Até metade do ano passado, o estudante João Pedro Vital Brasil Wieland, de 16 anos, era um aluno comum. Como muitos garotos da sua idade, era ligado em tecnologia e admirador de Steve Jobs, o fundador e CEO da Apple que morreu em 2011. Hoje João Pedro é um desenvolvedor.
O estudante aproveitou o tempo livre durante a greve do Colégio de Aplicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) para aprender sozinho sobre algo que nunca ninguém tinha lhe ensinado: programar aplicativos para smartphones. O garoto criou um projeto e o inscreveu no 26º Prêmio Jovem Cientista. Venceu em primeiro lugar na categoria ensino médio, já apresentou seu trabalho em diversos congressos de inovação Brasil afora e agora torna o aplicativo realidade. Grande motivador de João Pedro,
o prêmio está com inscrições abertas até esta sexta-feira, dia 30, e recebe projetos de estudantes do ensino médio e do ensino superior, mestres e doutores.
Na edição de 2012, o tema do prêmio foi "Inovação Tecnológica no Esporte". João Pedro criou o projeto de um aplicativo para celular que controla os resultados de uma corrida no parque ou na esteira a partir do ritmo da música. Ele descobriu que os efeitos do exercício podem variar de acordo com as batidas sonoras, já que o atleta adequa seus movimentos. Com a ajuda de quatro amigos voluntários, ele analisou a velocidade atingida por cada um conforme a música. O aplicativo fornece ainda informações como a distância percorrida, o gasto calórico e o Índice de Massa Corporal (IMC).
Motivado pelo prêmio e apoiado em livros sobre programação disponíveis gratuitamente na internet, ele está desenvolvendo sozinho o aplicativo para celular, que em breve estará na Apple Store. "Para mim, o projeto era pequeno, mas o prêmio foi uma prova de que aquilo poderia servir para ajudar as pessoas", conta o adolescente. A nova linguagem que João Pedro aprendeu para inscrever o projeto no prêmio, a programação, fez o estudante começar a pensar o mundo de uma forma diferente. "Todas as pessoas do mundo deveriam aprender como programar, mesmo que não sigam essa área. É um novo jeito de se expressar", incentiva o garoto.
Energia solarO estudante de arquitetura Kaiodê Leonardo Biague, vencedor do 25º Prêmio Jovem Cientista na categoria ensino superior, em 2011, também passou a enxergar a realidade em que vive de uma forma diferente a partir do que aprendeu para criar seu projeto. Usuário diário de
transporte público na cidade de Contagem, em Minas Gerais, o estudante inventou uma proposta de estações de Sistemas de Transporte Rápido por Ônibus (BRT, do inglês "Bus Rapid Transit") que funcionam a partir da energia solar.
O incentivo para participar veio da empresa onde estagiava na época e de um professor do Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix. Depois do resultado do prêmio - cujo tema era "Cidades Sustentáveis" -, Kaiodê apresentou seu projeto à prefeitura da cidade, e sua bolsa de estudos fornecida pelo ProUni passou de 50% para 100%. Ele agora pretende estudar na Holanda pelo programa do governo federal Ciência sem Fronteiras, que facilita o ingresso de alunos com premiações acadêmicas. "O mais legal é que o projeto surgiu de forma totalmente autônoma e é ligado ao cotidiano, porque eu desejo um transporte melhor para a minha cidade", diz o estudante.
Na mesma edição de 2011, a vencedora da categoria ensino médio, Gabriela Person, inventou uma solução simples para algo que pouca gente presta atenção: as embalagens plásticas para mudas de plantas. No trabalho de conclusão do curso técnico em meio ambiente, na Escola Técnica Conselheiro Antônio Prado, em Valinhos, interior de São Paulo, a estudante criou um vaso à base de resíduos como casca de coco verde e bagaço da cana para embalar as mudas. O material leva menos tempo para se decompor e não suga a água da terra. Mas o que a deixou mais orgulhosa não foi o prêmio conquistado, e sim a repercussão de seu manifesto no dia da entrega, em Brasília: Gabriela surpreendeu ao aparecer com pinturas indígenas no rosto e a frase "Xingu vive", chamando a atenção para que o governo desistisse da construção da hidrelétrica de Belo Monte. "Essa foi uma parte bem importante de ganhar o prêmio. Comecei a ser cobrada para falar sobre o tema, me envolvi com movimentos sociais na cidade e hoje sou muito mais politizada do que era antes", conta.
Estudantes do ensino médio e do ensino superior, mestres e doutores podem inscrever seus projetos no 27º Prêmio Jovem Cientista até esta sexta-feira pelo site
www.jovemcientista.cnpq.br. A iniciativa propõe que os estudantes encontrem soluções para problemas ocasionados pela má gestão de recursos hídricos.
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