Muitos escritores vieram já felicitar Munro pelo Nobel da Literatura, e quase todos salientam as qualidades literárias e humanas da autora canadiana, sublinhando especialmente o seu contributo para a renovação da arte do conto. Não seria de esperar outra coisa, mas há muitos depoimentos em que se sente uma autenticidade que ultrapassa o mero noblesse oblige. Alice Munro parece ser genuinamente admirada pelos seus pares. Ou por quase todos eles, já que Bret Easton Ellis se encarregou de evitar que as reacções a este prémio fossem demasiado consensuais.
O romancista irlandês Colm Tóibin acha que “o génio de Alice Munro está na construção da história”, observando que a autora consegue convencer os leitores de que “não vai acontecer nada de especial”, de que “o seu mundo é trivial e os seus propósitos modestos”, e depois, aos poucos, começa a “dramatizar motivos e acções nada usais e, às tantas, já não há ali nada que seja minimamente trivial”. Tóibin recorda ainda um conto de Munro que leu há alguns anos, Child Play, que tem “um tom forense, lida sem constrangimentos com a crueldade e a culpa, e é duro, duro”, mas que “é escrito com frases do tipo mais trivial, e construído com um lento, tchekoviano cuidado”.
A ficcionista e poeta britânica AS Byatt, pseudónimo literário de Antonia Susan Duffy, garante que este foi o Nobel da Literatura que mais contentamento lhe deu. “Alice Munro fez mais pela forma e pelas potencialidades do conto do que qualquer outro escritor que eu conheça”, assgura. “De uma linha para outra, nunca sabemos o que Munro vai dizer a seguir, ou o que, enquanto leitores, vamos sentir a seguir.” Explicando que faz parte de um “clube de apaixonados admiradores” da autora canadiana, Byatt observa: “Todos sabíamos que Alice Munro é um dos grandes escritores vivos, mas ela pareceu sempre ser uma espécie de segredo.” E conclui: “Agora toda a gente vai ficar a saber.”
A actriz e cineasta Sarah Polley, que adaptou ao cinema um conto de Munro, toca um pouco a mesma tecla ao constatar que “é bonito quando alguém que não procura reconhecimento o recebe na mesma”.
Mas não devemos precipitar-nos a ver em Munro “uma escritora modesta e de quem é fácil gostar”, avisa a romancista irlandesa Anne Enright. “Como é que podemos saber? Talvez seja dura, feroz, ambiciosa”, sugere Enright, acrescentando que “modesta” e “adorável” são “palavras demasiado pias e pequenas para descrever a presença humana de Monroe na sua escrita”. As suas histórias, diz, “não pedem a nossa homenagem, mas a nossa atenção”. E quando as lemos, “sentimo-no menos sós”.
Muitos escritores, como Jeffrey Eugenides, autor de As Virgens Suicidas, ou Margaret Atwood, entre muitos outros, já felicitaram publicamente Munro pelo Nobel da Literatura, e quase todos eles dizem a mesma coisa por palavras diferentes: que a autora canadiana revolucionou a arte do conto. Mas o americano Jonathan Franzen, que adquiriu grande notoriedade com romances como Correcções ou Liberdade, prefere descrever o efeito singular que as histórias de Munro provocam nos seus leitores, e nele próprio em particular. “Ler Munro deixa-me num estado de reflexão tranquila, no qual medito acerca da mida vida: as decisões que tomei, as coisas que fiz e não fiz, o tipo de pessoa que sou, a perspectiva da morte.” Munro, diz Franzen, “faz parte desse punhado de autores – alguns vivos, a maioria mortos – que tenho em mente quando digo que a ficção é a minha religião”.
A destoar neste coro encomiástico, o autor de Psicopata Americano, Bret Easton Ellis, diz que Munro “sempre foi completamente sobreavaliada” e que agora, com este Nobel, “nuca deixará de o ser”. A mensagem de Ellis, colocada no Twitter, foi comentada pelo escritor e crítico Christian Lorenzen, que se limitou a escrever “Amen”. Lorentzen já escrevera, naLondon Review of Books, uma recensão muito negativa do último livro de Munro, Amada Vida, e tem uma reputação de torcer o nariz a autores demasiado consensuais. A David Foster Wallace, descrevera-o como “o escritor mais entediante, sobre-estimado, torturado e pretensioso” da sua geração.
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