O erotismo sob a ótica do canalha
Postado em 17 out 2013
Um dos livros eróticos mais provocadores dos últimos anos é um alegado diário secreto de Pushkin, um escritor que está para a língua russa assim como Shakespeare está para o inglês e Camões para o português. Dostoievski foi um entre tantos discípulos de Pushkin que simplesmente o veneravam.
O pequeno livro – cerca de 100 páginas — pode ser encontrado gratuitamente, em português de Portugal, no site literário Scribd.
Antes de seguir: o livro foi apresentado, há alguns anos, como se fosse mesmo de Pushkin. Um editor esperto americano inventou uma história. Disse que alguém tinha encontrado um diário secreto – e altamente sexual – de Pushkin.
Era balela. Mas funcionou: o livro passou a ser consumido avidamente por interessados em literatura erótica. Você vê pelas resenhas de leitores no site de compartilhamento de impressões Goodreads que, por incrível que pareça, muita gente acredita que o golpe é verdade: que foi Pushkin mesmo quem escreveu.
Na Rússia de Pushkin houve comoção quando, algum tempo atrás, foi publicada uma edição russa, foi um escândalo nacional. Pushkin é um heroi nacional, e os russos se sentiram ofendidos – mas consumiram mesmo assim a obra.
O “diário” é centrado no período que antecede a morte estúpida de Pushkin, num duelo, aos 37 anos. Ele desafiou um militar francês que cortejava sua mulher, Nataliaa, uma das maiores belezas russas de sua era. O homem era hábil com o revólver, e Pushkin só manejava a pena. O final tinha que ser o que foi: Pushkin morto.
O livro tem virtudes que explicam seu sucesso. Não apenas fornece informações sobre os últimos dias de um dos maiores gênios da literatura mundial como mostra como poucas vezes se viu a essência do erotismo masculino sob a ótica cafajeste.
50 Tons de Cinza é o erotismo da dona de casa, delicado e quase que asséptico. O Diário Secreto de Pushkin é o erotismo do canalha.
As leitoras têm todas as razões para detestar o que o livro traz. Mas, caso queiram conhecer a alma masculina primitiva, sem retoques, eis uma oportunidade rica.
No diário, Pushkin é um libertino para o qual nenhuma mulher – nem mesmo a deslumbrante Natalia – vale o sacrifício de se privar das mulheres, como um todo.
Ele ama e deseja todas as mulheres, feias ou bonitas, gordas ou magras, altas ou magras. É fascinado pelo cheiro íntimo feminino. Não quer que suas amantes se banhem antes do sexo. E tem compulsão em organizar bacanais.
A fórmula do diário foi entremear passagens reais de Pushkin com ficção de fundo altamente sexual. É tanto sexo que você pode deduzir que Pushsin não tinha tempo para escrever, e muito menos para ler.
Convivem, na história, o tédio crescente de Pushkin no casamento e a tensão sexual de um personagem que não pensa em outra coisa que não seja possuir mulheres.
É uma obra eroticamente eficiente. Você, no decorrer dela, pensa não em ler uma biografia real de Pushkin, ou alguns de seus poemas e romances – mas em fazer exatamente o que o Pushkin imaginário faz: sexo.
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