Ousar e vencer ou entregar o Brasil aos mercados passivamente?
Saul Leblon
Silas Malafaia, pastor e radialista evangélico, de larga audiência no Rio de Janeiro, é um símbolo exclamativo daquilo que se convenciona chamar um estereótipo.
Certas características nele são tão acentuadas que mais se assemelha a um personagem de desenho animado.
Mas Malafaia é de verdade.
E personifica um dos mais buliçosos marcadores do extremismo conservador nos ciclos eleitorais brasileiros.
Malafaia é velho conhecido no ramo do palanque de rebanho.
Com a retórica adestrada na radiofonia da fé, o pastor evangélico se notabiliza como uma ferramenta implacável no exorcismo de gays e lésbicas; na condenação do aborto e da educação sexual; na demonização de petistas, esquerdistas e libertários em geral.
Não necessariamente nessa ordem, mas com essa vivacidade. Sempre em nome da pureza da sociedade, dos costumes e do que mais se engata a esse comboio.
Em 2012, já descendo a ladeira do seu moderado escrúpulo, na largada do 2º turno em São Paulo quando foi derrotado por Fernando Haddad, Serra importou o animador cirúrgico para reforçar a musculatura na hora do vale tudo na disputa.
Silas Malafaia desembarcou na cidade festejado então em manchete graúda do caderno de política da 'Folha de SP', em 10/10/2012.
Assim:
"Líder evangélico diz que vai 'arrebentar' candidato petista -- Silas Malafaia afirma que Haddad apoia ativistas gay".
Em entrevista ao diário dos Frias, de imoderados pendores tucanos, o bispo disse que Serra agradeceu o apoio recebido no primeiro turno, quando fez um vídeo em que pedia votos ao candidato do PSDB e ligava Haddad ao ‘kit anti-homofobia’.
Carimbado de "kit gay" pelos evangélicos, o material consistia de uma cartilha contra a homofobia encomendada pelo Ministério da Educação em 2011, para ser distribuída nas escolas na gestão Haddad.
A pressão da mídia e evangélicos obrigou o governo a recuar. "O Haddad já está marcado pelos evangélicos como o candidato do 'kit gay'. Não vamos dar moleza a ele", fuzilou Malafaia, após o encontro com Serra.
Arrebentar a tolerância, de um lado, para resgatar o voto da ‘pureza’ de outro; esse, o fundamento regressivo representado pela restauração do filtro religioso na política.
A especialidade de Silas Malafaia está prestes a ser direcionado agora no apoio à candidata do PSB.
O bispo anunciou que apoiará Marina Silva no provável 2º turno das eleições presidenciais deste ano, embora a tenha trocado por Serra, em 2010, quando Marina sugeriu um plebiscito sobre o aborto.
Malafaia é um estereótipo.
Como qualquer marcador, cola onde encontra aderência.
A adesão a Marina foi revelada em blog de uma revista semanal, ela também um marcador sanguíneo dos pecados incluídos na lista de Malafaia.
No 1º escrutínio, ’para marcar posição’, informa a revista, o voto do influente bispo terá outro dono: o pastor e presidenciável Everaldo, do PSC, -como ele e Marina, também da Assembleia de Deus, e cujo bordão eleitoral é ‘vou privatizar tudo’.
Na decisão para valer, Malafaia vai de Marina.
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