Lidamos com canalhas. Mas agimos como anjos
Autor: Fernando Brito
Um dia, lidando com uma pessoa de mau-caráter, pedi a orientação de um renomado (e decentíssimo) advogado criminalista sobre ameaças que vinha ouvindo em telefonemas.
- Grave, disse ele.
Objetei que isso era coisa de bandido, que não faria isso.
Ele, com pesar mas com a experiência de quem tem de enfrentar a realidade, disse-me:
- Brito, não aja como santo quando lidar com bandidos.
Não é preciso dizer que não gravei e passei por alguns maus bocados por não ter feito isso.
A história veio-me à memória quando vi o Facebook do Palácio do Planalto ter de publicar um desmentido sobre Dilma Rousseff ter “decretado” luto oficial pela morte do brasileiro fuzilado na Indonésia por tráfico de drogas.
A atitude correta, do ponto de vista humano e diplomático de pedir a comutação da pena de morte de Marco Archer Cardoso Moreira foi transformada, por algum canalha, na exploração de termos decretado luto oficial por um traficante.
Um desrespeito, por incrível que pareça, até mesmo ao morto.
Mas o que esperar num país que endeusa bandidos e, assim, endeusa o banditismo, desde que ele forneça frutos políticos?
É só ver o que fazem com um bandido de terceira categoria, este Alberto Yousseff, que – mesmo depois de ter violado um acordo de delação premiada, o do Banestado – teve homologado um acordo onde se livra da cadeia e devolve (parte?) do que roubou.
Ninguém é parvo de dizer que não se roubou nos contratos de Paulo Roberto Costa, do qual Youssef era o “lavador”.
Um rato, que operava nos porões e de cumplicidades políticas, só pode falar das remessas que entregou, porque não tinha o poder de Costa.
Só a perda dos valores morais, como a que assolou os funcionários – é sempre bom lembrar que eram “de carreira” – da Petrobras elevados a cargos de chefia, é capaz de explicar fatos como o que o Planalto teve de, insolitamente, desmentir.
Porque, com a imprensa que temos, não seria surpresa que isso virasse “notícia” na grande imprensa.
Como virou a gravação fajuta de Eduardo Cunha para se “lavar” da Lava-Jato.
Lidamos com bandidos, mas – a começar pelo Ministério da Justiça, que não vai agir para descobrir quem fez esta nojeira e levá-lo aos tribunais – insistimos em agir como anjos.
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