“Leiloar 10 bi de barris já descobertos não está certo”, diz ex-diretor da Petrobras

sex, 27/09/2013 - 11:09 - Atualizado em 27/09/2013 - 12:19



Jornal GGN - Em seminário organizado pela ACB (Academia Brasileira de Ciências), Guilherme Estrella, diretor de Exploração e Produção da Petrobras no governo Lula e responsável pela descoberta do pré-sal afirmou que a realização do leilão do Campo de Libra, previsto para ocorrer em outubro "é um erro estratégico". "Libra são 10 bilhões de barris de petróleo já descobertos, é muito óleo. A nossa posição de reserva com o pré-sal é muito confortável pelos próximos 20 anos. Por que vai abrir Libra para a participação de empresas estrangeiras e interesses estrangeiros?", questionou.



O ex-diretor da Petrobras explica que a lei permite a contratação pelo governo de sua empresa para produzir esse petróleo. Segundo Estrella, o artigo 12º da nova lei do petróleo determina que a União, quando for o caso de preservar o interesse nacional e atender aos objetivos da política energética deve contratar a Petrobrás diretamente para a exploração e produção de petróleo, de gás natural e de outros hidrocarbonetos fluidos sob o regime de partilha de produção. Em resumo, em área estratégica, a Petrobras deverá ser contratada diretamente. “Se Libra, maior reserva de petróleo do mundo, não é estratégica, o que será uma área estratégica?”, questiona o ex-diretor da Petrobras.

Movimento Ocupa Petrobras tenta barrar leilão do pré-sal

Guilherme Estrella ressaltou a sensibilidade do tema sob o ponto de vista da geopolítica mundial. “Especialmente petróleo e gás natural, nós temos um foco numa série de questões que tocam a soberania das nações, ao conhecimento e ao desenvolvimento do conhecimento científico e tecnológico", frisou.

Estrella ressaltou que o consumo de energia é parâmetro de qualidade de vida, mas, ao mesmo tempo é fundamental na sustentação de hegemonias geopolíticas mundiais. "Nós, cidadãos do século 21, assistimos estarrecidos, há uns dez anos, à invasão de países soberanos para apropriação de reservas petrolíferas. Monarquias absolutamente medievais, autoritárias, opressoras são mantidas para sustentar como fonte de energia, fonte de petróleo e gás natural as potências hegemônicas mundiais", denunciou o responsável pela descoberta do pré-sal.

Concessões

Guilherme Estrella também criticou a 11ª rodada de licitação, realizada pela ANP (Agência Nacional do Petróleo) em maio, que entregou toda a faixa equatorial brasileira a empresas privadas. A área tem dois pontos importantes, um na costa do Maranhão e do Pará onde milhares de barris foram produzidos. O outro é na Guiana Francesa. Estrella relatou que a petroleira Total, da França, fez uma grande descoberta recentemente, valorizando enormemente essa faixa equatorial.

 "O que fez a ANP?", indagou. Ele relatou que toda a faixa equatorial foi licitada sob o regime de concessão, onde o petróleo descoberto pertence à empresa que descobre e não ao Estado brasileiro. "Em minha opinião foi outro erro estratégico". "Por quê? Dado o desconhecimento que nós tínhamos era mais adequado abrir apenas alguns blocos para que as empresas testassem a produtividade dessa área. Se as áreas se mantivessem com pouca produtividade, podíamos abrir mais blocos à licitação. Se alguma área se mostra com grande potencial, era hora de transformá-las em áreas estratégicas, o que está previsto no novo marco regulatório, que regula por partilha de produção", defendeu.

E, acrescentou que "essa área é voltada para o Atlântico Norte, para a bacia do Atlântico Norte, uma área extremamente sensível geopoliticamente. Se a área se transformar em grande produtora de petróleo, vai ser problema, porque esse petróleo vai alimentar as grandes potências consumidoras de petróleo", criticou.

Espionagem

As posições defendidas pelo ex-diretor da Petrobrás contra o leilão de Libra se somam às recentes denúncias veiculadas recentemente pela imprensa, de que a Petrobras foi espionada pela NSA (Agência de Segurança Nacional) dos EUA, para que as empresas americanas obtivessem vantagens na disputa pelo controle do pré-sal.

O fato é que, tanto o leilão como o episódio da espionagem gerou um amplo movimento dentro do país, chamado de “O petróleo é nosso”, organizado por sindicatos ligados aos trabalhadores petroleiros, centrais sindicais, movimentos sociais, personalidades e parlamentares, que exigem o cancelamento do leilão.

Desde o último dia 24, centenas de manifestantes estão acampados em frente ao edifício da Petrobras no Rio de Janeiro. Segundo o dirigente do Sindipetro/RJ (Sindicato dos Petroleiros), Edson Munhoz, o movimento “Ocupa Petrobras” deve permanecer no local até que o governo Dilma Rousseff cancele o leilão de Libras, marcado para o dia 21 de outubro.

Com informações da Associação dos Engenheiros da Petrobrás

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