O desinteresse dos adolescentes americanos pelo Facebook tem vindo a ser registado ao longo dos últimos meses. Na semana passada, o banco de investimento Piper Jaffray publicou os resultados de um inquérito em que o Twitter era a rede social preferida nesta faixa etária: 26% diziam usar sobretudo aquela plataforma, contra 23% que escolhiam o Facebook e outros tantos que tinham o Instagram como ferramenta predilecta.
“Embora o Facebook ainda esteja profundamente integrado na vida quotidiana dos adolescentes é, às vezes, visto como algo utilitário e como uma obrigação, em vez de uma plataforma nova e entusiasmante”, escreveram os investigadores. O estudo, porém, identificava o Facebook como a rede social mais utilizada entre os jovens nos EUA.
Uma pesquisa no Google permite encontrar muitas páginas com uma lista de serviços e aplicações que os adolescentes estarão a usar como alternativa: o Twitter; o Snapchat, que permite o envio de imagens com texto, que se “auto-destroem” em poucos segundos; o Instagram, para partilha de fotografias (e que foi comprado pelo Facebook); e o Tumblr, uma mistura de blogues e de rede social, que tem sido muito usada para partilhar imagens.
Nesta quinta-feira, o Facebook anunicou mudanças para cativar esta faixa etária: os adolescentes
passaram a poder a partilhar conteúdos publicamente, algo que, até aqui, só um adulto (ou quem se identificasse como tal) podia fazer. “Esta actualização dá-lhes agora a escolha de partilhar de forma mais alargada, tal como nos outros serviços de media sociais”, escreveu a empresa.
“Antigamente, nós adolescentes íamos muito mais ao Facebook”, diz Vera Moura, de 17 anos e utilizadora do Facebook há seis. Explica que depois foi a vez do Twitter, mas este também já está a “passar de moda”. Agora, gosta mais do Instagram, onde os contactos não são apenas pessoas que já conhece do mundo offline “O Instagram é mais mundial. Sentimo-nos muito mais conectados com o resto do mundo”.
Não é, porém, certo que Vera seja um exemplo do que se passa em Portugal e não há estatísticas que permitam saber se as tendências americanas se verificam também cá.
Ricardo Montenegro, de 14 anos e utilizador desde os 12, tem uma experiência muito diferente. O Facebook é a única rede social que usa e é uma das principais ferramentas de comunicação com os amigos, com quem também fala por Skype. Diz passar no site cerca de duas horas por dia. Já Luís Pisco, de 15 anos, fala “em duas horas, no máximo três ou quatro” (ambos dizem haver dias em que não entram no site). E, para Marta Vences, de 15 anos e utilizadora há cerca de três, o uso até aumentou com o passar do tempo. “No início não usava muito. Costumo partilhar fotos e algumas imagens que acho engraçadas [mas] uso mais para conversas com amigos, não se gasta tanto dinheiro”.
Nenhum dos quatro disse ver inconvenientes em ter familiares mais velhos como “amigos” na rede social. Mas houve quem referisse ter amigos que não se sentem confortáveis com essa situação.
Desconforto com visibilidade
A investigadora Cristina Ponte, da Universidade Nova de Lisboa e responsável em Portugal pelo projecto europeu EU Kids Online, diz não ter dados sobre o assunto, mas afirma que não ficaria surpreendida se o que se passa nos EUA “venha a acontecer por cá, ou esteja já a acontecer”.
Um dos motivos, explica, “é a mistura de pessoas de vários círculos e idades (pais, familiares, professores, colegas) que fazem parte das listas de ‘amigos’, o que leva a algum desconforto com a visibilidade alargada da troca de mensagens entre adolescentes e os comentários indesejados que se imiscuem”. Mas nota que “pode ser uma tendência ainda emergente, que demore algum tempo a chegar, como também o Facebook chegou mais tarde a Portugal”.
Por seu lado, Tito de Morais, especialista em segurança de jovens na Internet, diz observar uma grande adesão ao Facebook nas escolas onde dá formações. “A maioria desses estudos [sobre o desinteresse dos adolescentes] referem-se à realidade americana, que não pode ser transposta para os outros países”, argumenta, ressalvando não ter dados estatísticos. “Continuam a usar o Facebook, mas usam também outro tipo de aplicações. Antes usavam o Messenger [da Microsoft], passaram para ochat do Facebook e agora vejo uma tendência para usarem outras aplicações móveis em simultâneo” – um fenómeno impulsionado pela proliferação de smartphones Android de baixa gama e preços mais reduzidos.
Já a psicóloga Teresa Paula Marques reuniu, em Maio de 2012, dados de 3556 utilizadores portugueses entre os 14 e os 20 anos, para uma tese de doutoramento sobre o impacto da rede social nos jovens. Observou que “utilizam o Facebook sobretudo para actividades de relacionamento social (estar a par da vida dos amigos e para fazer novos amigos), para se manterem informados acerca do país e do mundo e ainda para divulgarem trabalhos (fotografias, hobbies)”. Os inquiridos passavam, em média, 1,5 horas por dia no Facebook. O estudo não permite conclusões sobre um eventual abandono ou desinteresse.
No relatório anual de 2012, o próprio Facebook admitia o problema, ainda que de forma vaga para uma empresa que analisa minuciosamente a actividade dos utilizadores: “Acreditamos que alguns dos nossos utilizadores reduziram o seu envolvimento com o Facebook em favor de um envolvimento maior com outros produtos ou serviços como o Instagram”. Porém, em Julho, o fundador da rede social, Mark Zuckerberg, garantiu que os adolescentes continuavam a usar a plataforma activamente, embora tenha reconhecido que a empresa tem dificuldades nesta medição, porque muitos jovens mentem na idade para poderem aceder ao site. A idade mínima é de 13 anos.
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