Alckmin criou factoide e tentou sonegar informações sobre cartel

Por Zé Dirceu




Só agora, passado bem mais de um mês de criação da comissão e depois que integrantes do ‘Movimento TranSParência’ reclamaram que não recebem material sobre o cartel montado nos governos tucanos no setor metroferroviário, o governador Geraldo Alckmin acordou e prometeu entregar material e divulgar a ata das reuniões do grupo montado para investigar o cartel.

Vejam que a imprensa, os grandes jornalões não mudam: a principal reportagem de Política do Estadão nesta 2ª (ontem) foi sobre as queixas dos membros da comissão de que não recebem do governo Alckmin material sobre o cartel. A principal da Política Folha, ontem, também era a denúncia de que um consultor com um irmão na cúpula do governo passava a membros do cartel informações reservadas do metrô. Mas nenhum dos dois jornais deu o assunto na 1ª pagina. Nem uma chamadinha.



Mas, pressionado a respeito, principalmente pela cobrança da comissão por material para seu trabalho, o governador veio com a cantilena de sempre: disse ser “totalmente favorável” à publicidade dos documentos. “Não sei por que não foi publicado. Vai ser. O que não pode ser publicado é o que esteja sob sigilo de justiça, não que a gente não queira.”

“Pode publicar o que quiser”, finge o governador

“Hoje (2ª feira) cedo eu despachei com o Edson (Aparecido, secretário da Casa Civil) e falei que é liberdade total. Pode publicar o que quiser, acho até bom, para que as pessoas acompanhem o trabalho da comissão, que é uma comissão de alto nível, que não é do governo, para acompanhar o trabalho.” A comissão foi nomeada por ele…

O governador falou ainda sobre a denúncia da Folha a respeito do vazamento de informações reservadas e investimentos do metrô pelo atual secretário-executivo do Conselho Gestor de Parcerias Público-Privadas, Pedro Benvenuto, quando era gestor na Secretaria Estadual dos Transportes Metropolitanos, ao consultor externo, José Fagali Neto. Fagali Neto é irmão do ex-presidente do Metrô de São Paulo, José Jorge Fagali.

“Demos ao corregedor-geral Geral da Administração, dr. doutor Gustavo Húngaro, a ordem expressa para fazer a investigação completa, não ter nenhuma dúvida. Se tiver algum servidor público envolvido em irregularidade, ele será responsabilizado. Então, vamos aguardar”, disse Alckmin.

Executivo denunciado continua no cargo no governo

E o secretário estadual dos Transportes Metropolitanos, Jurandir Fernandes, também analisou a denúncia do vazamento para empresas do cartel de informações reservadas: “Eu não tenho controle. Nem eu, nem você, nem ninguém. O que a pessoa faz à noite, ou faz fim de semana, ou faz na hora do almoço, isso é da pessoa”.

Fernandes era exatamente secretario de Transportes Metropolitanos, em 2006, no 2º governo Alckmin, quando teria havido o vazamento. Ontem ele adiantou que Pedro Benvenuto fica onde está: firme no Conselho Gestor de Parcerias Público-Privadas, apesar da denúncia.

Como vocês veem, o governador Alckmin montou um factoide (o grupo de investigação) e enrolou a comissão, que precisou vir a público protestar para ele fazer essa encenação com o secretário Edson Aparecido… Alckmin segue sempre na mesma linha de que está a montagem do cartel, colaborando e que quer as investigações, mas seu comportamento com a comissão prova o contrário.

Os tucanos, com apoio a mídia – salvo as exceções de praxe -, estão fazendo de tudo para não virem a público as provas da participação deles na constituição do cartel comandado pela multinacional Siemens e por ela denunciado ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) para beneficiar-se em processos.

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