Polícia do Rio de Janeiro torturou 22 pessoas na favela da Rocinha

Investigadores acreditam que Amarildo de Souza foi torturado e morto; ainda não sabem onde está o corpo.
A favela da Rocinha em 2011; a favela do Rio está em fase de "pacificação" ANTONIO SCORZA/AFP

A Polícia Militar do Rio de Janeiro terá torturado 22 pessoas durante a operação anti-droga na favela da Rocinha, foi apurado na investigação à morte de Amarildo de Souza.

A equipa da polícia civil que investiga os excessos na actuação da Polícia MIlitar (PM) tem 22 depoimentos de pessoas que dizem ter sido torturadas, revela a edição online da Folha de São Paulo. Amarildo de Souza, pedreiro de 42 anos, foi preso numa operação contra suspeitos de tráfico de droga e foi morto com extrema violência quando estava detido na Unidade de Polícia Pacificadora da Rocinha, uma das maiores favelas da cidade.
Rivaldo Barbosa, que chefia a divisão de homicídios, explicou àFolha que as testemunhas não têm pormenores sobre a morte de Amarildo, apenas relataram maus tratos infligidos pelos homens do major Edson Santos, que dirigiu a operação na Rocinha. Entre as agressões, disse, constam choques elécticos e asfixias com uso de sacos de plásticos.
"Estamos convencidos de que Amarildo sofreu este mesmo tipo de tortura", disse Rivaldo Barbosa.
Dez PM — entre eles o major — forma acusados pelo desaparecimento do pedreiro e a ministra da Justiça, José Eduardo Cardozo, disse que esta acusação é um sinal do "amadurecimento das instituições" brasileiras.
Na investigação ao que aconteceu na Rocinha e a Amarildo de Souza, a Divisão de Homicídios teve autorização judicial para escutar as comunicações telefónicas dos acusados. Numa delas, o polícia Campos Reis conversa com a namorada a quem diz "eles já sabem o que aconteceu, só não têm como o provar".
Com base em 133 depoimentos, a polícia civil do Rio de Janeiro reconstituiu as últimas horas de vida do pedreiro, no dia 14 de Julho, quando decorria a operação anti-droga na Rocinha. A polícia soube, através de um informador, que houve uma conversa entre Amarildo e um traficante em que o pedreiro dizia que não queria guardar por mais tempo a "chave do paiol" de armas. A PM (que é a polícia urbana do Brasil) recebeu uma dica sobre o paradeiro de Amarildo na Rocinha, tendo ido prendê-lo como suspeito.
Amarildo foi detido e levado para o centro de controlo da Unidade de Polícia Pacificadora, que fica dentro da própria favela, e terá sido torturado.
Os polícias acusados, nos seus depoimentos, deram uma versão diferente: Amarildo foi levado para interrogatório e libertado por não haver motivos para prolongar a detenção, tendo descido as escadas em direcção à sua casa. Só que as câmaras de vigilância que a polícia colocou na Rocinha — uma favela que estava a ser intervencionada no programa de "pacificação", ou seja de irradicação do tráfico de droga e da violência — não mostram Amarildo a sair da esquadra.
"Descobrimos que os polícias indiciados não sabiam que existiam câmaras nas escadas que mencionaram. Por isso, criaram a tese de que usou esse caminho para ir para casa", disse a delegada de polícia Ellen Souto.
A polícia ainda não sabe o que aconteceu ao corpo de Amarildo de Souza.

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