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África: o continente desigual tem dezenas de multimilionários
Isabel dos Santos é uma das três mulheres na lista dos 55 multimilionários africanos NUNO FERREIRA SANTOS África tem mais multimilionários do que se pensava e muitos mais do que há uma década. A revista especializada em Economia e Negócios Ventures, com sede na Nigéria, chegou a essa conclusão depois de publicar a sua primeira lista dos “mais ricos” de África esta semana. Entre as 55 figuras com fortunas avaliadas em mais de mil milhões de dólares (800 milhões de euros) no continente, estão três mulheres. Uma delas é Isabel dos Santos, filha do Presidente de Angola. A empresária tem reforçado a sua presença nos sectores da banca e das telecomunicações. Em Angola, conta entre os seus investimentos com uma participação de 25% no banco BIC (também presente em Portugal, onde adquiriu o BPN) e é uma das principais accionistas da operadora de telecomunicações Unitel (accionista do banco que o BPI detém neste país). Também em Angola associou-se à Sonae (dona do PÚBLICO) para lançar a insígnia de retalho Continente (prevendo-se as primeiras aberturas de lojas em 2015) e à Zon, tendo lançado, através de uma sociedade onde detém a maioria do capital, um serviço de televisão por satélite. Em Portugal, domina a Zon Optimus juntamente com a Sonae, é accionista (via Amorim Energia) da Galp Energia e detém 19,5% do BPI. Graças a esta expansão, entrou também, pela primeira vez este ano, na lista dos mais ricos de todo o mundo da revista norte-americana Forbes com fortunas acima dos dois mil milhões de dólares (1600 milhões de euros). Na lista mais restrita das 40 figuras mais ricas de África, da Forbes, Isabel dos Santos está no 31.º lugar com uma fortuna estimada em três mil milhões de dólares (2300 milhões de euros). Entre os 736 multimilionários eleitos este ano, a filha de José Eduardo dos Santos surge como única representante de Angola. Na lista da Ventures, também. Os critérios para uma e outra lista são diferentes; se Isabel dos Santos foi eleita pela Forbes a “mais rica de África”, a Ventures elege antes a nigeriana Folorunsho Alakija, apresentada como a única mulher entre os “dez mais”. Além de ser dona da Famfa Oil, uma das petrolíferas que dominam a exploração na Nigéria, Folorunsho Alakija é estilista e criou uma marca de moda na Nigéria — a Supreme Stitches. Vale, segundo a Ventures, quase sete mil milhões de dólares. Isabel dos Santos junta-se a ela e à terceira mulher africana entre os 55 mais ricos de África – a viúva do primeiro Presidente do Quénia, Mama Ngina Kenyatta. O magnata nigeriano Aliko Dangote, com uma fortuna avaliada em 20 mil milhões de dólares (15 mil milhões de euros), é o mais rico de África. Tinha pouco mais de 20 anos quando se dedicou ao comércio do arroz, açúcar, farinha e cimento. Duas décadas mais tarde, era apontado como um modelo de sucesso por ter impulsionado o sector industrial do país, ao passar da comercialização para a produção. Mike Adenuga também é nigeriano — o segundo mais rico do país e o terceiro mais rico nos mais de 50 países do continente, segundo a Ventures. É o fundador da Globacom, empresa de comunicações móveis que chega a mais de 24 milhões de clientes na Nigéria, já conquistou o mercado do Benim e adquiriu licenças para operar no Gana e na Costa do Marfim. Mike Adenuga protagoniza uma das muitas histórias de sucesso que a Ventures pretende publicitar e invoca para compilar esta lista (“O dinheiro é apenas uma forma de medirmos o sucesso no mundo, mas importa”, escreve a revista.) O percurso do nigeriano, numa escala pessoal, vai ao encontro da tese, à escala do continente, defendida pelo professor da Universidade da Columbia nos Estados Unidos Jeffrey Sachs, segundo a qual a proliferação dos telemóveis pode explicar o boom económico nalguns países do continente, da mesma forma que o acesso à Internet pode vir a revelar-se uma importante ferramenta de desenvolvimento. Com os seus 55 multimilionários contabilizados pela Ventures, o continente africano andará a par da América Latina, que tem 51 “super-ricos” (identificados pela Forbes), e está muito longe da Ásia, com 399 multimilionários. No ranking “inaugural” desta revista, Nigéria (com 20 multimilionários) e África do Sul (com nove) são os países que reúnem as maiores fortunas pessoais no continente. Oito são do Egipto. Os 55 multimilionários superam os números esperados de 16 a 25, escreve o Financial Times, que atribui a diferença entre o previsto e o real a uma multiplicação de fortunas na última década, impulsionada pela subida dos preços do petróleo. O crescimento económico atingiu em média 5% ao ano desde 2000 em África, escreve o Financial Times, que aponta “a emergência de uma classe média” (embora “minúscula”) a par de um sentimento de persistente pobreza. A nova “alvorada” (como lhe chama a BBC) ou as melhorias (que o FT identifica nas estatísticas do Banco Mundial) não escondem uma realidade: a tendência é positiva mas o número de pessoas em África a viver com menos de um euro por dia continuava, em 2010, nos 48,5%. E se a fortuna dos 55 mais ricos de África, de acordo com a Ventures, totaliza 145 mil milhões de dólares (110 mil milhões de euros), o fundador da Microsoft Bill Gates terá sozinho metade disso. com L.V.
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