Segunda denúncia: o fator Rodrigo Maia. Por Tereza Cruvinel
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Governistas e aliados de Temer seguem com a cantilena de que a segunda denúncia será mais facilmente rejeitada do que a primeira. Lorota. Embora existam problemas com a delação da JBS, em que se baseia parcialmente o libelo de Rodrigo Janot, há elementos novos no quadro. E um deles é Rodrigo Maia, o presidente da Câmara, que acaba de ter a mais séria trombada com o grupo palaciano desde a posse de Temer. Além da declaração bastante ostensiva contra o que chamou de "deslealdades" do PMDB e do ministros palacianos, Maia emitiu outros sinais de distanciamento do governo, que poderão influenciar sua conduta durante a tramitação da nova denúncia. Quem deixou o cavalo passar selado à sua frente uma vez, agora pode decidir-se a montá-lo.
Temer agora corre atrás de Rodrigo com panos quentes. Ele sabe que, por mais votos que tenha comprado, não teria conseguido a rejeição da primeira denúncia sem a colaboração decisiva dele como presidente da Câmara. Nesta quinta-feira, ia telefonar Rodrigo e convidá-lo para um jantar a dois no Jaburu, na semana que vem.
Na quarta-feira, Maia reclamou, com uma agressividade que nunca usara antes, da sabotagem do PMDB e do grupo palaciano ao crescimento de seu partido, o DEM, acusando diretamente os ministros Padilha e Moreira Franco. Os peemedebistas assediaram um deputado que já prometera filiar-se ao DEM, e o senador Romero Jucá anda trabalhando contra a pretensão de Maia, de prolongar a chamada janela partidária, tempo legal para a mudança de partido, que facilitaria a migração de deputados do PSB e de outros partidos para o DEM.
A turma de Temer, por seu turno, tem dito que estas queixas podem ser pretexto para um distanciamento que começou a ficar nítido, e que teria motivações eleitorais. Maia tem ampliado o diálogo com forças de oposição, inclusive à esquerda, onde tem bons interlocutores no PT e no PC do B. Recebeu no Planalto, durante a interinidade, artistas ligados ao movimento "Fora Temer". Reuniu-se com Renan Calheiros e Katia Abreu, dois peemedebistas dissidentes do governo.
Ele é candidato a governador do Rio e naturalmente sabe que só perde ficando colado a Temer. Mas pode haver mais que motivação eleitoreira em seus movimentos. Quando da primeira denúncia, ele refugou os apelos de empresários e de políticos amigos para que avançasse o sinal, articulando votos para a concessão da licença. Temer seria afastado, ele seria interino por seis meses, e com a inevitável condenação, teria que convocar a eleição indireta em 30 dias. Ele seria o candidato único, dentro de um acordão, e poderia até disputar a reeleição no cargo. Mas recuou e fez juras públicas de lealdade a Temer. Agora, a situação é a mesma, com a diferença de que a crise chegou a um patamar de maior gravidade. Já temos até o risco de golpe militar. Para setores da elite econômica, especialmente do setor produtivo, Temer perdeu qualquer serventia. Já Rodrigo Maia, na Presidência, seria um candidato da centro-direita mais vistoso que Doria, e com a ajuda da máquina, mais competitivo que Alckmin. E comprometido, é claro, com a mesma agenda neoliberal que inspirou o golpe contra Dilma.
Mesmo assim, a travessia com ele para a eleição de 2018 traria alguma normalidade ao país. Reduziria os solavancos e os ricos à ordem democrática.
Mas ele enfrentará, novamente, um dilema moral. Sua eleição indireta agora seria uma saída para a crise, não apenas uma ambição pessoal. Mas para ser ungido com esta percepção, ele terá que usar seu cargo e sua influência junto aos deputados para reunir os 342 votos necessários à aprovação da denúncia. Precisará superar o receio de ser chamado de traidor. Para traidor do traidor, quantos anos de perdão?
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