diz, isso não faria as taxas de juro subirem e deprimiria a economia americana? Tenho escrito bastante sobre esse assunto em várias formas, e ainda não vi uma explicação coerente sobre como deveria funcionar.
Pense nisso: se a China vendesse títulos americanos não faria os juros de curto prazo subirem, por serem definidos pelo Fed. Também não está claro por que faria subir os juros de longo prazo, já que estes refletem principalmente as taxas esperadas de curto prazo. E mesmo que as vendas chinesas de algum modo pressionassem as maturidades mais longas, o Fed poderia simplesmente praticar mais “facilitação quantitativa” e comprar esses títulos.

Comentários