Ninho de tucano, ovos de serpente

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Um site de propriedade do Instituto Fernando Henrique Cardoso (iFHC) está sendo investigado por inquérito policial em São Paulo.

Por Saul Leblon
Na Carta Maior



Um site de propriedade do Instituto Fernando Henrique Cardoso (iFHC), que se autodefine como um espaço onde ’10 mil brasileiros estão discutindo a nação’, está sendo investigado por inquérito  policial em SP (78º distrito).


Como informa  o Brasil 247, a ação policial suspeita que o site tucano Observador Político é uma das usinas mais ativas da onda difamatória de boatos contra Fábio Luís Lula da Silva , o ‘Lulinha’.

Emissões originárias do iFHC, sugerem que o filho do ex-presidente Lula seria uma espécie de metabolização biológica  da natureza degenerada do PT.

“O mais recente caso de mega enriquecimento súbito”, dizia o site, até ser objeto do inquérito.

No  espaço onde ’10 mil brasileiros estão discutindo a nação’ atribuía-se  ao filho de Lula a propriedade  de uma latifundiária fazenda em Valparaíso, SP, no valor de R$ 47 milhões, um jatinho não menos faiscante, ademais da coruscante sociedade no maior negócio frigorífico do país e um dos maiores do mundo, o Friboi, contemplado com robustos financiamentos do BNDES.

O inquérito policial foi aberto para identificar a trama que abastece a rede de mentiras, ademais de colher as motivações da orquestração originária do iFHC.

É preciso aguardar as investigações desse episódio  que seria apenas desprezível, não integrasse uma mecânica recorrente que fomenta o ódio e o linchamento nos bastidores, emerge em excretações de preconceito contra o PT na mídia ´’isenta’ e, apoiado nela, monta o discurso de campanhas do conservadorismo  -- “para acabar com essa raça”, como diriam os novos econeoliberais socialistas do pedaço, os banqueiros Bornhausen.

O Observador Político do iFHC  integra esse abrangente jogral  responsável, entre outros, pelo martelete da pré-condenação de figuras históricas do PT no julgamento da AP 470.

O tom e a pauta transitam na fronteira da versão digital de revistas semanais de empenho  condenatório proporcional e apego equivalente aos fatos.

A coerência recomenda não ir além até que as investigações sejam concluídas. Mas a cautela não desautoriza o interesse jornalístico acerca da composição desse badalado ninho tucano, onde aparentemente também se choca ovo de serpente.

Em última instância, a equipe dirigente do iFHC  é a  responsável pelo site que neste sábado (19/10) trazia como um de seus ‘temas de discussão’ a pergunta: ‘Mais Médicos: jogada eleitoral ou benefício para a população’.

Xico Graziano  é o segundo nome em importância na equipe  do iFHC, em cujo expediente  figura como o ‘Assessor da Presidência’, isto é, de Fernando Henrique Cardoso.

Daniel Graziano, seu filho mais novo,  é um dos coordenadores do instituto, sob cuja guarda estão as áreas chave da gestão financeira, administrativa e de recursos humanos.

Xico tem outro filho mais velho. O arquiteto André Graziano ocupou  a direção de parques e jardins na prefeitura de São Paulo, na gestão do amigo do peito da família,  José Serra.

Como se vê, o pai  não brinca em serviço.

Agrônomo de formação, Francisco Graziano Neto,  é um quadro tucano suficientemente experiente para não se permitir ignorar iniciativas que aconteçam a sua volta.

Xico ocupou vários cargos públicos na órbita do PSDB.

Entre outros, foi  Secretário Estadual de Agricultura de Covas (1996-98);Presidente do Incra (1995) no governo FHC;  Chefe do Gabinete Pessoal do Presidente Fernando Henrique Cardoso (1995); Secretário Estadual do Meio Ambiente de Serra (2007-2010).

Em 2010 coordenou o programa de governo do candidato da derrota conservadora, José Serra.

A folha respeitável  nem sempre cresceu  à margem de ruídos e atritos com a função.

Primeiro presidente tucano do Incra,  órgão responsável pela reforma da estrutura fundiária brasileira,  Xico,  que  tem interesses na área rural,  tornou-se um dos principais ideólogos da luta contra a reforma agrária no país.

As colunas que assina semanalmente no jornal ‘O Estado de São Paulo’ são conhecidas pela agressividade e a provocação derrisória contra o MST.

Nisso também lembra a cepa de certa revistas semanais.

O jogo da espionagem e da ação dissimulada –outro atributo dessas semanais--   tampouco lhes são  estranhos.

Em 1995, Xico Graziano foi demitido da chefia do Gabinete Pessoal do Presidente Fernando Henrique Cardoso.

Flagrado, inaugurava o primeiro ‘ grampo’  da era tucana, bisbilhotando as disputas palacianas em torno das verbas milionárias para aquisição de equipamentos destinados à  vigilância da Amazônia (Sivam).

Há quatro anos, o  blog Namaria News coletou sugestivo retrospecto de baldeações entre o interesse público e privado  envolvendo o sobrenome deste que hoje está à frente do instituto,  apontado como um dos ninhos da emissão difamatória contra a família do ex-presidente Lula.

Acompanhe o levantamento do Namaria News postado em 10/12/2009:

(...) “Toma posse hoje, com direito à presença de Serjão [Sérgio Motta], o novo delegado regional do Ministério das Comunicações em São Paulo: Eduardo Graziano. Vem a ser irmão de Xico [sic] Graziano, chefe de gabinete de FHC na Presidência”

“Neste link vê-se que o administrador de empresas Eduardo Graziano é sócio-fundador da UniSol (Universidade Solidária), juntamente com a falecida Dona Ruth Cardoso; o Sr. Daniel Tostes Graziano (NR filho de Xico, hoje no iFHC) é o coordenador administrativo-financeiro”

“A dupla fraterna colaborou unida no programa de governo de José Serra para a Prefeitura em 2006, da qual o Sr. José Serra jurou de pés juntos que não sairia para concorrer a nada, antes do final do mandato”

(...)
“O Sr. Eduardo Graziano também é Presidente e fundador do Instituto Mensageiros, com sede na Barra Funda (SP). Sua filial é na Avenida Pedro Álvares Cabral 201, coincidentemente o prédio público da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Palácio Nove de Julho), pois que lá eles funcionam com o Projeto Escola Arte Culinária: a abertura dos espaços do Café São Paulo e da Lanchonete, na ALESP - cujo Processo RGE 4845/05, foi renovado recentemente. Maiores detalhes da ONG podem ser vistos em Contas: Relatório 2008 (e demais), sendo que no tópico 12 - Parcerias e Subvenções Públicas, estão os seus patrocinadores”

“Já na Companhia Paulista de Trens Metropolitanos - CPTM, em março deste ano, ele (Eduardo Graziano, irmão de Xico, tio de Daniel e André, amigos de Serra )  aparece como coordenador geral da UGP BID E BIRD na audiência pública para compra de trens da Linha Coral”

“Ou seja, o Sr. Graziano sabe um bocado de licitações”

“Em outra passagem pelo DO, em 4/ agosto/2009, o mesmo consta como Coordenador Setorial da CPTM, sendo designado para compor a Unidade de coordenação do programa de investimentos (UCPITM)”

 “Eduardo Graziano (irmão de Xico, tio de Daniel e André) é o proprietário da Objetiva Eventos (...)”

“A empresa de eventos, propriamente dita, é sediada no município paulista de Santa Isabel, onde os impostos são mais baixos, porém seu galpão (escritório, contato etc) é igualmente no bairro da Barra Funda – Capital”

“Competentíssima, mas com apenas 5 funcionários registrados, planejou, preparou e realizou campanhas eleitorais, com mais de mil pessoas nas ruas da Grande São Paulo, distribuindo material e, ainda, distribuindo jornais e panfletos de casa em casa “ (...)

“A Objetiva Eventos tem participado em várias campanhas políticas e eleitorais, organizando os Congressos e Convenções Partidárias para escolha dos candidatos a prefeito, governador e presidentes da república. Também, desde 2005, tem participado ativamente do planejamento e organização dos eventos eleitorais do tipo comício ou passeatas pelo comércio de bairros, com a participação pessoal do candidato (vide Serviços).”

“Entre as imagens comprobatórias dos trabalhos estão Geraldo Alckmin e José Serra.”

 “O menu Portifólio [sic] (3) é imperdível, assim como o Agenda (4), ambos com riquíssimos conteúdos, onde se vê a sua mais influente clientela: Sabesp, CPTM, CODEAGRO, FDE, Telefonica, SEE, Grupo Tejofran, CDHU e outros. Sem esquecer aquela Ata de Registro de Preços 02/2007 (Pregão Presencial 13/2007), do CEPAM, citada no início.”

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