Preta Gil e o racismo seletivo

KIKO NOGUEIRA
A artista negra que se orgulha de ser negra aparece branca e magra numa campanha publicitária.
preta gil
“Ousada, vibrante e cheia de energia”, segundo a C&A
Preta Gil é um daqueles estranhos casos em que alguém é famoso por ser famoso. Uma espécie de Paris Hilton. Filha de Gilberto Gil, ela não canta bem, não dança, não atua, não nada. Mas é símbolo de alguma coisa.
Segundo a C&A, ela é “ousada, vibrante e cheia de energia”. Por isso, foi escolhida para apresentar uma nova coleção da marca para as chamadas mulheres plus size (manequim 46 a 56). Preta fez uma sessão de fotos com as roupas. A C&A postou-as em sua página no Facebook. E aí começaram as críticas.
O que se viu é o chamado “desastre de photoshop”. As imagens são tão maltratadas por designers até ser deformadas. É muito comum em capas de revistas. O efeito para Preta é que ela aparece com ombros de estivador — e também mais magra e mais branca.
Não é justo colocar a culpa toda na C&A. Num caso como esse, os retratos são aprovados pela modelo ou por seu empresário. Preta chegou a escrever no Twitter: “Minha nova coleção #specialforyou Chegou Hoje em algumas lojas @cea_brasil , amo esse look white !!! Meio Carminha hahhahaha”.
Tirante aí alguma histeria das redes sociais, é um clássico do racismo disfarçado e da padronização da beleza na publicidade. Não faz muito tempo, a Dove, que vende produtos de beleza com uma campanha cujo mote é “real beauty”, foi pilhada num email em que procurava gente para um teste: “Braços e pernas e face vão ser mostrados! É preciso ter a pele impecável. Belos corpos. Pele e cabelos perfeitos são obrigatórios!”
Preta, veja só, está brigando com o deputado Jair Bolsonaro. O STF está abrindo inquérito para apurar se Bolonaro foi racista com ela num programa de TV. Ela lhe perguntou como ele se sentiria se um filho namorasse uma negra. “Preta, não vou discutir promiscuidade com quem quer que seja. Eu não corro esse risco porque meus filhos foram muito bem educados e não viveram em ambiente promíscuo como lamentavelmente é o teu”, disse ele.
Na época, ela avisou que o processaria. “Não somente por mim e pela minha família que foi ofendida e caluniada por ele mas também por todos os Negros e Gays desse País”.
Bater no Bolsonaro é chutar cachorro morto. Preta Gil é a favor dos negros e dos obesos — mas, dependendo do cachê e do que fizerem no photoshop, ela conversa.

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