Fernando Brito: A beatificação dos canalhas

squash
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Lembram daquela cena comovente de Paulo Roberto Costa  de que, depois de passar anos embolsando propinas – que espalhou, generosamente, nas contas da mulher, filhas, genros e papagaios – a “família” converteu-o em “pecador arrependido”?
Pois bem, ontem  tivemos mais um capítulo desta novela, que eu tomo até a liberdade de sugerir ao “bispo” Edir Macedo como prova de que o malvado Satanás se insinua aos coitadinhos que têm ótimos salários, e eles – ai, que peninha – cedem às tentações de ganhar algumas dezeninhas de milhões de dólares.
Refiro-me à cândida matéria “Lesão por squash levou Pedro Barusco, hoje delator na Lava Jato, ao crime”, publicada pela Folha, na qual se descreve  que o ladrão de carreira, que canhava um belo salário e tinha os melhores planos de saúde, foi cedendo à propinagem por causa de um “acidente durante uma partida de squash sofrido em 1995 [que lhe]deixou sequelas permanentes”.

O squash, para quem não sabe, é um “primo” do tênis, muito apreciado por executivos, porque agressivo e veloz.
Imagine se um pobre usa como “desculpa” para assaltar uma “dor na coluna” que adquiriu carregando baldes de concreto numa obra de construção…
Claro que não se quer fazer pouco de uma bacia fraturada, nem do câncer ósseo que depois teria acometido Barusco e feito aumentar a “tabela de propina” cobrada.
Mas é impressionante como se transformam em heróis e mártires figuras que, como ele, roubaram perto de US$ 100 milhões de uma empresa que pertence ao povo brasileiro.
É dinheiro para fazer um hospital de traumato-ortopedia!
E o pior é que se empresta credibilidade ao que esta gente cínica diz, ao transformar o delator (de tudo?) premiado em oráculo da verdade.
Não é, é um bandido dos piores, porque roubou do Brasil inteiro.
E um homem doente, cheio de sofrimentos físicos e com dinheiro a rodo não iria descansar, fruir a vida que lhe restava? Não foi o caso. Barusco roubou na Petrobras e foi roubar na Sete Brasil, ajudando a arruinar o importante programa de construção de sondas que o Brasil precisa desenvolver.
A imprensa brasileira, com sua capacidade crítica focada em um só ponto – a derrubada do Governo – tem transformado estes ladravazes em pouco menos que santos, em homens a quem a Nação deve a “obra da moralização”.
Qual nada, são ladrões e ladros dos mais abjetos, porque nunca foram tangidos pela fome, pela pobreza, pela falta de escolaridade e oportunidade.
São canalhas, não santos.

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