Assédio na CBN de Curitiba

Assédio sexual

Mariana Ceccon, ex-estagiária da rádio CBN Curitiba, acusa o jornalista Airton Cordeiro de assédio sexual. A OAB PR está dando apoio à estudante
por Nádia Lapa — publicado 30/08/2013 16:16, última modificação 30/08/2013 18:34

Mariana Ceccon

“Eu estou morrendo de tesão em você e ainda vou te montar, você vai ver."

Nojento, absolutamente nojento, em qualquer circunstância.

Fica pior ainda quando não existe qualquer interesse da parte que seria "montada".

É inimaginável pensar que, além de não haver qualquer reciprocidade, quem verbalizou a frase acima é seu chefe, com o triplo da sua idade, e falou tamanho absurdo durante o expediente.

Mariana Ceccon, então estagiária da rádio CBN em Curitiba, ouviu a agressão vinda do jornalista Airton Cordeiro, com quem trabalhava. Ela decidiu não deixar o assunto passar em branco; Airton já fazia comentários machistas, desrespeitosos e preconceituosos há algumas semanas. A estudante levou o assunto a outros funcionários da CBN. Com a falta de atitude da direção da empresa, José Wille, diretor de jornalismo, Marcos Tosi, chefe de reportagem e Álvaro Borba, âncora, pediram demissão. Os colegas chegaram a fazer uma greve. Na última terça-feira (27), Mariana também se desligou da rádio.

O caso tomou proporções enormes nas redes sociais. Mariana escreveu uma dolorosa carta em que relata os pormenores do acontecido. Dolorosa e corajosa: "E, por fim, é hora de tornar público porque é uma tentativa de me sentir menos humilhada e envergonhada. Está na hora de encarar as coisas de frente e assumir de uma vez por todas que sim isto aconteceu comigo. Aconteceu com várias mulheres e passar adiante a lição de que assédio sexual não é sobre sexo. É sobre poder".

Afastado da CBN em 18 de julho, o jornalista Airton Cordeiro, casado há cinquenta anos, disse ao G1 que vai processar a ex-estagiária. "Tenho pena dessa moça. A cartinha dela foi uma baixaria sem tamanho. Ela foi extremamente infeliz ao escrever esse texto".

Mariana foi infeliz, na verdade, todas as vezes em que teve que ouvir os impropérios ditos por Cordeiro. Ela relata como se sentiu em uma das ocasiões:

"Ele falou isso e eu não fiz nada. Não respondi nada. Por muito tempo eu fiquei me sentindo um lixo por causa disso. Quando tomei coragem de contar, todo mundo me dizia: “Nossa se fosse comigo eu tinha enfiado a mão na cara... Nossa e você não falou nada?”. Não, eu não falei nada. Eu sempre imaginei que se algo desse tipo acontecesse comigo eu enfiaria a mão na cara do sujeito. Mas não enfiei. Fui só vomitar. Não posso descrever ao certo o sentimento. Você se sente tão humilhado, tão lixo humano, que não arranja força alguma para responder. Você tem vontade de se esconder e se sente suja. Não quer falar pra ninguém".

A reação (ou não-reação, para alguns) de Mariana é muito comum. As mulheres são educadas para acharem que têm culpa quando são assediadas. Repensam a roupa que estão usando, se deram "brecha" para o comentário tosco. O assédio no trabalho é assustador, mas comentários abusivos são ouvidos nas ruas, com a desculpa de que são elogios, simples paquera (como se você fosse sair correndo atrás de um carro porque o motorista falou "vou chupar você todinha". Muito elogioso...).

No ambiente profissional, a situação se complica porque há muito em jogo. Incontáveis mulheres não denunciam os casos, nunca, porque precisam daquele salário e porque desconfiarão dela. É bastante comum que o assédio venha de homens bem mais velhos, com muito tempo de casa, ficando ainda mais difícil apontar a agressão. Pior: muita gente sabe que o abuso acontece, mas diminui a importância dele, como se fosse apenas uma brincadeira. Não é. É sério. Seríssimo. Destrói autoestima e atrapalha a carreira de muitas mulheres.

Justamente pela seriedade do assunto, Mariana recolheu forças e procurou a polícia. Registrou boletim de ocorrência e agora está sendo acompanhada pela Comissão de Estudos à Violência de Gênero da OAB Paraná, bem como pela Secretaria Municipal da Mulher de Curitiba.

Mariana diz estar recebendo muito apoio, fundamental para que ela siga em frente. Nem todas as mulheres assediadas contam com isso - e é preciso mudar este panorama. Se você conhece algum caso de assédio no trabalho, contra homens ou mulheres, denuncie. Não deixe o agressor continuar impune. Faça como Mariana.

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