Janio de Freitas: De hoje em diante




da Folha
Janio de Freitas
O sentimento de haver sido traído pelas escolhas de Dilma incide com força sobre integrantes influentes do PT
É menos por disciplina do que por perplexidade que a ala do PT chocada com as escolhas de Dilma Rousseff, para a Fazenda e a Agricultura, não exterioriza sua indignação. Mas as sugestões que acarreta são capazes de fazer ouvir, dito por voz de alta hierarquia, o desejo até de oposição frontal e total à política econômica do futuro governo.
Nem por isso é o caso de esperar reação extremada do PT, tanto mais que a tendência prevista de Lula é a de apaziguamento. Mas também há outra tendência, esta para mais adiante. É que o sentimento de haver sido traído incide com força, não sobre a militância petista em geral, voltada para questões cotidianas. Recai em integrantes influentes no partido e, para efeito maior dos ressentimentos, nas bancadas petistas da Câmara e do Senado. Nessas circunstâncias, a boa vontade e o espírito de luta enfraquecem. Ou se esvaem mesmo.

No PMDB, a noticiada entrega da Agricultura à líder do agronegócio, senadora Kátia Abreu, peemedebista por conveniência recente, obedece ao maneirismo típico do partido: "Calma, vamos aguardar as negociações para composição do ministério e ver o que nos caberá como integrantes do governo". O problema para Dilma é que o PMDB não espera pouco, ciente do papel maior que terá, no segundo mandato, com a menor dimensão das bancadas governistas na Câmara. O PMDB dá o vice-presidente, mas foi mais ignorado, ao serem escolhidas as primeiras indicações ministeriais, até do que o PSDB relacionado com Joaquim Levy.
O GESTO
A ameaça maior para componentes ainda não surgidos na corrupção da Petrobras não é Fernando Soares, ou Fernando Baiano. É Pedro Barusco, que já esclareceu, com toda a franqueza, receber comissão ou fazer extorsão na estatal desde 1996. Disse aos interrogadores muito mais do que era esperado. Portador de doença grave, em estado avançado, Barusco é temido pela possibilidade de que decida pelo grande gesto, por uma limpeza completa na Petrobras.
BENEFÍCIO
Advogado no caso Petrobras, Alberto Toron abordou questões importantes na entrevista a Mario Cesar Carvalho (Folha, 24.11). Uma delas, a proibição, pelo juiz Sérgio Moro, de que os delatores e depoentes citem políticos que receberam dinheiro ilegal. Toron diz que assim o juiz mantém o processo em sua Vara, sem risco de passá-lo à competência do Supremo. E argumenta: "Não se pode impedir a pessoa de mencionar quem está no circuito do crime".
A omissão pode resultar em um privilégio para o político não citado nesses depoimentos. Nada assegura que, já desfrutando da delação premiada ou do fim das suas inquirições, os sabedores do comprometimento de políticos os venham citar. Em princípio, não teriam vantagem alguma em fazê-lo. Melhor para os políticos.
ENDEREÇO
Por falar em Supremo, há pelo menos dois motivos para tornar conveniente um esclarecimento do ministro Luís Roberto Barroso à anulação, que fez, da licença dada a José Dirceu para tratar em São Paulo de assuntos pessoais. Já lembrado pelo advogado José Luis de Oliveira Lima, o ministro tornara pública a transferência, para o juiz da Vara de Execuções Penais, das decisões sobre o cumprimento das penas de réus na Ação 470. Foi o juiz de tal Vara quem concedeu a autorização.
Além disso, se a veloz reação do ministro Barroso deveu-se a não ser comunicado da autorização, e supondo-se a necessidade (duvidosa) de tal comunicação, a represália poderia ser ao juiz, talvez por uma advertência. Não a quem recebeu a autorização e está em regime que permite recebê-la.

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