Ao ficar no PSDB, Serra pendura as chuteiras. Dele ou de Aécio
Se mineiro sai candidato, tem votação pífia e perde estado, entra em decadência. Sem paulista na disputa, Aécio fica sujeito a dossiês, no cenário dos sonhos dos adversários
por Helena Sthephanowitz
O fico de Serra cria incerteza em torno da candidatura presidencial do PSDB: Aécio pode ficar em Minas?
As declarações de José Serra ao anunciar sua decisão de ficar no PSDB não são de um possível candidato a senador por São Paulo, espaço natural que lhe cabe dentro do tucanato. É discurso de candidato a presidente.
Ontem no Facebook, Serra anunciou: "A minha prioridade é derrotar o PT, cuja prática e projeto já comprometem o presente e ameaçam o futuro do Brasil. O PSDB, partido que ajudei a conceber e a fundar, será para mim a trincheira adequada para lutar por esse propósito. A partir dela me empenharei para agregar outras forças que pretendem dar um novo rumo ao país".
Hum... Prioridade derrotar o PT em nível nacional; PSDB como trincheira; e empenho em "liderar" forças de oposição. É, não é declaração de candidato ao Senado.
Como o senador Aécio Neves (MG) se consolidou como pré-candidato dentro do partido, a ponto de ocupar praticamente 100% da propaganda partidária tucana na TV nos últimos tempos, o "fico"de José Serra cria incerteza se o mineiro ainda pode desistir, voltando-se para Minas. E há também prenúncio de problemas para acomodar as ambições de Serra.
Ontem (1º), Aécio falou à imprensa como presidente do partido. Disse que teve uma conversa com José Serra na véspera, na qual ficou definida sua permanência. "O nome de Serra estará sempre cogitado para qualquer postulação (...) o PSDB definirá formalmente suas candidaturas no ano que vem. Não interessa a nós definirmos uma candidatura agora", disse, diplomaticamente, apesar de sua candidatura estar informalmente definida dentro do tucanato, como prova a propaganda partidária na TV. Depois o PSDB emitiu nota oficial com o mesmo teor.
Não houve a famosa foto dos dois caciques juntos, "fumando o cachimbo da paz", que costuma marcar os acordos políticos. Nem mesmo para a página oficial do PSDB. Um sinal de que o maior desafio dos tucanos será conter as fortes tempestades que uma disputa interna poderá causar.
Na disputa pela candidatura presidencial tucana há dois cenários mais prováveis. Um, caso Aécio não evolua bem como presidenciável até o ano que vem e decida voltar a candidatar-se novamente a governador de Minas. Esse cenário tem uma boa dose de probabilidade porque o PSDB não tem até agora nenhum nome forte para o governador Antônio Anastasia fazer seu sucessor. Uma votação pífia nas eleições presidenciais combinada com a perda do governo de Minas pode ser fatal para a carreira política de Aécio, além de fazer o PSDB encolher. Esse seria o melhor cenário para Serra e para haver acomodação pacífica dentro do PSDB, apesar de provocar outras frustrações no tucanato, seja fora de São Paulo, seja no desejo de alguns tucanos de renovar seus quadros e seu discurso.
Em outro cenário, o senador mineiro continua impondo sua candidatura presidencial enquanto Serra entra na disputa interna, mesmo em desvantagem. E aí, não tendo muito a perder, pode haver chuvas e trovoadas, com a desconstrução da imagem do outro para abater a pré-candidatura oponente. É o cenário dos sonhos dos adversários dos tucanos. Pelo retrospecto das disputas internas do passado envolvendo dossiês e ataques pela imprensa, não está descartado. Menos provável é Serra resignar-se passivamente com uma candidatura a senador ou deputado federal por São Paulo, já que a vaga para governador está assegurada para Geraldo Alckmin tentar a reeleição.
Outra questão a considerar é que a decisão, apesar de parecer saudável para o PSDB em um primeiro momento, ao não perder quadros, enfraquece a oposição como um todo. Como o próprio Serra diz, ao ficar na trincheira do PSDB, a oposição esvaziou o que seria outra trincheira no PPS. Com o agravante da forte possibilidade de ocorrer "fogo amigo" dentro da trincheira tucana. Os articuladores da candidatura governista de Dilma Rousseff devem estar comemorando.
Resumo da história: ou Serra acabará pendurando as chuteiras (mesmo que simbolicamente, ao decair em suas ambições), ou quem pendurará as chuteiras, como presidenciável, será o senador mineiro.
por Helena Sthephanowitz
WILLIAM VOLCOV/BRAZIL PHOTO PRESS/FOLHAPRESS
O fico de Serra cria incerteza em torno da candidatura presidencial do PSDB: Aécio pode ficar em Minas?
As declarações de José Serra ao anunciar sua decisão de ficar no PSDB não são de um possível candidato a senador por São Paulo, espaço natural que lhe cabe dentro do tucanato. É discurso de candidato a presidente.
Ontem no Facebook, Serra anunciou: "A minha prioridade é derrotar o PT, cuja prática e projeto já comprometem o presente e ameaçam o futuro do Brasil. O PSDB, partido que ajudei a conceber e a fundar, será para mim a trincheira adequada para lutar por esse propósito. A partir dela me empenharei para agregar outras forças que pretendem dar um novo rumo ao país".
Hum... Prioridade derrotar o PT em nível nacional; PSDB como trincheira; e empenho em "liderar" forças de oposição. É, não é declaração de candidato ao Senado.
Como o senador Aécio Neves (MG) se consolidou como pré-candidato dentro do partido, a ponto de ocupar praticamente 100% da propaganda partidária tucana na TV nos últimos tempos, o "fico"de José Serra cria incerteza se o mineiro ainda pode desistir, voltando-se para Minas. E há também prenúncio de problemas para acomodar as ambições de Serra.
Ontem (1º), Aécio falou à imprensa como presidente do partido. Disse que teve uma conversa com José Serra na véspera, na qual ficou definida sua permanência. "O nome de Serra estará sempre cogitado para qualquer postulação (...) o PSDB definirá formalmente suas candidaturas no ano que vem. Não interessa a nós definirmos uma candidatura agora", disse, diplomaticamente, apesar de sua candidatura estar informalmente definida dentro do tucanato, como prova a propaganda partidária na TV. Depois o PSDB emitiu nota oficial com o mesmo teor.
Não houve a famosa foto dos dois caciques juntos, "fumando o cachimbo da paz", que costuma marcar os acordos políticos. Nem mesmo para a página oficial do PSDB. Um sinal de que o maior desafio dos tucanos será conter as fortes tempestades que uma disputa interna poderá causar.
Na disputa pela candidatura presidencial tucana há dois cenários mais prováveis. Um, caso Aécio não evolua bem como presidenciável até o ano que vem e decida voltar a candidatar-se novamente a governador de Minas. Esse cenário tem uma boa dose de probabilidade porque o PSDB não tem até agora nenhum nome forte para o governador Antônio Anastasia fazer seu sucessor. Uma votação pífia nas eleições presidenciais combinada com a perda do governo de Minas pode ser fatal para a carreira política de Aécio, além de fazer o PSDB encolher. Esse seria o melhor cenário para Serra e para haver acomodação pacífica dentro do PSDB, apesar de provocar outras frustrações no tucanato, seja fora de São Paulo, seja no desejo de alguns tucanos de renovar seus quadros e seu discurso.
Em outro cenário, o senador mineiro continua impondo sua candidatura presidencial enquanto Serra entra na disputa interna, mesmo em desvantagem. E aí, não tendo muito a perder, pode haver chuvas e trovoadas, com a desconstrução da imagem do outro para abater a pré-candidatura oponente. É o cenário dos sonhos dos adversários dos tucanos. Pelo retrospecto das disputas internas do passado envolvendo dossiês e ataques pela imprensa, não está descartado. Menos provável é Serra resignar-se passivamente com uma candidatura a senador ou deputado federal por São Paulo, já que a vaga para governador está assegurada para Geraldo Alckmin tentar a reeleição.
Outra questão a considerar é que a decisão, apesar de parecer saudável para o PSDB em um primeiro momento, ao não perder quadros, enfraquece a oposição como um todo. Como o próprio Serra diz, ao ficar na trincheira do PSDB, a oposição esvaziou o que seria outra trincheira no PPS. Com o agravante da forte possibilidade de ocorrer "fogo amigo" dentro da trincheira tucana. Os articuladores da candidatura governista de Dilma Rousseff devem estar comemorando.
Resumo da história: ou Serra acabará pendurando as chuteiras (mesmo que simbolicamente, ao decair em suas ambições), ou quem pendurará as chuteiras, como presidenciável, será o senador mineiro.
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