Quanto pior dormimos, pior comemos?

O meu sono por um hambúrguer?
Depois de uma noite sem pregar olho, só lhe apetece um gorduroso hambúrguer, uma pesada pizza ou um doce donut? Não admira. Um novo estudo avança que a privação de sono pode influenciar (negativamente…) as nossas escolhas alimentares.
Cereais, vegetais e outras comidas saudáveis. Segundo um estudo da Universidade de Berkley, esta não será, definitivamente, a ementa escolhida por alguém que não tenha dormido ou que tenha dormido mal. O departamento de psicologia desta universidade norte-americana investigou a relação entre o cérebro e as nossas decisões alimentares e o resultado estabelece uma relação concreta entre horas mal dormidas e a opção por alimentos de alto valor calórico e cuja ingestão está ligada ao aumento da obesidade, caso da fast food ou “comida de plástico”.
“Descobrimos que áreas do cérebro relativas à tomada de decisões são atenuadas pela privação de sono, enquanto zonas que controlam os estímulos e o desejo são amplificadas”, explica Matthew Walker, investigador de neurociência responsável pelo estudo.
Através de ressonâncias magnéticas, os investigadores examinaram os cérebros de 23 jovens adultos saudáveis. Compararam as diferenças com base numa noite bem dormida e numa sem dormir. O que descobriram foi um aumento da actividade da parte do cérebro que responde a recompensas. Os participantes na experiência preferiam comida altamente calórica quando privados do sono. Matthew Walker acrescenta que “a combinação da alteração da actividade cerebral ajuda a explicar porque é que pessoas que dormem menos tendem a ter excesso de peso”.
Alguns estudos tinham já demonstrado a ligação do sono ao apetite, mas o que este acrescenta é a descoberta de um mecanismo cerebral que explica as decisões alimentares.
“O que se demonstra nesta investigação é que nessas condições, a nossa parte mais racional fica perturbada e menos capaz de tomar decisões”, explicou-nos o nutricionista Nuno Borges, professor da Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação Universidade do Porto. Em simultâneo, adianta, “zonas mais primitivas passam a assumir maior preponderância ao escolhermos, por exemplo, o tipo de comida”. “Deste modo, ficamos mais propensos a escolher alimentos com mais gordura e mais açúcar que recompensam mais eficazmente o nosso cérebro”, resumiu o especialista, colaborador habitual do Life&Style e que já assinou um artigo abordando precisamente a rotina do quotidiano e a alimentação.
Numa das experiências deste estudo, os investigadores avaliaram a actividade cerebral e mediram o desejo dos participantes em relação a 80 imagens de comida (saudável e não saudável). Hambúrgueres, pizza e donuts foram os mais desejados depois de uma noite sem dormir.
Segundo Matthew Walker, estas descobertas indicam que “dormir o suficiente é um factor que pode ajudar a controlar o peso ao accionar os mecanismos cerebrais que nos direccionam para escolhas saudáveis”.

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