Paulo Nogueira: Está reaberta a temporada de caça a Dirceu
Lembro uma vez em que o atacante Mario Balotelli, então no Manchester City, exibiu sob a camisa de seu clube uma camiseta que dizia o seguinte: “Por que sempre eu?”
Balotelli, um dos melhores atacantes do time, era sempre objeto de intensas críticas e futricas, a despeito do grande futebol que jogava.
Era como se ele tivesse sido escalado para ser o cara mau.
De certa forma, Zé Dirceu poderia também mostrar uma camiseta com as mesmas palavras: “Por que sempre eu?”
É impressionante a caça a Dirceu. Quando a mídia deseja fazer uma nova rodada de ataque ao PT, você pode esperar. Lá vem “denúncias” sobre Dirceu.
Foram tantos anos de construção pela imprensa de uma imagem de símbolo da corrupção que os donos das empresas de jornalismo sabem que publicar alguma nova história sobre ele vai acender chamas num certo público de estridente e insuperável anafalbetismo político.
A perseguição a Dirceu é feroz. O que você pode ponderar é que o PT jamais teve coragem de enfrentar a mídia, mesmo no tempo de Dirceu.
Numa extraordinária aberração, o PT no poder continuou a abastecer de mensalões os barões da imprensa por meio de mamatas como anúncios, financiamentos, compras de livros e por aí vai.
Em nenhum momento Lula e Dilma disseram: “Bem, chega de farra. 500 milhões por ano para a Globo me bater dia e noite? Chega. Mais 150 milhões por ano para o Silvio Santos encher a emissora de pessoas como Sheherazade e Gentili? Chega.”
E daí sucessivamente. Ah, baixar a zero é muita coisa? Discordo, mas aceito. Então, divida-se o mensalão dos barões por dois imediatamente.
Leio, nos porta-vozes dos patrões, que Dirceu não pode ter consultoria. Quer dizer, então: ele não pode trabalhar.
Vamos tentar entender. Dirceu não pode ser consultor. Mas pessoas saídas de governos do PSDB podem.
FHC colocou na estratégica agência reguladora de petróleo em sua administrar o genro, David Zylbersztayn. Claro que Zylbersztayn era um gênio, e portanto a imprensa não tinha razões para discutir se havia aí nepotismo.
Mas, terminado o casamento, acabou a carreira de Zylbersztayn na cúpula da administração do sogro camarada.
O que ele foi fazer? Foi ser consultor. De petróleo.
Isso pode.
A injustiça no caso de Dirceu é a diferença de tratamento que ele recebe. O que para outros não é notícia nem de rodapé para Dirceu vira manchete.
E vamos entender: para alguém como ele, ou a opção é ser consultor ou, simplesmente, nada.
Altos funcionários de administrações amigas da plutocracia sempre encontram propostas de emprego nas grandes empresas. A plutocracia se protege.
A Globo arrumou ocupação até para o filho de Joaquim Barbosa.
No circuito das palestras, as grandes corporações pagam cachês milionários para seus amigos. (Barbosa está vivendo disso, agora.)
Há uma rede de proteção formidável para os que ajudam o Brasil a ser o que é, um campeão de desigualdade.
Dirceu está do outro lado.
Por que quebrar o sigilo bancário dele? Para reforçar a caricata imagem que se fez dele.
É um crime jornalístico divulgar valores de consultorias antes de investigá-las. Qual seria o valor certo para os serviços prestados por Dirceu? Ou queriam que ele prestasse consultoria de graça?
Mais uma vez, está aberta a temporada de caça a Dirceu, e vale tudo.
Ele poderia repetir Balotelli, repito: “Por que sempre eu?”
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