Governo grego quer pôr fim à “anarquia” entre os canais de TV e está cobrando pagamento de 40 milhões de euros, de impostos atrasados

3/4/2015, Keep Talking Greece, Atenas
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
                            POSTADO POR CASTOR FILHO
A mídia-empresa na Grécia

Syriza e Alexis Tsipras
Depois de 26 anos de “anarquia” na paisagem das frequências de rádio e televisão e dos muitos “furos” na legislação existente, o novo governo grego inaugura o novo grande capítulo do uso legal de concessões de TV e rádio para comunicação pública na Grécia.

Na primeira fase de sua ação, o governo do SYRIZA está cobrando dívida existente de 40 milhões de euros, de impostos não pagos ao longo dos últimos quatro anos. Como segunda fase, virá um novo processo organizado de concorrência para distribuição das licenças para transmissão.

Essas iniciativas sem dúvida desencadearão uma guerra entre o governo e as maiores mídia-empresas, quase todas terrivelmente endividadas em bancos. E as relações entre o SYRIZA e os principais acionistas dos maiores veículos das mídia-empresas dominantes absolutamente nunca foram de muita simpatia mútua...

Na 3ª-feira (31/3/2015), o Ministro de Estado responsável pelas mídia-empresas, Nikos Pappas, publicou uma lista das dívidas de canais pagos e abertos de TV, de impostos devidos pelo uso das frequências (equivalente, por contrato, a 2% dos lucros das empresas).

●– 24 milhões de euros correspondem às dívidas de nove canais nacionais de televisão: ANTENNA, MEGA, STAR, ALPHA, SKAI, MAKEDONIA TV, CITY NEWS, CHANNEL 9, 902 LEFT (que pertenceu ao Partido Comunista, KKE).

●– 16 milhões de euros, são dívidas dos dois canais pagos de TV (OTE TV, Forthnet).

●– Os demais canais menores devem menos.

Os impostos deixaram de ser cobrados/pagos em 2011.

Nikos Pappas
Mas os canais de mídia empresa não dão sinais de querer pagar o que devem:

As redes entendem que nada têm a pagar, porque os partidos políticos, nos últimos anos, têm-se aproveitado de uma lei de 2002 que os autoriza a divulgar spots de propaganda eleitoral por televisão, sem nada pagar.[1]Significa que os impostos devidos foram cancelados por esse uso de tempo gratuito nas redes nacionais.

E então? Tivemos eleições em 2011, 2012, 2013 e 2014? E os canais gregos de TV costumavam pagar regularmente seus impostos nos anos entre 2002-2010? Por acaso tinham o bom hábito de pagar impostos antes de 2002?

Não sei e estou ocupado demais para pesquisar esse assunto. Mas, seja como for, alguns gregos estão vendo nessas iniciativas do partido SYRIZA um bem-vindo primeiro passo para pôr fim à mancebia entre interesses comerciais das mídia-empresas e interesses eleitoreiros (quando não também comerciais) dos legisladores que legislam sobre “mídia” e sobre “empresas”.

Alguns canais de TV já dizem ao governo que qualquer alteração no processo de distribuição das frequências fará aumentar o desemprego.
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Nota  dos tradutores

[1] Se alguém pensou “no Brasil também é assim”, esqueça. No Brasil é muito pior: na Grécia o golpe “midiático” é dado SEM lei; no Brasil, o golpe “midiático” é dado POR lei. O chamado horário “gratuito” de propaganda partidária no Brasil absolutamente NADA tem de gratuito, e o golpe já é legal desde 1995: A Lei nº 9.096/1995 estabelece que:

(...) as emissoras de rádio e televisão terão direito à compensação fiscal pela cedência do horário gratuito previsto nesta lei.


A mesma disposição, em idêntica redação, foi posteriormente reiterada pelo art. 99 da Lei nº 9.504/1997 (Lei Eleitoral). Dados da Receita Federal, relativos às eleições de 2010, revelam que a compensação fiscal dada às emissoras pela transmissão da propaganda eleitoral impôs aos cofres públicos um corte de R$ 850 milhões” (mais sobre isso em: Quem paga a conta do horário eleitoral  gratuito” e em Horário eleitoral gratuito é pago e sem transparência).


Os ventos de mudança (SYRIZA e seus eleitores) estão finalmente mudando o modo como as coisas costumavam ser feitas na Grécia. Redes de TV e outras empresas de mídia de massa têm de respeitar todas as leis de licenciamento e pagar imediatamente o que devem ao estado. A readmissão dos funcionários demitidos da ERT, organização estatal de comunicação de massa, e a reorganização da mesma ERT é muito bem-vindo primeiro passo. O fechamento daERT foi erro crasso de interferência privada em interesses do estado grego, pelo partido da “Nova Democracia”, exclusivamente porque a ERT recusou-se a fazer jornalismo “faixa branca”, de repetição de tudo que o líder de um dos partidos diga ou pense, no caso do partido de Samaras, que vivia de repetir a cantoria a favor da Troika e do 1%.
É preciso fazer mudanças radicais na indústria de mídia de massas, principalmente na legislação de propriedade das redes e das influências cruzadas entre as redes e dentro da cada TV, rede de rádio, e as redes de interesses dos barões da mídia-empresa privada. Claramente, essas são as forças que trabalham diariamente, sempre em nome dos interesses da Troika, e contra o voto da maioria do povo grego.
[Ellis says, 3/4/2015, nos “Comentários”, na mesma página]

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