"Caso Maria": Supremo Tribunal da Grécia manda investigar centenas de certidões de nascimento


Os juízes consideram que o caso da menina encontrada em acampamento cigano pode não ser único no país.
O acampamento cigano de Farsala, onde Maria foi encontrada AFP
O Supremo Tribunal da Grécia ordenou esta terça-feira uma investigação a todas as certidões de nascimento passadas nos últimos seis anos com base em declarações dos pais e não em registos de hospitais e maternidades. Isto porque os magistrados consideram que o "caso Maria" não é um episódio isolado e pode ter-se repetido por todo o país.
Maria é a menina que foi encontrada a viver com uma família cigana em Farsala, perto de Larissa, no Centro da Grécia. Por ser loura e de olhos claros, a polícia, que realizava uma operação à
comunidade cigana por suspeitas de tráfico de droga, desconfiou que não fosse filha de qualquer membro do casal com quem estava. Tinha razão, provaram os exames de ADN.

"O 'caso Maria' pode não ser único e isto pode ter-se passado noutro lugar do país", diz o comunicado dos magistrados. Uma inspecção preliminar aos registos concluiu que o número de nascimentos registados com base numa declaração assinada por um dos pais – ou seja, em supostos casos de crianças que terão nascido em casa – está a aumentar vertiginosamente. Foram 50 em 2011, 200 em 2012 e 400 no decorrer deste ano.

Os juízes, e os investigadores, querem determinar o que se passa e se há, entre estes nascimentos, casos de rapto e de tráfico humano, e ainda que papel têm estes crimes na fraude à segurança social – suspeita-se de que as crianças possam estar a ser usadas para as famílais receberem subsídios, sendo que algumas crianças só existem no papel, recebendo os pais os respectivos abonos.

A mulher com quem Maria vivia terá registado mais filhos do que os que realmente tem – à polícia disse ter tido seis filhos em dez meses.

O presidente da Câmara de Atenas, George Kaminis, demitiu na segunda-feira o director do registo civil onde Maria foi registada, em 2009.

O casal com quem a rapariga vivia – Maria está agora numa instituição de acolhimento – usava-a para mendigar nas ruas por ser bonita. Foi formalmente acusado de rapto, apesar de ter insistido que a criança lhe tinha sido dada em bebé, há quatro anos, na Bulgária, pela mãe que não queria ou não podia criá-la. Não se sabe a idade exacta de Maria, mas os exames médicos indicam que tem entre cinco e seis anos.

A agência noticiosa grega Ana explicava que em 2010 o tráfico de crianças búlgaras para a Grécia esteve "em alta". Nesse ano, a polícia desmantelou uma rede que traficava mulheres búlgaras grávidas (foram identificadas 17) para a Grécia, vendendo os recém-nascidos neste país e lucrando entre 15 e 25 mil euros por cada um deles.

A investigação sobre a origem da criança prossegue, com a polícia a receber milhares de pistas e a centrar-se em algumas delas. "Há uma dúzia de casos de desaparecidos nos Estados Unidos, na Suécia, na Polónia e na França que vão ser aprofundados", disse à AFP o porta-voz da associação Sorriso de Criança, Panagiotis Pardalis, que tem a criança à sua guarda. "Estamos a investigar em todas as direcções", disse, por seu lado, um porta-voz da polícia.

Comentários