Paulo “não se larga um líder ferido na estrada” de Souza denunciado por dar o golpe das babás; aliado de Aloysio e Serra agora vai falar?



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por Luiz Carlos Azenha - no VIOMUNDO - 17 de maio de 2016 às 00h26
Paulo Vieira de Souza tornou-se conhecido dos brasileiros durante um dos debates eleitorais entre Dilma Rousseff e José Serra, na campanha presidencial de 2010.
Acossada por denúncias contra sua assessora Erenice, Dilma disparou: “Fico indignada com a questão da Erenice. Agora, acho que você também deveria responder sobre Paulo Vieira de Souza, seu assessor, que fugiu com 4 milhões de reais de sua campanha”.
Serra fez que não era com ele. No dia seguinte, tentou emplacar a ideia de que nem conhecia Paulo Vieira de Souza: “Eu não sei quem é o Paulo Preto. Nunca ouvi falar. Ele foi um factoide criado para que vocês fiquem perguntando”.

Vieira de Souza reagiu imediatamente. Em entrevista à Folha, disse: “Não somos amigos, mas ele me conhece muito bem. Até por uma questão de satisfação ao País, ele tem de responder. Não tem atitude minha que não tenha sido informada a ele”.
Rapidamente, o atual chanceler brasileiro lembrou-se do assessor:  “A acusação contra ele é injusta. Não houve desvio de dinheiro de campanha por parte de ninguém, nem do Paulo Souza. Ele é considerado uma pessoa muito competente e ganhou até o prêmio de Engenheiro do Ano (em 2009). Nunca recebi nenhuma acusação a respeito dele durante sua atuação no governo.”
O GOLPE DAS BABÁS
Se de fato não recebeu, deveria ter recebido.
O Ministério Público de São Paulo acaba de abrir Ação Penal Pública Incondicionada na qual Paulo Vieira de Souza é acusado de dar o chamado “golpe das babás” durante a construção do Rodoanel, obra que é a menina dos olhos do tucanato paulista e que, junto com a ampliação das marginais do Tietê, figurou com destaque na campanha eleitoral de Serra em 2010.
Paulo trabalhou em cargos de confiança na Desenvolvimento Rodoviário SA, a Dersa, a partir de 2005. Primeiro foi diretor de Relações Institucionais e, em seguida, de Engenharia.
Segundo o promotor Cássio Conserino, autor da denúncia, entre março de 2009 e abril de 2010 Paulo Vieira montou um esquema fradulento através do qual poderia embolsar até R$ 813.967,03, em valores não atualizados.
Eram indenizações fictícias, concedidas a pessoas que não tinham sido afetadas pelas obras do Rodoanel e que mesmo assim receberam apartamentos da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano, a CDHU.
Paulo Vieira de Souza teria convocado, direta ou indiretamente, os beneficiários das indenizações fraudulentas, inclusive babás que prestavam serviços à sua família.
Uma das empregadas trabalhava para Tatiana, filha dele, também denunciada pelo MP.
De acordo com a denúncia, os laranjas recebiam pequenas quantias — em geral R$ 300 — para garantir a ocupação dos imóveis, mas o beneficiário final da falcatrua seria o próprio diretor da Dersa.
Não é o primeiro crime atribuído oficialmente a ele.
Dois meses depois de ser demitido da Dersa, logo após a inauguração do Rodoanel — quando Serra deixou o cargo de governador para concorrer ao Planalto — Paulo Vieira de Souza foi preso, acusado de receptação de um bracelete de brilhantes avaliado em R$ 18 mil.
À época, ele se defendeu dizendo que tinha sido vítima de “armação”.
O fato é que Paulo Vieira de Souza comprou a jóia de um desconhecido e, ao tentar determinar se era verdadeira numa loja do shopping Iguatemi, em São Paulo, o gerente descobriu que o bracelete havia sido furtado da própria loja, no mês anterior.
DA COZINHA DE TUCANOS GRAÚDOS
Vieira de Souza mora num duplex com dez vagas de garagem num bairro nobre de São Paulo, a Vila Nova Conceição.
A informação de que ele teria sumido com dinheiro da campanha de Serra foi publicada pela revista IstoÉ e pode ter sido resultado da troca de bicadas no ninho tucano em época pré-eleitoral.
Em geral, vazamentos como o que resultaram na reportagem fazem parte de acertos de conta internos.
Por causa daquela denúncia, a que Dilma aproveitou no debate eleitoral, o ex-diretor da Dersa acionou o então vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge, o deputado federal José Anibal e um dos tesoureiros oficiais do partido, Evandro Losacco, todos mencionados como fontes pela IstoÉ.
Coube a Alberto Goldman, ao assumir o governo em 2010, demitir Paulo. “Parece que ninguém consegue controlá-lo. Julga-se o Super-Homem”, escreveu o ex-governador em e-mail que enviou a Serra.
No ninho tucano, o maior aliado de Paulo Vieira de Souza é o senador Aloysio Nunes Ferreira. Segundo a IstoÉ, familiares de Paulo doaram R$ 300 mil a Aloysio para que ele quitasse um apartamento no Higienópolis.
Atribui-se à amizade com Aloysio o fato de que Paulo foi assessor especial da Presidência durante todo o segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso, cuidando do programa Brasil Empreendedor Rural. O hoje senador reconheceu publicamente que é amigo de Paulo Vieira há 20 anos.
O período em que o engenheiro exerceu maior poder na Dersa coincide com aquele em que Serra foi governador de São Paulo e Aloysio, chefe da Casa Civil.
Paulo Vieira de Souza foi o responsável pela medição e pagamento de empreiteiras em projetos que movimentaram R$ 7 bilhões, em dinheiro da época.
Por causa do Rodoanel, ele “caiu” na Operação Castelo de Areia, que investigou as propinas da Camargo Corrêa em obras de todo o Brasil.
Segundo relatório da Polícia Federal, Vieira teria recebido ao menos R$ 1,6 milhão em propinas só da Camargo, uma das empreiteiras do Rodoanel.
“A mim nunca ninguém entregou absolutamente nada. O lote da Camargo Corrêa na obra era de 700 milhões de reais e a obra foi entregue no prazo, só com 6,52% de acréscimo. É o menor aditivo que já houve em obra pública no Brasil”, defendeu-se.
Aloysio saiu em defesa do amigo. “O Rodoanel teve apenas um aditivo de 5% de seu valor total, um recorde para os padrões do Brasil”.
Uma das filhas de Paulo Vieira, a advogada Priscila Arana de Souza,  foi acusada por parlamentares do PT de tráfico de influência: ela advogou para empreiteiras que tinham negócios com a Dersa desde 2006, ou seja, ao mesmo tempo em que o pai exercia cargo-chave na empresa.
Tanto Priscila como a esposa de Paulo Vieira de Souza, Ruth, tiveram funcionárias domésticas envolvidas no “golpe das babás”, mas o promotor concluiu que não havia provas para denunciá-las formalmente.
O ex-diretor da Dersa vai responder ao processo em liberdade.
Resta saber se alguém conseguirá controlá-lo, especialmente com o amigo José Serra num cargo-chave do governo federal.
Era a preocupação manifestada pelo ex-governador Alberto Goldman, que acabou confirmada pela frase que o próprio Paulo Vieira de Souza disse à Folha, depois que José Serra pretendeu desconhecê-lo: “Não se larga um líder ferido na estrada em troca de nada. Não cometam esse erro”.
Abaixo, os documentos da denúncia do Rodoanel e os relatórios da Castelo de Areia nos quais Paulo Vieira de Souza é citado:

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